Crítica: “A Fera”, com Idris Elba, entrega com honra o prometido

Novo longa protagonizado pelo astro britânico busca apresentar embate intenso entre homem e fera; apesar de irritações roteirísticas, faz bem a lição de casa

Trabalhar com arte é sempre navegar por pensamentos confusos. Eu mesmo, como roteirista, acredito que algumas leis devem ser seguidas. Já como diretor, aplaudo sempre a coragem e ousadia de surpreender — mesmo que dê errado. Porém, no filme “A Fera”, tanto o roteirista segue à risca as minhas crenças quanto o diretor surpreende pela coragem criativa.

Velho enredo, novo CGI

Em determinado momento da obra, a personagem Meredith (Iyana Halley) aparece usando uma camiseta de “Jurassic Park”. Não é só uma referência qualquer: o novo filme do diretor Baltasar Kormákur claramente segue o mesmo velho e conhecido enredo que fez a fama do longa de dinossauros em 1993.

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A história começa quando Dr. Nate Samuels (Idris Elba), após perder a esposa para o câncer, decide tentar se reconectar com as filhas Norah (Leah Jeffries) e Meredith (Iyana Halley) as levando para conhecer a terra natal de sua mãe, na África. Mas durante um passeio pela Savana, guiado pelo melhor amigo e defensor dos animais Martin (Sharlto Copley), o grupo descobre uma aterrorizante situação: um leão agressivo está matando pessoas por vingança uma vez que os caçadores acabaram com a família dele.

Deste modo, a família fica presa em um jipe na savana africana, com um terrível e sanguinário leão que está louco pra almoçá-los. Uma premissa simples e usada à exaustão no cinema, mas é incrível como funciona quando bem feita.

“A Fera” não é perfeito, mas quando é prometida uma assustadora história de 93 minutos envolvendo um leão, eu quero ver um leão na tela – e o filme nos dá isso. Diferente de algumas produções recentes como “Jurassic World: Domínio”, este novo longa prioriza o animal e o terror e suspense que ele causa.

Graças à constante evolução do CGI, a ideia pode ser desenvolvida de forma satisfatória nesse sentido. Claro que não estamos falando de um orçamento ao estilo “O Rei Leão” de 2019, mas os animais são extraordinários em tela.

E é importante lembrar que nem sempre foi assim na história do cinema: em 1996, Michael Douglas e Val Kilmer nos trouxeram o clássico “A Sombra e a Escuridão”, que contava a história real de um massacre causado por leões na África. Como não havia a tecnologia de hoje naqueles tempos, a obra focava mais na realidade e suspense das cenas do que em ação.

Na atualidade, um longa como “A Fera” pode ter a cena de ação que quiser. Algumas parecem até irreais, mas são todas bem-feitas. Divertem e assustam.

Roteiro hábil, mas…

O roteiro de “A Fera” é escrito por Ryan Engle (Rampage: Destruição Total), baseado na história de Jaime Primak Sullivan. Engle mostrou-se hábil ao entender que deveria entregar mesmo uma obra com uma fera descontrolada. Porém, irrita ao colocar um drama familiar em meio à situação.

Em determinada cena, o felino está descontrolado querendo devorar todo mundo, mas uma das filhas “encontra tempo” para questionar as atitudes familiar do pai. Coisa de novela. Não caberia ali.

A ideia da crítica em torno dos caçadores ilegais como argumento para as atitudes assassinas do leão foi bem trabalhada. Só é um pouco rasa e mostra um vício de roteiro cansativo: por vezes, parecem tentar “Oscarizar” uma premissa. No fim das contas, apenas queremos ver Idris Elba sobrevivendo a um leão gigantesco em CGI. Qualquer tópico fora disso pode ser tratado em um diálogo exclusivo de uma cena e está bom.

“A Fera”, um filme honroso

Por sua vez, a coragem e ousadia de Baltasar Kormákur (“Evereste”) merece ser aplaudida. O diretor entendeu a situação qual o filme lida e resolveu se divertir com ela – sem medo de assumir a famosa “mentira da ação”, a criatividade voa. Somos presenteados, inclusive, com uma extraordinária batalha final entre Idris Elba e o leão.

A atuação de Elba também deve ser destacada. Tudo o que ele faz é bom. O ator tem carisma e qualidade absurdos em seu trabalho. Como sempre digo: se você torce para o herói sair vivo, é porque o intérprete está fazendo algo certo.

“A Fera” estreia nos cinemas nesta quinta-feira (11) e no caminho de volta para casa, após a sessão do filme para a imprensa, fiz um exercício mental que mostra o peso desta recomendação: é sábado à noite e após um lindo jantar com minha amada, decidimos nos divertir vendo um filme no cinema. As opções são “Jurassic World: Domínio”, “Thor: Amor e Trovão” e “A Fera”. A resposta? “A Fera”, sem pensar duas vezes.

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Raphael Christensen
Raphael Christensenhttp://www.igormiranda.com.br
Ator, Diretor, Editor e Roteirista Formado após passagem pelo Teatro Escola Macunaíma e Escola de Atores Wolf Maya em SP. Formado em especialização de Teatro Russo com foco no autor Anton Tchekhov pelo Núcleo Experimental em SP. Há 10 anos na profissão, principalmente no teatro e internet com projetos próprios.

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