O álbum de estreia do Dirty Honey, homônimo, está entre nós. Lançado nesta sexta-feira (23), o trabalho é o primeiro full-length da banda americana, vista como uma das revelações do hard rock na atualidade em função de seu EP inaugural, liberado ainda em 2019.
Formado por Marc LaBelle no vocal, John Notto na guitarra, Justin Smolian no baixo e Corey Coverstone na bateria, o Dirty Honey gravaria este álbum justo no período em que a pandemia do novo coronavírus atingiu o mundo todo. Em material de divulgação, a banda conta que a viagem para a Austrália para registrar o disco com o produtor Nick DiDia seria um dia após a cidade deles, Los Angeles, entrar em lockdown.
A opção inicial por DiDia, conhecido por trabalhos com Rage Against the Machine, Pearl Jam, entre outros, foi mantida. O que mudou foi o método de trabalho: os músicos gravaram o material no Henson Studios, em L.A., com o profissional de estúdio acompanhando o processo à distância.
O tempo de espera até que tudo se alinhasse fez bem ao Dirty Honey, que não tinha tantas músicas prontas na época da viagem cancelada para a Austrália. Os integrantes da banda puderam criar mais canções, que entraram para o disco, e até experimentar um pouco mais.
Ouça o álbum a seguir, via Spotify:
A proposta do álbum “Dirty Honey” é a mesma do EP “Dirty Honey”: hard rock de pegada clássica, que transita por referências dos anos 1970, como Aerosmith e AC/DC, e 1980, como Guns N’ Roses. A sonoridade é direta e reproduz uma estética tipicamente “ao vivo”, já que aposta na trinca guitarra-baixo-bateria e nos vocais rasgados de Marc LaBelle, um Axl Rose com esteroides e com mais técnica.
Em outros tempos, esse álbum poderia até ser considerado um EP, tendo em vista a sua curta duração: menos de 30 minutos distribuídos em oito faixas. Apenas três delas chegam à marca de quatro minutos, com a última, “Another Last Time”, de 4min50seg, ostentando o título de mais longa do material.
Esse detalhe ajuda ainda mais a entender a ideia do Dirty Honey: eles não querem reinventar a roda, não querem soar inovadores, nem estão incomodados com comparações. O conceito é, de fato, reproduzir o que eles consideram que há de melhor no hard rock clássico.
Mesmo com as referências tão evidentes, há uma ponta de originalidade que torna essa banda muito atrativa. Muito desse mérito está na forma de compor, já que eles priorizam as melodias em vez de simplesmente despejarem riffs e andamentos manjados. Há, claro, outros detalhes que os diferenciam, mas esse é o principal ponto positivo nesse trabalho e no som do grupo como um todo.
Faixa a faixa
Primeiro single a ser liberado pela banda, a música “California Dreamin’” abre o álbum com riffs e grooves tipicamente classic rock. Especialmente no pré-refrão, os ganchos melódicos são muito bem apresentados – aspecto melhor explorado na seguinte “The Wire“, que, embora tenha construção mais básica, acerta ao demonstrar todo o poderio vocal de Marc Labelle.
Mais focada no groove das boas linhas de bateria de Corey Coverstone, a irresistível “Tied Up” aborda influências ainda mais retrô, vindas da música negra americana, e conquista de vez com os backing vocals femininos. O final acapella da canção é de arrepiar. Em seguida, “Take My Hand” traz uma pegada mais contemporânea, em campo harmônico mais grave e riffs a-la Rage Against the Machine, mas sem abdicar das esperadas vocalizações agudas.
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“Gypsy” volta a trazer o mix que tem consagrado o Dirty Honey: versos com riffs ardidos e refrão bem melódico, para grudar na mente. A mesma essência é reproduzida nas seguintes “No Warning” e “The Morning“, mas com ambas em uma pegada mais cadenciada e linhas de guitarra mais na veia do AC/DC.
Já estamos no fim? Pois é. O encerramento do disco fica por conta de “Another Last Time“, a única música que pode ser chamada de balada por aqui. Explorando influências mais visíveis da música negra americana, a canção volta a acertar ao apostar nos backing vocals femininos, além de um órgão que, embora tímido, rege o andamento da faixa.
Original sem intenção; empolgante com intenção
Mesmo que não tenha essa intenção, o Dirty Honey conseguiu soar único em seu álbum de estreia – assim como o fez no EP de 2019. A banda voltou a cruzar, sem percalços, a linha tênue entre a reprodução de influências e a busca natural por certa originalidade.
Como apontado anteriormente, o método de composição, que foca nos ganchos melódicos e não cai em clichês, é o grande mérito por aqui. Todo o material é bem produzido e o repertório agrada logo na primeira audição.
A performance individual de cada integrante também merece destaque. A voz aguda e rasgada de Marc LaBelle centraliza muito das atenções, mas o cantor está acompanhado de músicos competentes que engrandeceram o resultado final: John Notto é um riffmaker de mão cheia e a cozinha de Justin Smolian e Corey Coverstone é bem sólida.
Que o movimento revival dentro do hard rock siga produzindo bandas do calibre do Dirty Honey: retrô, mas com uma cara própria. Não dá para não recomendar.
O álbum está em minha playlist de lançamentos, atualizada semanalmente. Siga e dê o play:
Dirty Honey – “Dirty Honey”
1. California Dreamin’
2. The Wire
3. Tied Up
4. Take My Hand
5. Gypsy
6. No Warning
7. The Morning
8. Another Last Time
* Foto da matéria: Daniel Prakopcyk / divulgação
Uma banda que me faz entender melhor o Dirty Honey é o Tora Tora. O vocal Anthony Corder é o que mais soa parecido com o LaBelle do Dirty Honey, e as influências da banda também são o rock clássico, setentista, com pequenas doses de música negra, como Blues e Soul por exemplo. Se o Tora Tora fosse mais conhecido, a influência seria notória pela crítica especializada, com certeza.
observação anterior interessante do caue, realmente o toratora me veio a mente com a audição do dirty honey, boa lembrança por sinal pois a banda era legal nos saudosos 80s, vejo o dirty honey mais enraizado no hardão sujo dos 70s, principalmente na veia toys in the attic/rocks (dois discos absolutamente perfeitos) do grande aerosmith