No documentário “Some Kind of Monster”, lançado em 2004, acompanhamos o processo em que o baixista Jason Newsted deixa o Metallica.
Em meio a problemas internos na banda, incluindo o tratamento do vocalista e guitarrista James Hetfield no combate ao alcoolismo, Newsted saiu em 2001 após atrativos por envolver-se com um projeto paralelo, o Echobrain. Hetfield, em especial, não concordava que os integrantes do grupo tivessem outros trabalhos – para ele, isso tirava a força do principal.
Em recente entrevista ao podcast “…And Podcast For All“, transcrita pelo Blabbermouth, o terapeuta Phil Towle, que acompanhou o Metallica no “Some Kind of Monster”, revelou um pensamento peculiar sobre o conturbado período vivenciado pela banda. Na visão dele, Newsted não queria deixar o grupo e a decisão acabou provocando outros acontecimentos na mesma época.
“Não acho que Jason queria sair da banda. Acho que ele queria sair da realidade que existia. E essa era a única forma pela qual ele podia fazer alguma coisa com isso. E isso causou um monte de coisas. Isso contribuiu, em último caso, para a ida de James [Hetfield] para a reabilitação. Não era o fato exato, mas se você olhar toda a vida do Metallica, e você vê que eles estavam se atacando na revista Playboy, naquela entrevista, e você vê que eles aparecem um mês depois, talvez dois meses depois – janeiro de 2001, eu acho – e tem esse tipo de animosidade, porque Jason está agindo.”
Bullying contra Jason Newsted
Além de toda a situação retratada no documentário, Phil Towle também falou sobre como a entrada de Jason Newsted no Metallica, substituindo o falecido Cliff Burton, acabou criando uma situação de pressão para ele. Isso explicaria, segundo ele, todo o “bullying” sofrido pelo baixista em seus primeiros anos com a banda.
“Acho que Jason, seguindo a reputação de Cliff, a forma como ele morreu tão tragicamente… ele foi um substituto tão instantâneo para Cliff que se tornou o que os caras diriam que é um ‘saco de pancadas’. Ele foi a forma não saudável como eles lidaram com o luto. E Jason era tão grato por ser parte da banda – como ninguém foi – e sentia como se nunca pudesse ser o suficiente. Ele foi atacado ao ponto onde eu acho que explodiu porque ele chegou no limite.”
O que pensam os músicos do Metallica
Ainda em 2003, em entrevista à revista Classic Rock, James Hetfield e o baterista Lars Ulrich reconheceram que Jason Newsted acabou sendo “sacrificado” pelo Metallica. Na visão deles, a saída do baixista serviu para “salvar” os demais músicos – Hetfield, Ulrich e o guitarrista Kirk Hammett.
Na ocasião, o Metallica havia acabado de lançar o álbum “St. Anger” (2003), que foi gravado sem um baixista como integrante – o instrumento foi registrado pelo produtor Bob Rock. Em seguida, Robert Trujillo entrou para a banda e ocupou a função.
Lars Ulrich refletiu:
“Jason era subestimado. E o mais irônico é que o modelo que Jason considerava perfeito para o funcionamento do Metallica é o que existe agora. É irônico e triste, pois Jason é um cara legal e se esforçou muito pela banda por vários anos, mas nunca foi aceito completamente pela banda. Quando ele tentou ir a outro lugar para satisfazer suas necessidades criativas, nós falamos – ou melhor, latimos – que ele não podia.”
O baterista atribuiu a saída do baixista a “questões de controle”:
“James tinha sua visão de família perfeita e era como uma máfia: você é parte da família, mas se pisar fora dela, está cometendo traição e será banido. É o cerne de muitas coisas que tentamos melhorar nos últimos anos. Jason estava em uma terra de ninguém. Ele foi sacrificado – ou teve que ser sacrificado – para que a gente mudasse. É incrível que Jason tenha nos aguentado por tanto tempo, por 14 anos.”
Responsável direto pela saída de Jason Newsted, James Hetfield disse que durante as sessões de composição após o baixista deixar o Metallica, emoções foram despertadas e mostraram como todos poderiam melhorar enquanto indivíduos.
“Foi aí que decidi ir para a clínica de reabilitação.”
Lars Ulrich concorda:
“Há um tópico em que James Hetfield trata Jason dessa vez, percebe seus erros e vai para a reabilitação. Não é uma relação óbvia e direta, mas há uma conexão em algum lugar do subconsciente dele.”