Como era trabalhar com o perigoso Mötley Crüe em estúdio

O Mötley Crüe, notável pelas polêmicas na mesma proporção de sua música, foi guiado por alguns grandes produtores ao longo de sua trajetória. Um deles, Tom Werman, revelou como era trabalhar com a banda em estúdio.

O Mötley Crüe se tornou notável na década de 1980 não apenas por suas músicas afiadas, exalando a essência do hard rock daquela época, como também pelas polêmicas internas. Dos vícios à personalidade difícil dos músicos, a banda formada em Los Angeles não era das mais fáceis de se trabalhar junto.

O produtor Tom Werman foi um dos poucos a conseguir domar o Mötley Crüe. O profissional comandou as gravações de três álbuns clássicos do Crüe: “Shout at the Devil” (1983), “Theatre of Pain” (1985) e “Girls, Girls, Girls” (1987).

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Seu currículo, claro, envolve trabalhos de várias outras bandas, incluindo do movimento hard rock da década de 1980. Entre os nomes mais conhecidos, estão Poison, Stryper, Twisted Sister, Dokken e Lita Ford, entre outros. Porém, a atuação ao lado do Mötley foi especial.

Em entrevista ao podcast “Full in Bloom“, com transcrição via Ultimate Guitar, Werman relembrou como era trabalhar com o Mötley Crüe, especialmente em “Shout at the Devil”, o primeiro que ele produziu. O profissional de estúdio buscou ser honesto em suas respostas, apontando os pontos positivos e negativos de cada integrante.

Inicialmente, ele relembrou que o baixista Nikki Sixx era o principal compositor, mas que os demais integrantes eram encorajados a participar do processo criativo. Na formação, Sixx era acompanhado do baterista Tommy Lee, do guitarrista Mick Mars e do vocalista Vince Neil.

“Tommy era o segundo mais criativo da banda. E, claro, Mick vinha em terceiro. Vince, você sabe, fez o que precisava fazer. Ele não criava tanto como os outros caras. Nikki era o cérebro por trás de tudo aquilo.”

Curiosamente, Tommy Lee não foi creditado por nenhuma composição de “Shout at the Devil” – o álbum foi quase todo criado por Nikki Sixx, com colaborações bem pontuais de Vince Neil e Mick Mars. Todavia, as participações do baterista eram importantes e criativas em outro sentido.

“Não lembro se ele realmente foi creditado ou não, mas a contribuição dele para a banda foi muito grande. Ele é incrível. Está junto de Bun E. Carlos (Cheap Trick) entre os melhores bateristas com os quais já trabalhei. Os dois amam o que fazem e faziam tudo naturalmente.”

Tom Werman, aliás, rasgou mais elogios a Tommy Lee. Infelizmente, não deu para ser tão favorável ao avaliar as colaborações de Vince Neil, que sofria para entregar uma boa performance vocal em estúdio.

“Sempre me lembro de Tommy e seu entusiasmo e curiosidade sobre as novas tecnologias de bateria – ele gostava muito de samples. Agradeci a ele por logo ter feito boas linhas de bateria, não precisou de muita edição. Lembro de ter sofrido com Vince (risos). Ele entrava e tentava dar seu melhor, mas às vezes não dava para manter muita coisa, pois ele ficava acordado a noite toda nas farras.”

O produtor era bem metódico ao trabalhar com os vocalistas: as gravações eram realizadas separadamentee e após os primeiros registros, eram apontados os trechos em que a performance de canto deveria melhorar um pouco mais. Em seguida, focava-se justamente nessas passagens mais problemáticas, para que o cantor não ficasse tanto tempo gastando a voz no microfone.

“Com Robin Zander (Cheap Trick), fazíamos em 10 minutos. Ele gravava umas três músicas em uma tarde. Era incrível. Vince Neil, como vocalista, tinha muita personalidade, mas não conseguia fazer tanta coisa de uma vez só. Às vezes, Nikki precisava ensiná-lo a cantar algumas melodias, pois não dava tempo de ele aprender a música.”

Os talentos individuais do Mötley Crüe

Foto: divulgação

Em uma entrevista mais antiga, de 2012, diretamente ao Ultimate Guitar, Tom Werman descreveu os talentos individuais dos músicos do Mötley Crüe.

“Tommy e Mick eram muito rápidos no estúdio, muito talentosos com seus instrumentos. Nikki não era um baixista bom quando comecei com a banda, mas ele evoluiu consideravelmente quando fizemos ‘Girls, Girls, Girls’. Tommy era um grande baterista com um ótimo estilo hard rock, além de ser curioso com inovações, como samples e triggers. Vince era muito bem humorado, mas também farreava muito. Isso às vezes o fazia render menos. Ainda assim, ele dava o melhor de si. Chegamos a um som de guitarra satisfatório em ‘Girls, Girls, Girls’. ‘Wild Side’ e a faixa-título estão entre as minhas favoritas em termos de produção.”

* Foto do topo da matéria: Mark Weiss / reprodução

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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