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O primeiro álbum solo de Izzy Stradlin, gravado com o Ju Ju Hounds

Cansado das grandes turnês com o Guns N' Roses, guitarrista resolveu buscar vida mais simples e satisfatória com nova banda

Izzy Stradlin foi um dos fundadores do Guns N’ Roses e é o membro original menos conectado com a banda. E não é um fenômeno dos últimos tempos, com Duff McKagan e Slash tendo voltado a tocar com Axl Rose enquanto o próprio Stradlin recusou a oferta para reotrnar.

Desde o início dos anos 1990, quando o guitarrista deixou o grupo, deu para perceber que ele não queria saber do que havia construído até então. Ainda que promissora, sua carreira solo junto do projeto que batizou de Ju Ju Hounds não soava muito como o que já havia feito até então.

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Izzy Stradlin fora do Guns N’ Roses

A saída do Guns N’ Roses aconteceu em 1991, mas a decisão de mudar veio bem antes, em 1989. Foi nesse período em que Stradlin tornou-se o primeiro da banda a ficar sóbrio.

O fato de ser o único em plena consciência enquanto o resto dos colegas se afundava em drogas e confusão tornou a convivência cada vez mais complicada.

Some a isso o fato de que o músico nunca foi afeito ao estrelato e se incomodava com o tamanho que o GN’R tinha naquela época, com shows sempre lotados e muita mídia em seu entorno. Ele mesmo deixou isso claro em uma entrevista de 1992, transcrita pelo Ultimate Classic Rock.

“Acho que em 1989 eu caí na real. Eu falei: ‘tenho que mudar, isso não está mais funcionando para mim’. Houve um ponto em 1991 em que pensava muito em cair fora. Tive o suficiente. Estava absolutamente fora de controle. Vou fazer algo diferente. Tem mais coisas além disso. Tem que ter mais.”

E foi assim que, a partir de 1992, Izzy Stradlin decidiu buscar a paz ao lado do Ju Ju Hounds.

A vida mais leve

Além de Izzy Stradlin nos vocais e guitarra, a banda que ficou conhecida como Ju Ju Hounds era formada por Rick Richards (guitarra), Jimmy Ashhurst (baixo) e Charlie “Chalo” Quintana (bateria). Não eram músicos famosos, mas tinham a experiência necessária para ajudar o ex-Guns a atingir o resultado desejado.

Isso pode ser conferido no disco “Izzy Stradlin and the Ju Ju Hounds”, lançado em 13 de outubro de 1992. Quem esperava algo na linha do Guns N’ Roses, vindo de um dos fundadores da banda, provavelmente se surpreendeu ao ouvir um álbum altamente calcado no blues rock, com pitadas de reggae e uma veia punk rock.

As principais influências do novo grupo eram bandas como o Faces e a fase setentista dos Rolling Stones, o que fica evidente pelas participações especiais. O tecladista Ian McLagan, do Faces e antecessor Small Faces, toca em quase metade do álbum. Uma dessas faixas é um cover de “Take a Look at the Guy”, original de Ronnie Wood em carreira solo, que tem participação do próprio músico dos Stones além do pianista Nicky Hopkins, colaborador regular da lendária banda.

“Shuffle It All” e “Somebody Knockin'” foram lançadas como singles, mas não emplacaram. O álbum em si, apesar de contar com toda a aparelhagem publicitária da Geffen Records (a mesma gravadora do Guns N’ Roses), não estourou. Mas não importava: depois de anos de adrenalina, Izzy Stradlin estava feliz com seu trabalho.

Em fuga da perfeição

O Izzy Stradlin and the Ju Ju Hounds saiu em turnê para divulgar o álbum e os shows eram, obviamente, bem menores do que as grandes apresentações do Guns N’ Roses em estádios. Stradlin estava completamente satisfeito em estar fora desses grandes “circos” e admitiu que até mesmo a falta de pressão para que tudo fosse perfeito colaborou para o bom resultado artístico.

Lembrado pela postura reclusa e pouco comunicativa nos tempos de GN’R, Izzy assumiu o papel de frontman e passou a distribuir sorrisos e interações, apesar de “apanhar” um pouco da função no início. Em conversa com a Kerrang!, em 1992, ele falou sobre a falta de perfeição da banda no palco como uma coisa boa.

“A forma é totalmente livre. Nós quebramos coisas, fazemos extensões. Se eu entrar atrasado em um verso ou perdê-lo, nós vamos só olhar uns para os outros e Rick vai seguir, fazer um solo ou algo assim.
É realmente bom. Quando você está no momento, o que acontecer, aconteceu. Na noite passada, eu não conseguia ver o setlist e comecei duas músicas erradas. Nós podemos soar mal!”

Outro detalhe importante dos shows do Ju Ju Hounds era a ausência total de músicas do Guns N’ Roses no set. Covers dos Stones, Faces e outras bandas mais antigas eram presença certa toda noite, mas nada da antiga banda do frontman, para o estranhamento de muita gente.

Questionado sobre isso, Stradlin brincava, mas explicava o motivo, além de alfinetar levemente os antigos colegas.

“Na Austrália, tinha um cara em todas as fileiras da frente gritando ‘Dust N’ Bones’ ou algo assim, e eu tocava um acorde a cada vez que eles gritavam, falando ‘o quê?’ Entendo que as pessoas queiram ouvir aquelas coisas – nós chegamos a ensaiar algumas músicas – mas no GN’R, eu não tive singles. Eu compus ‘Patience’, mas não cantei nela. Nós apenas percebemos que… ‘f*da-se’. Não sinto falta das músicas do Guns N’ Roses porque o que temos agora é melhor – melhor composto, melhor para se tocar.”

Volta ao Guns N’ Roses e fim do Ju Ju Hounds

Izzy e os Ju Ju Hounds excursionaram divulgando o novo disco de outubro de 1992 até abril de 1993. Foram cerca de 80 apresentações pela América do Norte, Europa, Oceania e Ásia.

Em maio de 1993, porém, o guitarrista recebeu um chamado inesperado do Guns N’ Roses. Enquanto seu substituto Gilby Clarke se recuperava de uma lesão na mão após um acidente de moto, ele tocou na Europa e Oriente Médio com sua antiga banda.

Ao todo foram apenas 5 shows, feitos como uma espécie de favor aos ex-colegas. Axl Rose reconheceu o esforço na continuação da turnê e dedicou “Double Talkin’ Jive”, música composta por Stradlin, ao guitarrista original do grupo.

Em setembro, ele voltou com os Ju Ju Hounds, para o que seriam os 4 últimos shows da banda, no Japão. Em 1993, seria lançado apenas no país asiático o EP “Izzy Stradlin & The Ju Ju Hounds Live”, gravado em um show em Dublin, na Irlanda, em 1992.

Acabou assim o grupo. Izzy Stradlin optou por se afastar da música e dedicar-se a outras paixões, como o automobilismo.

O guitarrista só voltaria a lançar material inédito em 1998, com o álbum “117º”, que começou a ser gravado em 1995. Já totalmente em carreira solo, o disco teve a participação do agora ex-baixista do Guns N’ Roses, Duff McKagan, e do guitarrista do Ju Ju Hounds, Rick Richards. As faixas “Memphis, Tennessee” e “Good Enough” foram gravadas por seu antigo grupo de apoio, ainda nas sessões originais de 1992.

A partir de então, Izzy manteve sua carreira solo de forma independente, mas sem uma rotina de lançamentos. O álbum mais recente, “Wave of Heat”, saiu em 2010. Alguns singles foram liberados em 2012 e 2016.

Avesso a grandes turnês desde então, Stradlin fez parte do embrião do Velvet Revolver, ao lado de McKagan e Slash, mas decidiu não entrar para a banda. Ele também fez alguns shows esporádicos o Guns N’ Roses, incluindo uma sequência de 13 apresentações em 2006, mas não fez parte da reunião ocorrida em 2016.

Izzy Straldin and the Ju Ju Hounds – “Izzy Straldin and the Ju Ju Hounds”

Faixas:

  1. Somebody Knockin’
  2. Pressure Drop (cover do The Maytals)
  3. Time Gone By
  4. Shuffle It All
  5. Bucket o’ Trouble
  6. Train Tracks
  7. How Will It Go
  8. Cuttin’ the Rug
  9. Take a Look at the Guy (cover de Ron Wood)
  10. Come on Now Inside (faixa oculta: Morning Tea)

Músicos:

  • Izzy Stradlin (vocal, guitarra, gaita, percussão)
  • Rick Richards (guitarra solo, percussão, backing vocals)
  • Jimmy Ashhurst (baixo, backing vocals)
  • Charlie “Chalo” Quintana (bateria, percussão, backing vocals)

Músicos adicionais:

  • Ian McLagan (Hammond B-3 nas faixas 1, 4, 5, 7, 8 e 9; piano na faixa 9)
  • Craig Ross (guitarra na faixa 1)
  • Doni Gray (bateria e harmonia vocal na faixa 10)
  • Nicky Hopkins (piano na faixa 10)
  • Ron Wood (guitarra e vocais na faixa 9)
  • Marc Ford (guitarra na faixa 1; não creditado)

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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