Os 30 anos de ‘Keeper Of The Seven Keys – Part II’, o grande disco do Helloween

Não há como discutir: Helloween é a banda mais importante do power metal. E a força do grupo alemão no segmento se deu graças a seus dois primeiros discos com o vocalista Michael Kiske – as partes 1 e 2 de “Keeper of the Seven Keys”.

Por um lado, é difícil analisar os dois “Keepers” de forma separada, já que o próprio título indica uma conexão entre os dois. Contudo, mesmo que os álbuns tenham sido planejados como lançamento conjunto (ideia barrada pela gravadora), “Keeper of the Seven Keys – Part II” tem mais força, importância e maturidade que a também excelente parte inicial.

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O primeiro “Keeper” estabeleceu as bases do chamado “power metal europeu”, que serviriam de inspiração para centenas de bandas que se consagraram no segmento nas décadas seguintes – do Stratovarius ao Edguy, do Dragonforce ao Angra.

O grande trunfo da “Part II” foi a ampliação do leque criativo e a consolidação de um formato diferente de se tocar heavy metal. Havia velocidade e pegada, mas sem abrir mão dos ganchos melódicos, de influências que percorriam – talvez de modo involuntário – de Rainbow a Styx e de uma veia despojada, quase cômica em certos momentos.

Os próprios integrantes do Helloween reconhecem que transmitir diversão foi um ponto de destaque nas partes 1 e 2 de “Keeper of the Seven Keys”. Em entrevista ao jornalista Masa Itoh, o vocalista Michael Kiske pontuou:

“Talvez você tenha uma visão diferente, mas a forma que passei por isso foi: éramos destemidos, apenas brincávamos, trabalhávamos com os elementos das bandas que gostávamos, nos divertindo com isso. Acho que o espírito criativo daquela época é capturado no disco de alguma forma e você pode sentir isso. É uma coisa que você não pode produzir artificialmente. Está lá ou não. E, definitivamente, estava lá naquela época.”

– Leia: Kiske, Hansen e Weikath falam da mágica dos ‘Keepers’

O álbum, faixa a faixa

A vinheta de introdução “Invitation” prepara o ouvinte para uma das melhores músicas de abertura do heavy metal como um todo: “Eagle Fly Free”. Veloz e imponente, a faixa composta pelo guitarrista Michael Weikath apresenta, com êxito, as credenciais dos cinco integrantes da banda.

“You Always Walk Alone”, na sequência, transita pelo heavy metal tradicional, enquanto “Rise And Fall” introduz o diferencial desse álbum: a pegada afável, quase comercial, que deixou essa divertida canção com cara de “hit metálico em potencial”.

“Dr. Stein”, em seguida, apenas reforça a intenção que o Helloween tinha de trabalhar a criatividade no metal de forma mais solta e até despojada. De tom próximo ao hard rock, a música se tornou um dos maiores clássicos da banda – não à toa, pois é ótima.

“We Got The Right” coloca o pé no freio em seus primeiros segundos, mas progride e coloca a potente voz de Michael Kiske na linha de frente. Uma interpretação segura demais para quem só tinha 20 anos na época.

“March Of Time” resgata a veia de “Eagle Fly Free”, só que numa veia mais metálica, que lembra um pouco o primeiro “Keeper”. O saudoso Ingo Schwichtenberg brilha por aqui.

A grudenta e irresistível “I Want Out”, outra música de forte influência hard rock, é um dos maiores sucessos do Helloween. O senso melódico das passagens dessa canção ainda me impressionam, mesmo a ouvindo por tantos anos.

Graças aos seus mais de 13 minutos de duração, a faixa-título pode soar pretensiosa de início, mas vale a pena se “arriscar”, pois a obra prog do Helloween em “Keeper II” é incrível. A música resume todos os elementos que se pode ter em uma boa música do Helloween: refrão grudento, vocais desafiadores, guitarras bem intrincadas, cozinha que foge do óbvio, momentos de “viagem” instrumental, mudanças de andamento pouco previsíveis e o mais puro clímax em seus momentos finais. Tão sublime como contar uma boa história, só que em melodia.

Bônus da versão em CD, “Save Us” fecha o álbum no terreno seguro do power/speed metal que o Helloween já havia apresentado no primeiro “Keeper”, novamente com destaque ao diferenciado Ingo Schwichtenberg.

Rise… and… fall

Já citei, no início do texto, que “Keeper of the Seven Keys: Part II” é um dos discos mais importantes da maior banda de power metal. E embora o álbum tenha feito sucesso, o êxito conquistado teve que obedecer às limitações de orçamento – a gravadora Noise Records não tinha alcance mundial tão forte – e até de localização, já que o Helloween é alemão e os principais mercados fonográficos, Estados Unidos e Reino Unido, estavam um pouco distantes.

Apesar disso, o burburinho dos dois “Keepers” foi o bastante para que o Helloween assinasse com a gigante EMI logo após ter lançado o ao vivo “Live in the U.K.” em 1989. O problema é que a banda começou a se desmanchar a partir daí.

Primeiro, o guitarrista Kai Hansen, tão importante na parte de criação, pediu as contas. Depois, o grupo passou por problemas internos até conseguir lançar “Pink Bubbles Go Ape“, em 1991 – um bom disco, mas ainda mais diverso que o segundo “Keeper”.

– Opinião: Helloween, a banda que não soube ser grande

As tretas culminaram no experimental e complicado “Chameleon” (1993) e nas demissões de Ingo Schwichtenberg, envolvido com drogas e sofrendo com doenças de saúde mental, e Michael Kiske, com quem Michael Weikath estava batendo de frente com frequência.

Schwichtenberg cometeu suicídio em 1995, aos 29 anos, enquanto Kiske seguiu sua vida até que, em 2016, retornou ao Helloween junto de Hansen. Andi Deris, que ocupa a vaga do vocalista desde 1994, segue na banda, que excursiona como septeto.

Os dois “Keepers” – em especial, “Keeper of the Seven Keys – Part II” – mostram que o Helloween poderia ter sido muito maior se os problemas internos fossem controlados. O potencial da banda em seus primeiros anos é tão forte que o pensamento “e se tivesse continuado por esse caminho?” segue, até hoje, na cabeça de muitos fãs.

Todavia, talvez o destino do Helloween deveria ter sido esse mesmo: uma banda mais influente e relevante do que forte em termos comerciais. Kai Hansen, também em entrevista ao jornalista Masa Itoh, parece reconhecer isso.

“Existe certa mágica nesses álbuns (os dois ‘Keepers’). Eles se tornaram cult porque eram especiais. Fomos, após o Scorpions e o Accept, a terceira banda a meio que olhar além do horizonte da cena de rock e metal da Alemanha e ter criado algo foi algo muito único e bom para a época, comparado com o que estava no entorno.”

Michael Kiske (vocal)
Kai Hansen (guitarra)
Michael Weikath (guitarra, teclados)
Markus Grosskopf (baixo)
Ingo Schwichtenberg (bateria)

1. Invitation
2. Eagle Fly Free
3. You Always Walk Alone
4. Rise And Fall
5. Dr. Stein
6. We Got The Right
7. March Of Time
8. I Want Out
9. Keeper of the Seven Keys
10. Save Us (bônus da versão em CD)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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