“O fim de um momento e o começo do resto de nossas vidas” foi como Corey Taylor definiu “The End, So Far”, refutando quaisquer teorias de que o novo álbum do Slipknot seria o último. Segundo o vocalista, o grupo não cogita de se separar.
Talvez devesse. Não uma separação em definitivo, mas temporária. “Fechar para balanço”, tal qual uma empresa — que banda não é? —, para conferência e avaliação de seus estoques, já bastaria.
O motivo? Passados vinte e sete anos desde sua formação em Des Moines, Iowa, o Slipknot finalmente lançou um disco ruim.
Bom, pelo menos para os padrões da banda.
Peso clandestino
A expectativa que se cria em relação a um novo álbum do Slipknot é sempre gigantesca. Embora esteja perto de completar três décadas de existência, sua discografia é enxuta — apenas seis álbuns de estúdio antecedem “The End, So Far” — e pode-se dizer que os intervalos entre um trabalho e outro são muito maiores do que os fãs gostariam que fosse.
Lógico que nesses ínterins, quase todos os seus integrantes se entregam a projetos paralelos que, mesmo que não carreguem o peso do nome ou o atrativo das máscaras, servem de paliativo e mantêm acesa uma esperança.
Numa de suas muitas declarações a respeito de “The End, So Far” — esta muito antes de o nome ser divulgado oficialmente —, Corey Taylor prometeu um álbum tão pesado quanto “Vol. 3: The Subliminal Verses” (2004), que contém os hits “Duality”, “Vermilion” e “Before I Forget”.
Bem, peso o novo disco tem… mas um peso clandestino, forçado e empregado em músicas que à medida que parecem seguir a receita cuja eficácia foi comprovada em meados dos anos 2000 se banham nas águas do autoplágio. Momentos de brilho não faltam — como você lerá a seguir —, mas a atmosfera é opaca e, arrisco dizer, beira o burocrático, o protocolar.
São partes de guitarra e conduções de bateria que lembram as de outras músicas, temáticas previamente abordadas e exploradas nas letras e, estruturalmente, a fórmula de versos cantados em gutural seguidos de refrães com vocal limpo revela-se ao mesmo tempo previsível e gasta.
Faixa a faixa
Mas o imprevisível também dá as caras, e logo de entrada, com “Adderall”, balada que abre o trabalho. Sim, “The End, So Far” começa com uma música lenta. Hipocondríacos de plantão de certo sabem que o nome é o mesmo do remédio usado para o tratamento do TDAH e da narcolepsia; e provavelmente acharão irônico tal música soar como se estivesse meio dormindo e meio acordada.
Se funciona ou não, fica a gosto do freguês. Fato é que a curiosa faixa melhora a cada nova ouvida.
Na sequência, “The Dying Song (Time to Sing)” lança mão do fator sing-along típico das melhores músicas do Slipknot, num refrão capaz de incendiar plateias. Surpreendentemente direto ao ponto, o primeiro single liberado do álbum acaba sendo um de seus destaques.
“The Chapeltown Rag”, à qual já havíamos sido apresentados, se beneficiaria de uma edição mais rigorosa. Isso vale para “Medicine for the Dead”, não obstante o principal problema dessa seja a capacidade indelével de quebrar o clima. Nada que se compare a “Yen”, porém: a terceira e mais recente prévia de “The End, So Far” é mais chata do que quando chove na praia. De longe o single mais fraco da carreira do Slipknot.
A dobradinha “Hivemind” e “Warranty” materializa as definições dadas parágrafos acima. Pesadas? Sim. Previsíveis? Também; principalmente a primeira, já que a segunda consegue surpreender na seção suspensa que antecipa o quebra-quebra da reta final.
“Acidic”. A quantidade de fontes na qual a faixa 8 bebe é grande demais para ser listada. Ouve-se algo de Deftones e também de Alice in Chains. O grande mérito, contudo, reside nos vocais livres de efeitos de Corey, que aqui entrega uma de suas melhores interpretações, e no breve lembrete de que o Slipknot possui nas figuras de Jim Root e Mick Thomson dois exímios solistas.
Por falar em lembretes, ao longo do álbum temos vários da presença do DJ e futuro papai Sid Wilson, mas a mais evidente talvez seja “Heirloom”, na qual os scratches não apenas compõem o alicerce da música, como assumem a dianteira na mixagem. O bastão do volume é passado na música seguinte, “H377”, na qual os percussionistas Shawn Crahan e Michael Pfaff descem a porrada na grosseria, deixando para o batera Jay Weinberg a missão de surpreender mais pela técnica do que pela força aplicada.
Se a penúltima faixa, “De Sade”, não é uma homenagem ao famoso Marquês das letras e do erotismo, eu sou um astronauta. Mas a verdade é que a letra pouco importa dado o show a parte que Root e Thomson dão ao se alternarem entre base e solo como faziam os grandes Glenn Tipton e K.K. Downing nos áureos tempos do Judas Priest.
O encerramento com “Finale” é carregado de tanta melancolia que por um segundo — ou vários — nos perguntamos se a refuta de Corey Taylor quanto ao fim do Slipknot é mesmo real.
Fan service
No mundo dos filmes e das séries chama-se “fan service” a utilização de meios para divertir, entreter ou atrair o público. Talvez essa seja uma boa definição para “The End, So Far”.
O Slipknot, pela primeira vez, numa bolha de segurança, num piloto automático, tratando sua obra como uma cartela de bingo a ser fechada ou uma Tele Sena. Os requisitos são preenchidos, mas o prêmio está longe de ser aquela bolada.
O “fim”, na acepção de Corey Taylor, se faz necessário. E que “o resto de nossas vidas” — do Slipknot, no caso — mostre que os equívocos se limitam tão somente a este disco.
Ouça “The End, So Far” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!
Slipknot – “Tne End, So Far”
- Adderall
- The Dying Song (Time To Sing)
- The Chapeltown Rag
- Yen
- Hivemind
- Warranty
- Medicine For The Dead
- Acidic
- Heirloom
- H377
- De Sade
- Finale
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talvez não seja o fim da banda, mas começo a achar que seja o último trabalho com Corey Taylor
Me desculpa, mas discordo de tudo que você disse. Esse álbum me soou muito diferente de trabalhos anteriores da banda, mas ainda sendo o Slipknot.
Sinceramente, esse álbum entrou para os meus favoritos da banda e um dos melhores do ano.
Olá, Igor Miranda. Tudo bem?
Cara, com todo respeito, permita-me discordar do seu texto, pois não condiz com a realidade.
Não conhecia o seu trabalho, dentro em breve pretendo assistir seus vídeos no youtube, mas na resenha em questão me parece que você não conhece o Slipknot com propriedade para afirmar tais sentenças como: “O Slipknot, pela primeira vez, numa bolha de segurança, num piloto automático, tratando sua obra como uma cartela de bingo a ser fechada ou uma Tele Sena.”
Eu não sou um fã assíduo do Slipknot, mas eu consigo garantir que esse álbum está longe de ser uma zona de segurança pra eles, muito menos um fan service como você aduz.
Oi, Matheus. O texto não é meu, mas sim do colaborador Marcelo Vieira. O nome dele consta na assinatura do artigo. O site leva meu nome, mas tornou-se um veículo editorial de porte considerável, portanto, há textos de outras pessoas por aqui.
De qualquer modo, você comentou discordar do texto, mas citou apenas uma frase da qual discorda. Seria interessante expor do que mais você discorda, até para que o real autor possa vir e interagir com todos.
Abs!