Pertenço a uma minoria de fãs que recebeu Gabriel Keyes, o quarto vocalista a entrar no Crashdïet em 22 anos de banda, de braços abertos e a um grupo ainda mais restrito que aprovou sua estreia em disco, “Rust” (2019).
De lá para cá, o quarteto — completado por Martin Sweet (guitarra), Peter London (baixo) e o recentemente afastado Eric Young (bateria) — penou até convencer seus adeptos da qualidade de sua escolha. Ao vivo, Keyes custou a engrenar, mas só louco para hoje em dia duvidar de seu gabarito de frontman.
Ainda assim, “Automaton”, sexto álbum de estúdio do Crashdïet e segundo com Gabriel cantando, parece dotado do compromisso não só de convencer, mas de impressionar e calar algumas bocas.
Longe das amarras da italiana Frontiers Records depois de mais de uma década, os suecos, agora pertencentes ao cast da Crusader/Golden Robot, libertam-se também dos grilhões do sleaze que consagrou a banda em meados dos anos 2000. O resultado é um trabalho em que a maturidade não subtrai a energia, e os clichês não mais ditam as regras.
Dito isso, “Automaton” mostra o Crashdïet abrindo o leque de possibilidades. Temos acenos ao hard clássico (“Shine On”), ao pop rock radiofônico/MTV de outros tempos (“Darker Minds”) e ao metal moderno nas pesadas “Dead Crusade” e “Shell Shock”. E é um refrão melhor do que o outro: não à toa, “No Man’s Land” e “Together Whatever”, que possuem talvez os mais potentes do repertório, terem sido escolhidas para single e videoclipe. O de “Unbroken” também é animal.
Com Michael Starr (Steel Panther) dividindo os encargos vocais e uma atmosfera oitentista em razão dos teclados de ambiência, “Powerline” é um dos destaques e talvez seja o melhor exemplo da produção cristalina do álbum; um upgrade em relação a “Rust”. Mesmo a supostamente autobiográfica “Resurrection of the Damned”, na qual até o baixo parece embebido em distorção e Keyes canta no limite de seu registro, soa sob controle.
Na derradeira “I Can’t Move On (Without You)”, a faceta acústica pouco ou nunca explorada é exibida numa balada cuja letra resvala na obviedade isenta de erros daqueles que amam, mas não possuem musculatura intelectual para escrever versos fora da caixa. No trecho final, a banda ataca com tudo, em nítida tentativa de conferir um final apoteótico ao que, para mim, já é seu terceiro melhor trabalho.
Com as pedras que lhes foram atiradas, o Crashdïet construiu seu castelo. E do alto de uma das torres observa seus detratores rendidos à receita vitoriosa de seu novo trabalho. Agora só falta deixarem de ser antivax, conforme informado pela produtora que traria seu show para o Brasil.
Ouça “Automaton” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
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Crashdïet – “Automaton”
- Automaton
- Together Whatever
- Shine On
- No Man’s Land
- Darker Minds
- Dead Crusade
- Powerline (com Michael Starr)
- Resurrection of the Damned (Explicit)
- We Die Hard
- Shell Shock
- Unbroken
- I Can’t Move On (Without You)
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