Crítica: “Adão Negro” é uma bagunça que funciona e muda patamar da DC

Filme estrelado por Dwayne “The Rock” Johnson é fraco e segue ideia infantil e batida, mas efetiva em muitos sentidos

Quinze anos se passaram desde que o prometido filme “Adão Negro”, estrelado por ninguém menos que Dwayne “The Rock” Johnson, foi anunciado. Expectativas à parte, o protagonista chegou a dizer que o personagem mudaria de vez a hierarquia de poder do universo cinematográfico da DC Comics. Dito e feito.

Como filme, “Adão Negro” é de mediano para baixo. Traz um roteiro piegas de super-herói que qualquer criança saberia fazer. Ainda assim, funciona.

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Se você não se apegar aos detalhes patéticos da trama e focar no entretenimento, este longa se torna grande por oferecer diversão e carisma. Como resultado, recoloca os estúdios da DC Comics na briga com a Marvel.

Trama batida

Como em todo bom filme de origem de super-herói, começamos conhecendo a história do personagem. Lá atrás, antes de Cristo, Adão Negro era Teth-Adam, um escravo que recebe os famosos poderes de “Shazam!”, mas é aprisionado após usá-los como instrumento de sua vingança pessoal.

Milhares de anos depois, Adão Negro é despertado e volta para sua terra, Kahndaq. Porém, ela está invadida por uma força militar chamada Intergangue, que busca extrair os recursos naturais do local. Logo, o personagem desce toda sua fúria para combater tais pessoas e a Sociedade da Justiça é enviada para, então, conter tudo isso.

Isso não é um spoiler, mas se você assistiu “Batman vs. Superman: A Origem da Justiça”, sabe muito bem para onde se desenrola a história. Ou seja: o esqueleto de roteiro é muito fácil de se identificar. Os trailers também mostram tudo isso: origem, volta ao mundo, briga com outros heróis, união entre todos contra um vilão em comum e redenção. Seguido à risca.

Roteiro fraco, mas…

Os roteiristas Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani parecem ter pouca noção de como chegar em todas as ideias que eles têm. Isso faz com que sejamos obrigados a lidar com artimanhas que, apesar de clássicas, ficam toscas quando mal feitas. É o caso daqui. E dá pena, pois grandes ideias são pinceladas e poderiam ser melhor abordadas, mas a trama se torna uma bagunça completa.

Entra aí a culpa ou mérito do diretor Jaume Collet-Serra (“A Orfã”). O cineasta parece não ligar para a fraqueza do roteiro e faz seu longa assumir a bagunça que é. É quase como se gritasse: “temos que colocar o The Rock de herói, descendo a porrada em outros heróis, e é esse o filme; a história não interessa, coloquem apenas umas coisinhas que façam o filme andar e vamos para a próxima cena de luta”.

Inacreditavelmente, funciona. O filme oferece entretenimento puro e de qualidade.

Por mais que o roteiro seja tosco, a ação está em primeiro lugar o tempo todo. São 124 minutos de porrada bem feita entre heróis, figurinos impecáveis que parecem ter saído direto das HQs e, para surpresa de todos, um grau de violência que deixaria a Marvel de cabelo em pé – não à toa, originalmente seria indicado apenas para maiores de 18 anos.

O trabalho técnico também se destaca. “Adão Negro” é primoroso em seus efeitos especiais: o CGI é belíssimo e até as incansáveis cenas de câmera lenta ao estilo Zack Snyder (“300”) funcionam. Assim como a forte trilha sonora colocada nos momentos certos (apesar de também surgir nos errados) e os planos de fotografia que fazem de The Rock um Deus em tela.

O nome é The Rock

O coração do filme, aliás, é Dwayne Johnson. Dá para sentir que o ex-astro de WWE está praticamente realizando um sonho. Como contraponto, seu Adão Negro não tem profundidade ou composição. É apenas The Rock sendo The Rock – com carisma, um afinado tempo de comédia, músculos impressionantes e só. Para esta obra, não precisa de muito mais que isso.

Outro bom nome de destaque é o do eterno James Bond, Pierce Brosnan, como Senhor Destino. Além do belo figurino e das fantásticas cenas de ação que envolvem seus poderes, o ator imprime uma imponente sabedoria ao personagem. Também há o Gavião Negro (Aldis Hodge), que traz em tela brutalidade e força na presença que dualiza muito bem com Adão Negro.

Infelizmente, o mesmo não se aplica aos outros dois membros da Sociedade da Justiça, Esmaga-Átomo (Noah Centineo) e Ciclone (Quintessa Swindell). Ambos estão ali para fazer volume e piadas que não funcionam muito.

Nova hierarquia da DC

A DC Comics tem em mãos o seu momento “maré de sorte”. As duas obras de James Gunn – o filme “O Esquadrão Suícida” e a série “O Pacificador” – além do excelente “The Batman” de Matt Reeves já haviam elevado a DC a outro nível.

Seu universo compartilhado ainda continua uma bagunça, contudo, por conta das produções ruins que a concorrente Marvel tem entregue, o público encontrou na DC um respiro. “Adão Negro” é a prova disso: um filme fraco, que não leva ninguém a lugar nenhum nem traz qualquer profundidade a seus personagens, ainda assim dá certo. É a sorte batendo.

The Rock certamente será o responsável por isso. É visível o efeito que o carismático astro já trouxe – o que já se nota na cena pós-créditos. Certamente os fãs estão bem mais empolgados com a DC na atualidade do que com a concorrente.

“Adão Negro” já está em cartaz em todos os cinemas. É entretenimento grande garantido – sua carteira não vai nem sentir.

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Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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