Acho muito difícil que, ao idealizar a formação do Metallica, o baterista Lars Ulrich imaginasse que a banda se conquistaria o sucesso que conseguiu – ainda mais dentro de um estilo musical que engatinhava e, ao que tudo indicava, não seria um fenômeno de popularidade. Mas deu tão certo que o Metallica é a banda de heavy metal de maior sucesso comercial da história – e tudo começou em “Kill ‘Em All”.
O Metallica foi formado em meados de 1981 após Lars Ulrich recrutar James Hetfield para cantar e tocar guitarra. Hetfield foi apresentado a Ulrich por intermédio de um garoto chamado Hugh Tanner, que viu o anúncio que o baterista colocou no jornal de classificados “The Recycler”, de San Francisco.
Ulrich conta que James Hetfield era “muito tímido, introvertido, mal olhava nos olhos, custava a conversar”. “Mas havia alguma conexão quando tocávamos. Era junho de 1981, passei o verão na Europa e passei algum tempo na Inglaterra com Diamond Head e Motörhead. Quando voltei à América, em outubro daquele ano, liguei para aquele James Hetfield, porque havia uma vibe, uma conexão. Perguntei se ele queria se juntar e ver se havia a chance de fazermos algo. E 37 anos depois, estou aqui”, afirma.
A partir do mesmo anúncio, surgiram o guitarrista Dave Mustaine e o baixista Ron McGovney. Estava formado o Metallica, uma banda de metalheads admirados pelo movimento New Wave Of British Heavy Metal (NWOBHM), de bandas britânicas como Diamond Head, Tygers Of Pan Tang e, de certa forma, Motörhead.
Pouco tempo depois, Ron McGovney foi substituído por Cliff Burton por não contribuir tanto e Dave Mustaine deu lugar a Kirk Hammett por conta de seu “comportamento agressivo e abuso de substâncias ilícitas”. Mustaine fundou o Megadeth, outra excelente banda de thrash metal, e fez história por si só.
A saída de Ron McGovney foi um pouco mais simples: ele conta que não queria ser um rockstar, só queria ser um mecânico de motocicletas. O caso de Mustaine foi mais complicado: ele chegou a agredir James Hetfield e a estragar equipamentos de McGovney em um jogo de provocações que acabou prejudicando somente a ele.
Cliff Burton foi descoberto em uma banda chamada Trauma. Kirk Hammett, por sua vez, integrava o Exodos – grupo que também conseguiu destaque no segmento futuramente. “Formei o Exodus aos 15 ou 16 anos. Quando estava com 20, passamos por algumas mudanças na formação. Havia problemas entre os outros caras e eu, eles começaram a usar drogas diferentes das que eu usava (risos). Isso abriu uma divisão e, então, me convidaram para entrar no Metallica e eu topei. As coisas não estavam boas no Exodus, mas eles se firmaram depois que saí”, conta Hammett.
Com o Metallica nos trinques, a banda preparou algumas demos e após muita correria, os caras conseguiram um contrato com um selo independente. Assim, “Kill ‘Em All” foi finalmente gravado – com um orçamento não muito proveitoso, mas o suficiente para dar um pontapé inical em uma grande carreira.
Originalmente intitulado “Metal Up Your Ass”, “Kill ‘Em All” revolucionou o jeito de se fazer música pesada. É um dos primeiros e, certamente, mais influentes discos do thrash metal, que alia influências do NWOBHM e até do hardcore. A velocidade havia, enfim, chegado ao metal de forma definitiva.
Por outro lado, a inexperiência dos envolvidos é perceptível em “Kill ‘Em All”. Trata-se de uma banda de adolescentes, pouco preparados em termos técnicos, tocando música pesada. E isso não é um ponto negativo: as músicas desse álbum contam com uma fúria juvenil que foi necessária para dar a cara que o thrash metal precisava em seus primórdios.
Vale ressaltar a diferença que a mão de Dave Mustaine, ex-integrante da banda e posteriormente líder do Megadeth, fez nas composições. Diferente de todos os outros lançamentos da banda, “Kill ‘Em All” não tem nuances melódicas muito complexas, mas conta com riffs de estruturas agressivas que são marca registrada de Mustaine.
“Kill ‘Em All” fez sucesso dentro das limitações do Metallica. O álbum teve tiragem inicial de 15 mil cópias, mas, em um ano, foram vendidos mais de 60 mil discos no mundo todo. A curva de popularidade da banda, que cresceu de forma exponencial dentro de uma década, começou já de forma intensa com seu primeiro registro.
– Leia também: 7 composições que mostram como James Hetfield é bom letrista
O charme de “Kill ‘Em All” está, justamente, em seu tom despretensioso. O Metallica gravou discos bem melhores em sua carreira, mas nenhum é tão sincero quanto este. Meus destaques ficam para “Whiplash”, “Seek & Destroy”, “Hit The Lights”, “Motorbreath” e “The Four Horsemen”, mas todas as faixas são boas para quem gosta de música pesada e veloz.
James Hetfield (vocal, guitarra)
Kirk Hammett (guitarra)
Cliff Burton (baixo)
Lars Ulrich (bateria)
01. Hit The Lights
02. The Four Horsemen
03. Motorbreath
04. Jump In The Fire
05. (Anesthesia) Pulling Teeth
06. Whiplash
07. Phantom Lord
08. No Remorse
09. Seek & Destroy
10. Metal Militia