Cheap Trick soa mais melódico e ainda relevante no novo álbum “In Another World”

Vigésimo álbum de estúdio do grupo mostra raro ímpeto entre as bandas veteranas de rock

O Cheap Trick chega a seu vigésimo álbum de estúdio, “In Another World”, com raro ímpeto entre as bandas veteranas de rock. É claro que chegar a lançar duas dezenas de discos já é um feito e tanto, mas há algo diferente envolvendo esta banda americana de hard rock, formada ainda em 1973 e sem hiatos em sua trajetória.

Robin Zander (voz), Rick Nielsen (guitarra) e Tom Petersson (baixo), desde 2010 completos por Daxx Nielsen (bateria), filho de Rick, sabem que não ocupam o primeiro escalão de lendas do rock em termos de popularidade. Eles reconhecem e até brincam com isso em entrevistas.

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Provavelmente, isso tirou a pressão de ter que lançar um álbum que soe do jeito que as pessoas esperam. Para o Cheap Trick, o trabalho em estúdio envolve diversão. Mais do que nunca, os discos recentes da banda refletem isso – como “In Another World”, que chega agora por meio da BMG.

Ouça a seguir, via Spotify:

Robin Zander, em entrevista exclusiva ao IgorMiranda.com.br, garantiu que não há grande diferença entre o novo álbum e os anteriores. Uma banda como o Cheap Trick tem sua estética particular, que não muda facilmente.

Acabamos discordando nesse sentido. Em minha visão, “In Another World” soa um pouco mais melódico, até com mais baladas, que o antecessor de inéditas, “We’re All Aright” (2017), mais conduzido pelas guitarras. Em inglês, há até um termo para definir o novo disco: “song-oriented”, ou “orientação pela canção”. Nesse caso, a composição de arranjos está em foco, com ganchos melódicos sobrepondo riffs e batidas.

Fora isso, de fato, não há muito o que se diferenciar. São três músicos com idades entre 68 e 72, que ajudaram na construção do hard rock como o conhecemos, fazendo o que sabem. Para dar uma força, há ainda um jovem baterista que certamente injetou ânimo ao grupo.

https://www.youtube.com/watch?v=2DeSdkz4dmo

“The Summer Looks Good on You”, faixa de abertura, já era conhecida do público por ter sido liberada como single. Traz os principais elementos da sonoridade da banda, que mescla hard rock com power pop de forma única. O refrão, que permeia toda a canção – até mesmo seus segundos iniciais -, é irresistível.

“Quit Waking Me Up”, em seguida, é adornada por instrumentos de sopro e mostra requinte na construção de seus ganchos melódicos. A balada “Another World” surge talvez cedo demais na tracklist, mas convence por seu andamento cuidadosamente bem bolado, com destaque aos timbres graves da voz de Robin Zander, soando cada vez mais como John Lennon nos dias de hoje.

“Boys & Girls & Rock N’ Roll” saiu como single e é citada por Zander como sua música favorita do álbum, porém, infelizmente, não me convenceu tanto. Ainda bem que a má impressão é dissipada de vez com “The Party”, justamente a melhor faixa do disco em minha opinião. Dona de um groove irresistível, a canção, de fato, soa como a retratação fiel de uma boa festa rock and roll.

“Final Days”, um blues rock de cadência e intensidade na pegada, é precedida por outra balada: a bela “So It Goes”, agora conduzida por violão e muito bem arranjada. Entra, logo após, “Light Up the Fire”, um rock de arena típico do Cheap Trick que também já era conhecido do público no formato de single. A “invertida” melódica oferecida pela ponte, entre verso e refrão, é do tipo que arrepia cada pelo do corpo.

É hora de mais uma balada, “Passing Through”, agora com uma pegada mais sessentista e contornos que vão do pop à psicodelia. O ritmo volta a ser acelerado pelas rockers “Here’s Looking at You” e “Another World – Reprise”. Esta última, aliás, é uma versão pesada da lentinha terceira faixa do disco.

Chega de baladas? Não! Ainda temos “I’ll See You Again”, penúltima da tracklist, que soa quase como uma vinheta, dado o seu andamento mais experimental. O encerramento fica a cargo de “Gimme Some Truth”, bom cover de John Lennon que, aqui, ganhou roupagem mais rock. Nas guitarras, há participação de Steve Jones (Sex Pistols), descrito por Robin Zander como um dos músicos mais subestimados do estilo.

Em suma, “In Another World” não é só um bom álbum do Cheap Trick. Tendo em vista os altos e baixos da carreira da banda, especialmente nos anos 1980, dá para posicionar o novo trabalho como um grande momento de sua trajetória.

Está entre os melhores? Difícil dizer, mas o que encontramos nesse álbum é de colocar um sorriso de ponta a ponta.

A diferenciação que resultou em um álbum mais melódico foi uma boa sacada, ainda que involuntária, e não apagou a boa performance de guitarras de Rick Nielsen. Aliás, todo o grupo soa muito entrosado, o que já era esperado.

Ainda que tenha uma ou outra música que soe um pouco deslocada, seja uma balada que entra cedo demais ou uma faixa que destoa do restante, não há nada que afete o saldo final. Recomendadíssimo.

Cheap Trick – “In Another World”

  1. The Summer Looks Good On You
  2. Quit Waking Me Up
  3. Another World
  4. Boys & Girls & Rock N Roll
  5. The Party
  6. Final Days
  7. So It Goes
  8. Light Up the Fire
  9. Passing Through
  10. Here’s Looking At You
  11. Another World reprise
  12. I’ll See You Again
  13. Gimme Some Truth

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

2 COMENTÁRIOS

  1. bom disco, bem melhor e mais focado que o anterior “We’re All Aright” (2017) que, apesar de mais pesado era bem menos inspirado com exceção de um cover (“Blackberry Way” que ficou bem legal). uma banda como esta acho que não interessa mais ficar comparando discos, como se esse fosse ou não dos melhores, o mais importante é que estão produzindo coisas novas em tempos de musica biodegradável de streamings da vida e que devem ser curtidas, ou não, no meu caso, curto muito cheap trick há 35 anos pelo menos

  2. Incrível como esse disco surpreende, de tão bom e gostoso de ouvir. E tem uma veia muito forte de KISS em várias músicas, mas a Light Up The Fire é, sem dúvida nenhuma, um b-side da época do Revenge do KISS. Grata surpresa de 2021.

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