Kreator mistura música e política — como faz desde sempre — no álbum “Hate Über Alles”

Novo trabalho prioriza integridade artística da banda de thrash metal, bem como sua necessidade de explorar diferentes facetas da identidade musical

A expectativa pelo novo álbum do Kreator já seria natural tendo em vista a alta qualidade de quase tudo que a banda alemã ofereceu na carreira. Mas dois fatores contribuíram ainda mais com a ansiedade dos fãs:

  1. A recente sequência de trabalhos inspirados quando nos atemos especificamente à última década;
  2. Os conhecidos posicionamentos políticos e sociais das letras do vocalista e guitarrista Mille Petrozza em frente à situação atual do mundo.

Tendo isso em vista, se você é do tipo que acha que música e política não se misturam, é bem provável que não irá gostar do conteúdo de “Hate Über Alles”, 15º trabalho de inéditas do quarteto que chega pela Nuclear Blast e tem edição nacional pela Shinigami Records. Porém, também é um fato que você simplesmente não conhece a carreira do grupo, que sempre deixou claro seus posicionamentos, mesmo em épocas que o metal ficou mais em cima do muro que gato madrugador.

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Em termos sonoros, o play funciona como uma continuação de seus antecessores diretos, “Phantom Antichrist” (2012) e “Gods of Violence” (2017). O thrash tipicamente germânico se mistura a passagens melódicas e uma produção de acordo com os tempos atuais. Após a intro “Sergio Corbucci is Dead”, a pancadaria come solta na arrasadora faixa-título, acompanhada pela forte “Killer of Jesus” logo a seguir.

Outros destaques vão para a sequência “Become Immortal”, “Conquer And Destroy” e “Midnight Sun”, com elementos que remetem ao lado mais tradicional do heavy metal sem descaracterizar a proposta da banda. A última citada conta com participação da cantora Sofia Portanet, que possui uma carreira local voltada ao gótico – influência com a qual Mille flertou fortemente em “Endorama” (1999) – e new wave.

Talvez alguns fãs que esperam um thrash mais puro possam reprovar algumas passagens elaboradas. Contudo, o Kreator nunca foi uma banda que se preocupou com reações negativas, priorizando sua integridade artística e a necessidade de explorar diferentes facetas da identidade musical.

Neste ponto, “Hate Über Alles” se mostra vencedor e digno de figurar na discografia do grupo. Mas reforçamos o aviso: o dedo é colocado na ferida várias vezes durante a audição. Pois como disse Mille em postagem no seu Instagram dia 22 de junho de 2020, enquanto o mundo era consumido por um vírus apoiado pelo negacionismo:

“Caso você se pergunte porque não calo a boca e só canto, saiba que venho da escola dos primórdios do thrash metal/hardcore, quando era normal um artista erguer a voz contra o racismo e injustiça social. Então, caso se sinta ofendido, esteja livre para deixar de me seguir e procurar uma nova banda favorita, pois obviamente você não entendeu o que é o Kreator! Tenha um bom dia. Paz. #kreator #alwaysantifascist #nazipunksfuckoff #metal #thrashmetal #pma #peace”

“Hate Über Alles” marca a estreia em estúdio do baixista Frédéric Leclercq, conhecido pelo trabalho anterior com o Dragonforce. Sami Yli-Sirniö (guitarra) e Jürgen “Ventor” Reil (bateria) completam a formação. Arthur Rizk (Power Trip, Cavalera Conspiracy, Ghostmane e Turnstile) ficou a cargo da produção do material no Hansa Studios, em Berlim. A capa é assinada pelo artista Eliran Kantor (Testament, Thy Art Is Murder, Helloween).

Ouça “Hate Über Alles” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Kreator – “Hate Über Alles”

  1. Sergio Corbucci Is Dead
  2. Hate Über Alles
  3. Killer of Jesus
  4. Crush the Tyrants
  5. Strongest of the Strong
  6. Become Immortal
  7. Conquer and Destroy
  8. Midnight Sun
  9. Demonic Future
  10. Pride Comes Before the Fall
  11. Dying Planet

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

2 COMENTÁRIOS

  1. Finalmente, alguém que concorda comigo que esse álbum é ótimo. Para mim, o Kreator experimentar com diferentes sonoridades nem sempre deu bons resultados, mas nesse caso eles acertaram muito! O álbum é mais melódico, porém não perde o peso em nenhum momento. Muitas pessoas tem dito que o disco é tedioso e criticado que da metade do álbum pra frente ele perde a força, porém eu discordo muito. “Midnight Sun” e “Dying Planet” tem sido muito criticadas, mas são minhas músicas favoritas depois de “Killer of Jesus” e “Strongest of the Strong”. Ótimo review!

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