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O disco de estreia dos Eagles, que iniciou uma carreira vitoriosa

Trabalho que apresentou os singles “Take it Easy”, “Witchy Woman” e “Peaceful Easy Feeling” fez o sucesso necessário para dar sequência a grupo que se tornaria potência da música americana

Embora no Brasil o nome seja unicamente associado ao hit “Hotel California”, os Eagles, desde seu primeiro álbum, entregaram um trabalho consistente e nada moroso.

Independentemente da formação — e olha que foram várias —, eles nunca deixaram de combinar habilidades de composição, musicalidade extrema e soberbas harmonias vocais.

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Um bando de migrantes

Apesar de nenhum dos integrantes originais dos Eagles ter nascido na Califórnia, a banda tornou-se o símbolo inconteste do country rock da Costa Oeste dos Estados Unidos nos anos 1970.

Tudo começou quando o guitarrista e vocalista Glenn Frey (do Michigan) e o baterista e vocalista Don Henley (do Texas) se conheceram na banda de apoio da cantora Linda Ronstadt. Após o recrutamento do baixista e ex-Poco Randy Meisner (de Nebraska) e do multi-instrumentista e ex-Flying Burrito Brothers Bernie Leadon (de San Diego), pediram a bênção a Ronstadt e formaram os Eagles.

A formação coincidiu com a criação da Asylum Records por David Geffen em 1971, selo do qual o grupo seria um dos primeiros contratados, ao lado de Jo Jo Gunne, Jackson Browne, David Blue, Judee Sill e a própria Ronstadt.

Após lhe pagar um adiantamento de 125 mil dólares, Geffen enviou o quarteto para o Colorado, onde ficaram até novembro daquele ano, para compor e adquirir experiência de palco. A volta para Los Angeles durou pouco mais de três meses: em fevereiro de 1972, os quatro foram enviados para Londres para gravar seu disco de estreia sob a batuta de um produtor dos mais renomados.

Londres na secura

Partiu de Glenn Frey a ideia de ter Glyn Johns assinando a produção do disco de estreia dos Eagles. O currículo do britânico era impressionante — The Who, Rolling Stones, Small Faces, Led Zeppelin, Steve Miller Band e Beatles, entre outros — e Frey, que buscava uma sonoridade mais voltada para o rock do que para o country acreditava que Johns era o sujeito certo para tocar o barco.

Só que logo de saída o produtor sacou as fissuras que posteriormente resultariam na primeira baixa da formação original, com a saída de Bernie Leadon em 1976: se Frey queria tocar rock, Leadon se sentia muito mais à vontade no country. Inclusive, seu instrumento principal não era a guitarra e sim o banjo.

A aparente falta de direcionamento não chamou a atenção de Glyn Johns, que só demonstrou interesse ao ouvir os quatro cantando juntos na balada “Take the Devil”, escrita por Randy Meisner. Em sua autobiografia “Sound Man” (2014), o produtor revelou:

“Acho que eu não ficava tão empolgado com uma banda desde o Led Zeppelin.”

Enxergando o lado country como o de maior potencial no grupo, Johns tentou moldar o repertório conforme essa visão. Nas três semanas de gravação no Olympic Studios — no qual o The Who havia gravado “Who’s Next” (1971) e o Queen gravaria “A Night at the Opera” (1975) —, o produtor instituiu uma política de abstemia forçada que não agradou a todos. Eram os anos 1970; mais do que recreação, álcool e drogas eram encarados como parte do processo criativo.

Nove faixas foram gravadas em Londres, mas como apenas uma, “Witchy Woman”, trazia Don Henley no vocal principal, David Geffen exigiu que a banda fizesse mais uma para o baterista cantar no disco. Daí “Nightingale” ter sido finalizada às pressas em Los Angeles, sob protestos de Johns, que se sentiu passado para trás e foi veementemente contra a inclusão da faixa no LP.

Manda quem pode

David Geffen também deu as cartas em relação à capa do disco. Originalmente, Gary Burden a havia pensado numa ao estilo gatefold, que se desdobraria revelando uma fotografia da banda, virada no Peyote, no Parque Nacional de Joshua Tree, na Califórnia, tirada por Henry Diltz.

O chefão fez as contas e barrou a ideia. Na fábrica, as capas foram dobradas e coladas fazendo com que o grupo ficasse de cabeça para baixo no verso. Ao ser questionado sobre o porquê da decisão no documentário “History of the Eagles” (2013), Geffen apenas dá de ombros.

O encarte completo, com os músicos na posição correta; a metade de baixo da arte é dobrada no LP, portanto, os músicos surgem de ponta cabeça

A dobradinha que sustenta

Três músicas do repertório do disco entraram nas paradas americanas. A supracitada “Witchy Woman” foi a que chegou mais alto no ranking, atingindo a nona posição, mas foram as outras duas, curiosamente de autoria de terceiros, que tiveram efeito mais prolongado e definitivo na carreira dos Eagles.

“Take it Easy” foi escrita por Jackson Browne, que era vizinho de Glenn Frey na época em que estava compondo material para seu disco de estreia. Ao sugerir a frase “It’s a girl, my lord, in a flatbed Ford, slowing down to take a look at me”, Frey deu o verso que faltava para finalizar a música. Como forma de gratidão, Browne dividiu os créditos da composição e presentou os Eagles com o que se tornaria o primeiro single da banda.

Já “Peaceful Easy Feeling” é do cantor Jack Tempchin, um chegado de Browne que logo se tornaria parceiro de composição de Frey. A inspiração veio de um dia em que Tempchin avistou uma mulher com brincos que lhe chamaram a atenção. A partir dos versos iniciais “I like the way your sparkling earrings lay / Against your skin, it’s so brown”, a canção se desenvolve numa ode à paz de espírito.

Apenas o sucesso necessário

Lançado no dia 1º de junho de 1972, o álbum “Eagles” estreou na 102ª colocação na Billboard. Seis semanas mais tarde, já ocupava o 22º lugar.

Curiosamente, seriam necessárias quase quatro décadas até que a Recording Industry Association of America (RIAA) computasse um milhão de cópias vendidas e presenteasse a banda com o disco de platina. Ainda assim, a resposta aos singles foi positiva o suficiente para que David Geffen exigisse um novo LP o quanto antes, acelerando a caminhada até a vitória — e os problemas internos — do grupo.

Eagles – “Eagles”

  • Lançado em 1º de junho de 1972 pela Asylum Records
  • Produzido por Glyn Johns

Faixas:

  1. Take It Easy
  2. Witchy Woman
  3. Chug All Night
  4. Most of Us Are Sad
  5. Nightingale
  6. Train Leaves Here This Morning
  7. Take the Devil
  8. Earlybird
  9. Peaceful Easy Feeling
  10. Tryin’

Músicos:

  • Glenn Frey (vocal, guitarra, slide guitar)
  • Don Henley (vocal, bateria)
  • Bernie Leadon (vocal, guitarra, banjo)
  • Randy Meisner (vocal, baixo)

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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