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Black Star Riders exagera no jogo ganho e não cativa em Another State of Grace

Resenha: Black Star Riders – “Another State of Grace” (2019)

Sempre tive certa boa vontade com o Black Star Riders, especialmente por terem se dissociado do nome do Thin Lizzy para produzir material próprio. Seria muito fácil continuar usando o nome construído por Phil Lynott e seus asseclas, mesmo com uma formação que traz apenas o guitarrista Scott Gorham dos ex-integrantes da lendária e influente banda de hard rock. Mais prático ainda seria a sequência de turnês com versões dos clássicos.

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Pois bem: o Black Star Riders escolheu o caminho mais difícil em termos de repercussão, porém, o mais honesto no que diz respeito à arte. Além de adotarem um nome próprio para essa nova formação, o grupo que tem Ricky Warwick como frontman e segue capitaneado por Gorham investe em material próprio desde o início.

– Leia: Do fracasso ao colapso, os últimos dias de Phil Lynott

Dentro deste cenário, “Another State of Grace” foi lançado como o quarto álbum de estúdio do Black Star Riders – os outros acabaram sendo lançados de dois em dois anos, a partir de “All Hell Breaks Loose” (2013). Temos uma banda disposta a trabalhar, mesmo com o momento desfavorável para quem deixa “remakes” e “reboots” de lado para começar tudo de novo.

Contudo, parece inegável que a falta de estabilidade na formação prejudica na qualidade do que é apresentado pelo Black Star Riders. Não à toa, o melhor trabalho do grupo segue sendo “Heavy Fire” (2017), único a repetir uma line-up de músicos.

Para o novo registro, foram duas mudanças na formação, ambas feitas em 2019: o guitarrista Christian Martucci ocupou a vaga de Damon Johnson (e já chegou colaborando bastante com a parte autoral) e o baterista Chad Szeliga substituiu Jimmy DeGrasso. Dois integrantes que estavam desde o início deixaram de integrar o grupo, completo por Warwick, Gorham e o baixista Robbie Crane. Isso acaba afetando o resultado final.

– Leia também: Como nasceram as guitarras gêmeas do Thin Lizzy

“Another State of Grace” sofre do mesmo problema dos dois primeiros discos: não é ruim, mas não é memorável. O repertório parece ter sido construído às pressas, com algumas repetições de clichês típicos do hard rock, e as referências ao Thin Lizzy voltaram a ficar muito evidentes, seja na voz de Warwick, na construção melódica ou nos detalhes, como os arranjos em guitarras gêmeas abrindo algumas músicas.

Essa combinação se repete logo nas três primeiras músicas, com um bônus que incomoda: o uso de algumas fórmulas de composição feitas para deixar a música chiclete, mas de forma um pouco forçada. Nota-se isso em músicas como “Tonight The Moonlight Let Me Down” e no single “Ain’t The End Of The World”, enquanto que a faixa título replica os momentos mais folk, mas até tenta buscar algo mais.

De andamento mais intricado, “Underneath The Afterglow” soa um pouco mais original. “Solider In The Ghetto”, por sua vez, convence pela sonoridade do órgão mais presente e pelo groove da cozinha. De letra crítica ao porte de armas, “Why Do You Love Your Guns” aposta em uma estética semelhante à das baladas alternativas da década de 1990.

“Standing In The Line Of Fire” já começa a soar um pouco repetitiva quando outra balada, “What Will It Take?”, entra em uma veia de leve influência country, o que é bem-vindo a essa altura do campeonato. A canção tem participação da cantora Pearl Aday, filha de Meat Loaf. “In The Shadow Of The War Machine” e “Poisoned Heart” concluem o álbum reforçando alguns clichês: a primeira, do hard rock ganchudão; a segunda, de estética afável, próximo ao power pop.

A versão lançada pela Shinigami no Brasil conta, ainda, com a faixa bônus “Candidate For Heartbreak”, que reforça a estética quase power pop da última canção do álbum, mas de forma mais cadenciada e com um pouco mais de inspiração. Boa música.

Em uma avaliação mais criteriosa, “Another State Of Grace” é um disco mediano. Promete agradar a quem é fã de Thin Lizzy e bandas semelhantes, pois é “jogo ganho” nesse quesito, mas não vai além.

Dá para perceber que Scott Gorham e seus asseclas podem oferecer algo a mais. Isso foi feito em “Heavy Fire” e até em alguns momentos deste novo álbum.

Ainda assim, quem gosta de hard rock com bases fincadas na década de 1970 pode ficar satisfeito com o resultado. Há bons momentos e certa margem para evolução – algo que precisa ser aproveitado logo, antes que o projeto perca fôlego de vez.

  • Observação: este álbum já havia sido comentado, brevemente, na lista de lançamentos de 6 de setembro (clique aqui para acessar).

Ricky Warwick (vocal, violão, guitarra)
Scott Gorham (guitarra)
Christian Martucci (guitarra)
Robbie Crane (baixo)
Chad Szeliga (bateria)

01. Tonight The Moonlight Let Me Down
02. Another State Of Grace
03. Ain’t The End Of The World
04. Underneath The Afterglow
05. Soldier In The Ghetto
06. Why Do You Love Your Guns?
07. Standing In The Line Of Fire
08. What Will It Take?
09. In The Shadow Of The War Machine
10. Poisoned Heart
11. Candidate For Heartbreak (faixa bônus)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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