Quando os primeiros acordes de “Knockin’ on Heaven’s Door” ecoam em qualquer ambiente, seja na versão de Bob Dylan ou em alguma de suas inúmeras regravações, pessoas sentem aquele reflexo involuntário de ligar a luz do celular e balançar o aparelho acima da cabeça ao ritmo da canção. É uma daquelas baladas capazes de fazer qualquer multidão emocionada cantar junto.
Entretanto, muita gente não sabe as origens desse clássico.
Filme de bangue-bangue
O cineasta Sam Peckinpah, diretor de “Meu Ódio Será Tua Herança”, estava aprontando uma versão cinematográfica da vida do fora-da-lei Billy the Kid e seu confronto com o xerife Pat Garrett.
Apesar da escalação de Kris Kristofferson para o papel do bandido, Bob Dylan ainda fez um apelo inusitado para participar do filme, como contou o roteirista Rudy Wurlitzer à Arthur Magazine (via Far Out Magazine):
“Quando Dylan ouviu que um filme sobre Billy the Kid estava sendo feito, ele veio à minha casa no Lower East Side querendo saber se tinha como ele fazer parte. Ele disse que tinha sido Billy the Kid numa vida passada. Depois que escrevi um papel para ele, nós voamos para Durango onde ele poderia conhecer Sam.”
Sam Peckinpah na época estava sofrendo bastante com alcoolismo, o que o tornava volátil. Ele também nunca havia ouvido falar de Dylan e fez questão de dizer isso ao cantor e compositor quando se conheceram pela primeira vez.
Entretanto, o diretor ficou cativado quando ouviu “Pat Garrett & Billy the Kid”, canção-tema composta por Dylan para o filme. Tão cativado que ele fez questão de gravar uma performance dela para poder ouvir durante o processo. Dylan agora fazia parte do elenco e estava encarregado de compor mais canções para a trilha sonora.
Durante as idas e vindas das filmagens, Dylan foi acometido por uma inspiração, como detalhou Wurlitzer à Far Out Magazine:
“Uma noite, quando estávamos voltando para Durango da Cidade do México – esqueço porque estávamos lá –, ele disse que queria compor algo para a cena da morte de Slim Pickens, que era pra ser filmada no dia seguinte. Ele rabiscou algo no avião e mostrou pra mim verso por verso e quando saímos do avião, lá estava ‘Knockin’ on Heaven’s Door’.”
Time de estrelas
Terminadas as filmagens, Dylan se colocou a trabalhar nas gravações da trilha, incluindo a canção-tema e “Knockin’ on Heaven’s Door”. Para isso, recrutou uma super banda de músicos de estúdio, incluindo Roger McGuinn dos Byrds na guitarra, Jim Keltner na bateria e o lendário organista Booker T. Jones tocando, ao invés do esperado, baixo.
A versão de estúdio de “Knockin’ on Heaven’s Door” foi lançada como o single principal da trilha sonora de “Pat Garrett & Billy the Kid”, que fracassou nas bilheterias. Ao contrário do filme, o álbum com a trilha foi um sucesso, chegando ao 16º lugar nas paradas americanas.
Imitação é a forma mais sincera de elogio
Ao longo dos anos 1970, “Knockin’ On Heaven’s Door” se tornou um cavalo de batalha ao vivo de Bob Dylan. Porém, grande parte de seu sucesso também se deve à quantidade de covers feitas da canção.
Eric Clapton gravou uma versão em 1975 que puxava mais para o reggae, sua obsessão musical da época. O Grateful Dead tinha a canção como cover regular em seus shows, amplamente disseminados em forma de bootlegs. E em 1987, o Guns N’ Roses começou a apresentar ao vivo uma versão deles.
A banda liderada pelo vocalista Axl Rose lançou ao todo três versões de “Knockin’ on Heaven’s Door”. Uma ao vivo como b-side de “Welcome to the Jungle”, em 1987; uma gravação de estúdio para a trilha sonora do filme “Dias de Trovão”, estrelado por Tom Cruise, em 1990; e finalmente num arranjo definitivo no disco “Use Your Illusion II”, já em 1991.
A terceira versão chegou ao 2º lugar no Reino Unido e ao topo das paradas em quatro países na Europa, fazendo-a mais popular que a original.
Muitas pessoas fãs da canção talvez achem até que seja uma canção do Guns. Há quem também pense que seja uma faixa de Avril Lavigne, que a regravou em 2003, ou nunca tenha feito conexão entre a original e a adaptação brasileira “Batendo na Porta do Céu”, lançada por Zé Ramalho em 1997.
Fato é que esta faixa teve sua origem num voo para Durango, com Bob Dylan querendo dar a um xerife fictício a trilha sonora perfeita para sua morte.
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Na verdade é a composição perfeita para a morte de um “desperado” real, que foi delegado do Sheriff Pat Garret do condado de Lincoln antes de voltar a ser um fora-da-lei. E ele escreveu o livro que foi a base do roteiro do filme do Sam. 🙂
“pessoas sentem aquele reflexo involuntário de ligar a luz do celular e balançar o aparelho acima da cabeça ao ritmo da canção.”
Sério isso?