Morreu aos 91 anos a cantora Elza Soares, uma das artistas mais importantes da música brasileira.
De acordo com nota divulgada por sua assessoria, Elza faleceu de causas naturais, nesta quinta-feira (20), em sua casa no Rio de Janeiro. O conteúdo diz:
“É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais.
Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação.
A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim.”
A história de Elza Soares
Elza Soares nasceu e foi criada na favela da Moça Bonita, atualmente Vila Vintém, no bairro de Padre Miguel, no Rio de Janeiro. Filha de Avelino Gomes, operário, e Rosária Maria da Conceição, lavadeira, Elza foi obrigada pelo pai a casar-se com Lourdes Antônio Soares aos 12 anos de idade, com quem teria seu primeiro filho, João Carlos, já no ano seguinte.
Apesar das dificuldades enfrentadas na vida pessoal, Elza tinha o sonho de se tornar cantora. Realizou, escondida do marido e da família, seu primeiro teste no ano de 1953, no programa “Calouros em Desfile”, de Ary Barroso, na Rádio Tupi.
Após ouvir piadas do apresentador sobre sua origem humilde, a jovem interpretou a canção “Lama”, de Paulo Marques e Alice Chaves, e conquistou o primeiro lugar.
Tragédias e dificuldades
Segundo José Louzeiro, autor da biografia “Cantando Para Não Enlouquecer”, Elza teve pelo menos seis altos e baixos em sua vida e sua carreira. Passou da miséria à riqueza, do assédio ao descaso da mídia, da paixão ao abandono.
Aos 21 anos, Elza já havia velado dois filhos, que faleceram em decorrência da fome, e ficou viúva com cinco filhos para criar. Trabalhou como faxineira, empacotadora e conferente em uma fábrica de sabão para poder sustentar os filhos, mas nunca abandonou o sonho de seguir a carreira artística.
Em 1958, viajou à Argentina com a Companhia de Dança de Mercedes Baptista. Após um ano em turnê pelo país, retornou ao Brasil e foi contratada por Walter Silva para trabalhar na Rádio Vera Cruz, onde conheceu Moreira da Silva, que a levou para cantar no Texas Bar, em Copacabana, que renderia à Elza a chance de gravar na Odeon, graças à indicação dos cantores Moreira da Silva e Silvinha Telles.
Auge e exílio
Foi nos anos 60 que Elza conquistou notoriedade nacional ao lançar grandes sucessos, como “Se Acaso Você Chegasse”, “Boato” e “Edmundo”. Nessa época, conquistou fama, dinheiro e prestígio, recebendo elogios até de Louis Armstrong. Em 1962, casou-se com Garrincha, um dos maiores ídolos do futebol brasileiro, com quem viveu um intenso e conturbado relacionamento.
No auge da ditadura, Elza e Garrincha exilaram-se na Itália, após a casa do casal ter sido metralhada por militares no Rio de Janeiro. Após retornar ao Brasil, nos anos 70, lançou os sucessos “Salve a Mocidade” e “Malandro”, que lançou Jorge Aragão como compositor.
Mais tarde, teve que enfrentar mais um ponto baixo da sua vida, perdendo o emprego e tudo que possuía. Voltou a ficar pobre e chegou a pensar em desistir da carreira. Em 1984, Caetano Veloso a convidou para gravar a faixa “Língua”, no seu álbum “Velô”. A participação fez com que a cantora reconquistasse seu espaço na mídia. No ano seguinte, em 1985, seu disco “Somos Todos Iguais”, patrocinado por Lobão e Caetano, marcou a retomada da sua carreira artística. O álbum seguinte, “Voltei”, veio três anos depois. Ambos sem o merecido reconhecimento e sucesso.
Retorno
Após perder mais um dos seus nove filhos em um acidente de carro, em 1986, Elza foi para o exterior, onde ficou até 1994, enfrentando depressões e desencantos. Ao retornar para o Brasil, foi convidada para participar do CD “Casa do Samba”, em 1996, voltando a ser destaque na mídia.
No ano seguinte, gravou “Trajetória”, seu primeiro álbum solo após nove anos, que lhe rendeu o Prêmio Sharp de Melhor Cantora de Samba. Em 1999, lançou, de forma independente, o álbum ao vivo “Carioca da Gema”.
Já no ano 2000, foi homenageada no musical “Crioula”, dirigido e escrito por Stella Miranda. O espetáculo sobre sua vida contou com a música “Dura na Queda”, composta pelo seu grande amigo Chico Buarque em sua homenagem, e foi estrelado por Zezé Polessa, Elisa Lucinda, Kacau Gomes, Sheila Mattos e Tuca Andrada.
Elza Soares, a cantora do milênio
Em 2007, recebeu, enfim, o merecido reconhecimento, sendo eleita a “Cantora do Milênio” pela BBC de Londres.
Em 2015, mostrou que mesmo com mais de 80 anos ainda é capaz de se aprimorar e lançou o seu primeiro disco de inéditas, “A Mulher do Fim do Mundo”, considerado o seu melhor trabalho da carreira até então. A obra conta com canções autobiográficas poderosas, como “Maria da Vila Matilde”, um manifesto contra a violência doméstica que se tornou um hino do movimento feminista, incentivando as vítimas a não se calarem diante de agressões.
O álbum recebeu o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira e foi incluído na lista de melhores discos do ano do The New York Times. O disco também foi considerado um dos 50 Melhores Álbuns de 2016 pela Pitchfork e foi eleito o Melhor Disco do Ano pelo jornal Público de Portugal.
Em 2018, lançou o álbum “Deus É Mulher”, produzido por Guilherme Kastrup. O disco contou com a participação do grupo afro Ilú Obá de Min e teve como destaque as faixas “Banho”, “Deus Há de Ser” e “O Que Se Cala”. Ainda em 2018, foi pessoalmente à estreia do musical “Elza”, no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro. Com texto de Vinícius Calderoni e direção de Duda Maia, o espetáculo traz sete atrizes que interpretam Elza em diversas fases de sua vida e carreira.
Fonte do conteúdo biográfico: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
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