Como surgiu a capa de “Holy Diver”, clássico de Dio

Capa trouxe a estreia do mascote Murray, que por muitos anos foi o equivalente ao Eddie, do Iron Maiden, na banda solo de Ronnie James Dio

Apesar de não ser tão agressiva visualmente – especialmente quando o assunto é heavy metal – a capa de “Holy Diver”, debut do Dio, causou certas apreensões à época do lançamento do álbum. Afinal de contas, não é todo dia que se chega ao mercado um produtor cuja embalagem traz um demônio jogando um padre acorrentado ao mar.

Em entrevista publicada pela Revolver Magazine após sua morte, em 2010, Ronnie James Dio explicou como chegou à imagem e a importância dela para sua carreira.

“Sou do tempo em que as capas eram importantes. Parte da beleza dos álbuns era que você não apenas ouvia o que estava dentro, mas também passava um tempo examinando a arte antes mesmo de tirar o plástico.

Sempre preferi ilustrações. Depois do Elf (banda de Dio pré-Rainbow), a maioria dos discos que fiz usaram artes nas capas. Isso porque acho que você deve dar valor ao dinheiro das pessoas. Não acho que uma foto de caras com cabelos espetados seja suficiente. Depende do seu ego.”

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Ronnie também fez questão de dar o justo crédito à sua ex-esposa e empresária até o fim da vida, Wendy.

“Ela, mais do que qualquer pessoa, desenvolveu o conceito. Achamos que as pessoas poderiam pensar que era muito controverso. Nada mais é exagerado, mas isso foi em 1983, sabe?”

Mercado em polvorosa

Obviamente, era de se esperar que o mercado ficasse em polvorosa. Mas Dio entende que saiu vitorioso na perspectiva que colocou.

“Lembro que na gravadora perguntaram ‘Você tem certeza que quer fazer isso?’ Mas a ideia era reverter a questão de ‘Como é que você tem um monstro afogando um padre?’ para ‘Como você sabe que não é um padre afogando um monstro?’ E acho que isso foi provado nos últimos anos com todos os problemas que tivemos na Igreja Católica. Em retrospectiva, gosto de pensar que estávamos certos sobre quem colocamos na água.”

Agressividade e Murray

A renderização inicial da capa do “Holy Diver” foi de Gene Hunter, mas a ilustração que realmente aparece no produto final foi o trabalho de Randy Berrett. A versão inicial, de acordo com Ronnie, era bem mais agressiva.

“Gene era um músico que conhecíamos que desenhava muito bem, então pedimos a ele que tentasse para nós. Originalmente, a arte tinha o padre debaixo d’água, pendurado de cabeça para baixo e acorrentado a uma cruz. Eventualmente, decidimos que a cruz era um pouco demais, mas Gene fez um ótimo trabalho com ela e Randy fez a renderização final.”

A capa também trouxe à vida – ao menos de forma ficcional – Murray, que se tornaria a mascote da banda e apareceria em ilustrações posteriores.

“Assim como o Iron Maiden tem o Eddie, nós temos Murray. E se você vai ter um monstro, tem que dar a ele um nome bobo, personalizar de forma bem-humorada. Mas mesmo no início, não queríamos mostrar Murray da cintura para baixo. Pensamos que talvez isso entregaria muito – em mais de uma maneira.”

Dio e “Holy Diver”

“Holy Diver” é o álbum mais bem-sucedido de toda a carreira de Ronnie James Dio – que além dos vocais gravou os teclados. Ganhou disco de platina nos Estados Unidos e de prata na Inglaterra, onde obteve sua melhor posição em paradas, o 13º lugar. Completavam a formação o guitarrista Vivian Campbell, o baixista Jimmy Bain e o baterista Vinny Appice.

Uma edição super deluxe foi lançada no dia 8 de junho, quando Ronnie completaria 80 anos. A caixa contará com 4 CDs, incluindo o trabalho original em duas versões: uma com nova mixagem de Joe Barresi (Tool, Queens of the Stone Age, Slipknot) e a remasterização da edição de 1983.

Completam o pacote o registro inédito de um show em Fresno, Califórnia, durante a turnê do disco, além de mais um disco trazendo outtakes, singles e b-sides. A mix de Barresi também ganhará versão em vinil duplo. 

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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