A história é cíclica. Uma situação enfrentada hoje pelos cientistas, que buscam conscientizar sobre a importância da vacinação contra a Covid-19, também ocorreu na década de 1950 – e naquela época foi Elvis Presley quem ajudou a vencer a desconfiança (e o negacionismo) com relação a um imunizante.
Em 1954, o Departamento de Saúde da Cidade de Nova York, nos Estados Unidos, lançou uma grande campanha publicitária para promover a vacinação contra a poliomielite. O colunista e figurão da mídia Walter Winchell jogou água fria no esforço, dizendo que a vacina, desenvolvida a partir de um vírus inativado pelo cientista Jonas Salk, “poderia ser uma assassina”.
O próprio Salk veio a público em defesa de seu trabalho, tratando de desqualificar a opinião sem qualquer base. No ano seguinte, quase 900 mil novaiorquinos haviam sido vacinados e o número de novos casos diminuiu drasticamente.
Porém, em áreas mais conservadoras dos Estados Unidos, a resistência ao imunizante ainda era grande. Com isso, veio a ideia de alguma figura popular entrar na jogada como forma de incentivar a população. E não havia ninguém mais conhecido àquela altura – especialmente entre jovens, público alvo da ação – do que Elvis Presley.
Elvis Presley contra a poliomielite
O Rei do Rock havia lançado seu segundo álbum pouco mais de uma semana antes do dia 28 de outubro de 1956, quando recebeu sua dose da vacina nos estúdios da CBS, palco do lendário programa The Ed Sullivan Show. Harold Fuerst e Lorena Baumgartner, comissários de saúde, se encarregaram da aplicação. Fotos e comunicados foram encaminhados a jornais de toda a nação.
Na ocasião, o músico declarou:
“Milhares sabem que a luta contra a poliomielite está complicada como sempre esteve. Algumas pessoas estão paralisadas a ponto de não conseguirem mover um dedo. Outras não conseguem fazer as coisas mais simples do dia-a-dia que tomamos como garantidas.”
A estratégia deu resultado. Em seis meses, a porcentagem de cidadãos imunizados deu um estrondoso salto, passando de 0,6% para 80% da população. Em 1963, sete anos após o ato, novos casos da doença haviam sido reduzidos a zero no país.
Para se ter ideia da dimensão do fato, entre 1950 e 1953 quase 120 mil pessoas foram infectadas e sofreram algum tipo de paralisia, ficando capazes de caminhar ou até mesmo respirar por conta própria. Dessas, em torno de 7 mil vieram a óbito.
Na mesma noite em que se vacinou, Elvis Presley se apresentou no programa de Ed Sullivan pela segunda vez na carreira. Na ocasião, tocou os clássicos “Hound Dog”, “Love Me Tender” e “Don’t Be Cruel”.
Mais de meio século depois, as vacinas seguem salvando vidas e dando esperanças. Porém, não são capazes de erradicar uma pandemia se um grande número de pessoas as evita. Especialmente quando líderes políticos incentivam a desconfiança na ciência. Hoje, infelizmente, não parece haver um Elvis capaz de virar esse jogo.
quando o rock n roll era a frente de seu tempo, enfrentando os negacionistas, não sendo um deles…