A cantora Miley Cyrus lançou seu sétimo álbum de estúdio nesta sexta-feira (27). Intitulado ‘Plastic Hearts’, o disco chega a público por meio da RCA/Sony.
Antes mesmo de ser anunciado oficialmente, ‘Plastic Hearts’ já era citado por Miley como o álbum onde estreitaria laços com o rock. A artista já havia feito isso diversas vezes no passado, seja em estúdio ou ao vivo.
Em shows, a cantora já fez versões para músicas de Nirvana, Beatles, Pink Floyd, Bob Dylan, Joan Jett, Fleetwood Mac, Poison, Cranberries, Arctic Monkeys, Led Zeppelin, Rolling Stones, Chris Cornell e por aí vai. Já em estúdio, com material inédito, ela chegou a gravar um álbum colaborativo de rock psicodélico com a banda The Flaming Lips: ‘Miley Cyrus & Her Dead Petz’ (2015).
Para reforçar seu vínculo com o rock em ‘Plastic Hearts’, a cantora pop convidou dois nomes ligados ao estilo para participações: Joan Jett (em ‘Bad Karma’) e Billy Idol (em ‘Night Crawling’). Além disso, ela colaborou com Stevie Nicks no mash-up ‘Edge of Midnight’, que entrou como bônus no álbum. No campo dos convidados, deve-se citar, ainda, a colaboração com a diva pop Dua Lipa (em ‘Prisoner’).
Nas entrevistas, porém, a artista buscou distanciar-se do vínculo com o rock – que foi expresso até mesmo nos visuais das fotos e clipes de divulgação – e apontou que ‘Plastic Hearts’ resgata, na verdade, sua paixão pelo pop. “Eu ainda adoro música pop e adoro músicas que possam ser tocadas em boates”, afirmou ela, ao site da ‘MTV’, em 2018.
Ouça ‘Plastic Hearts’ abaixo, via Spotify ou YouTube, e confira opinião sobre o álbum a seguir.
‘Plastic Hearts’, que é e não é rock, oscila em sua proposta
Miley Cyrus é artisticamente inquieta. Ou confusa. Sua carreira começou no pop adolescente, ancorada na personagem Hannah Montana, da série de mesmo título produzida pela Disney. Depois, seguiu por um caminho de rebeldia, onde seu pop ficou “adulto” (ou pós-adolescente) e polemizou com o álbum ‘Bangerz’ (2013), que, entre letras e performances explícitas, aproximou-se da cultura hip hop.
Como já citado, em ‘Miley Cyrus & Her Dead Petz’ (2015), a cantora colaborou com o The Flaming Lips e mudou de novo, apresentando um pop/rock psicodélico e bastante experimental. Em seguida, outro giro de 180° na carreira: no disco ‘Younger Now’ (2017), flertou com o country de seu pai, Billy Ray Cyrus, e fracassou em vendas.
Em meio a todas essas nuances, Miley sempre era elogiada quando resolvia cantar rock no formato clássico, sem experimentos, nos shows. Parecia encaixar-se devidamente. Demorou um pouco, mas ela resolveu explorar essa influência agora, em ‘Plastic Hearts’, ainda que o trabalho não tenha só essa referência.
Como quase todo álbum pop no momento atual, ‘Plastic Hearts’ atira para todo canto. O pop retrô, de veia new wave/synthwave, é o fio condutor, mas há referências ao rock, pop contemporâneo, country, R&B e por aí vai. Quase nada feito com grande excelência, ainda que divirta em várias situações.
Entre os destaques positivos do álbum, está o uso de uma voz mais rouca por parte de Miley Cyrus. Não dá para saber se foi intencional ou se soa naturalmente assim desde que ela realizou uma cirurgia nas cordas vocais, mas o resultado é interessante. Além disso, as participações especiais são bem exploradas: Joan Jett, Billy Idol e Dua Lipa quase assumem protagonismo nas faixas com as quais colaboram.
E os momentos com traços rock são legais. Vale mencionar ‘WTF Do I Know’, que tem cara de hit; a faixa-título com seu bom ritmo; ‘Midnight Sky’, que agrada por suas referências quase explícitas a ‘Edge of Seventeen’ (Stevie Nicks); e ‘Night Crawling’, que evidencia a química entre Miley e Billy Idol.
O problema é que os pontos baixos de ‘Plastic Hearts’ vão realmente lá no fundo. Há músicas muito fracas que deixam a audição mais dispersa. Além disso, a falta de direcionamento artístico incomoda – no miolo da tracklist, o ouvinte sai da dançante ‘Midnight Sky’ para cair direto na country pop ‘High’ – e como o material faz referência a artistas do passado com frequência, parece faltar um pouco de criatividade no contexto geral.
Também chateia ouvir um álbum de instrumental tão pouco orgânico, especialmente quando o som pedia, justamente, uma banda de verdade. Apenas ‘Bad Karma’ parece trazer, por exemplo, uma bateria real. As outras faixas têm groove conduzido pelos sintetizadores, inclusive aquelas que deveriam soar mais rock ou, ao menos, retrô. Fora os autotunes em passagens desnecessárias.
Ao vivo, talvez, o material de ‘Plastic Hearts’ cresça em qualidade, tendo em vista que é justamente no palco que Miley tem chamado atenção. Desde os tempos de polêmica com ‘Bangerz’, a artista não costuma decepcionar nos shows.
Entretanto, enquanto um álbum de estúdio, um produto “fechadinho”, não dá para negar que o resultado final é mediano e oscila bastante. Ainda que o disco tenha seus bons momentos, dava para fazer melhor, tanto no aspecto criativo quanto na sonoridade da produção.
‘Plastic Hearts’ está representado em minha playlist de lançamentos, atualizada semanalmente. Siga e dê o play:
Miley Cyrus – ‘Plastic Hearts’
1. WTF Do I Know
2. Plastic Hearts
3. Angels Like You
4. Prisoner (com Dua Lipa)
5. Gimme What I Want
6. Night Crawling (com Billy Idol)
7. Midnight Sky
8. High
9. Hate Me
10. Bad Karma (com Joan Jett)
11. Never Be Me
12. Golden G String
Bônus da edição digital:
13. Edge of Midnight (com Stevie Nicks)
14. Heart of Glass (cover do Blondie)
15. Zombie (cover do Cranberries)