O heavy metal deu os seus primeiros passos ainda no fim da década de 1960. Nos anos 1970, o estilo encorpou graças ao trabalho de nomes como Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, Judas Priest, Uriah Heep, UFO e muitas outras. Até os primeiros momentos da segunda metade daquela década, ainda não era visto, exatamente, como uma ramificação: era tudo visto como hard rock, de certo modo.
A separação ficou mais clara a partir do fim da década de 1970, quando as bandas de NWOBHM (New Wave Of British Heavy Metal) começaram a aparecer. Iron Maiden, Motörhead, Def Leppard e Saxon, entre outros, passaram a liderar uma nova concepção de música pesada, que agregou grupos antigos e ainda fomentou a criação de novos nomes, seja nos Estados Unidos ou no Reino Unido.
Apesar de todas as conquistas até então, o heavy metal ainda era considerado um estilo de nicho devido à falta de penetração comercial dentro de outros grupos. Isso começou a mudar no início da década de 1980, especialmente devido às bandas do chamado “glam metal”. E o Quiet Riot, com seu “Metal Health”, foi o responsável por quebrar o último paradigma para consolidar o gênero como algo popular: o terceiro disco do quarteto, liderado pelo vocalista Kevin DuBrow, foi o primeiro registro de metal a chegar ao topo das paradas dos Estados Unidos, a Billboard 200.
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O caminho até essa conquista não foi nada fácil para o Quiet Riot. A banda foi criada em meados de 1975 e era formada por Kevin DuBrow nos vocais, Randy Rhoads na guitarra, Kelly Garni no baixo e Drew Forsyth na bateria. Após terem feito certo sucesso nas casas de shows de Los Angeles, o grupo lançou dois discos – “Quiet Riot” (1977) e “Quiet Riot II” (1978) – que só saíram no Japão. A repercussão foi abaixo da média e, em 1979, Rhoads recebeu uma proposta para tocar com Ozzy Osbourne. Kelly Garni foi substituído por Rudy Sarzo, que, pouco tempo depois, também foi chamado para estar com Ozzy.
O Quiet Riot chegou ao fim em 1980 e, até 1982, Kevin DuBrow montou uma banda nomeada a partir de seu sobrenome. Não vingou. O vocalista, então, remontou o Quiet Riot com o guitarrista Carlos Cavazo, o baterista Frankie Banali e o baixista Chuck Wright, após Randy Rhoads e Rudy Sarzo terem autorizado o uso do nome.
O produtor Spencer Proffer, que trabalhou em “Metal Health”, foi, também, o redescobridor do Quiet Riot. Ele foi o responsável por indicar a banda para a gravadora Pasha. “Quando ele (Spencer Proffer) nos viu tocando ao vivo, percebeu que havia algo diferente, um poder na banda e, em particular, o que Kevin e eu trazíamos. Ele me contratou para tocar em várias sessões de estúdio, antes do ‘Metal Health’. Ele viu o potencial e a química que existia entre Kevin e eu”, afirmou Frankie Banali, em entrevista ao Ultimate Classic Rock.
Em março daquele ano, Randy Rhoads morreu em um acidente de avião e, pouco tempo depois, Rudy Sarzo saiu da banda de Ozzy e ocupou a vaga de Chuck Wright. Estava montado o Quiet Riot que o público conhece – com o peso do luto, pela morte do amigo Randy, e com fome o bastante para conquistar o mundo.
– E se Randy Rhoads não tivesse morrido?
“Metal Health” foi lançado poucos dias antes do 1° aniversário da morte de Randy Rhoads. O álbum foi dedicado à memória do guitarrista e uma música, intitulada “Thunderbird”, foi composta em homenagem a ele. Contudo, o triste background e a história de persistência não atrapalharam a aura alegre e divertida presente nesse disco. O primeiro álbum do Quiet Riot para o mundo, fora do Japão, une perfeitamente a aura farrista do hard rock à solidez do heavy metal.
A expressão “metal” presente em “Metal Health” é justificada, perfeitamente, graças a músicas como “Love’s A Bitch”, “Run For Cover” e “Metal Health (Bang Your Head)”. O clima festivo é reforçado por faixas como “Slick Black Cadillac”, “Let’s Get Crazy” e ao grande hit “Cum On Feel The Noize”, cover do Slade. Há, ainda, canções mais lentas, como a balada “Don’t Wanna Let You Go” e a emotiva “Thunderbird” – como dito anteriormente, um tributo a Randy Rhoads.
No geral, “Metal Health” é um disco conciso e completo para a sua proposta, mas o sucesso veio, em especial, graças ao sucesso de “Cum On Feel The Noize”. Em sua versão original, de 1973, a música fez muito sucesso na Europa, mas não obteve repercussão nos Estados Unidos. Com o Quiet Riot, a canção ganhou vida nova na terra do Tio Sam, após ter chegado à 5ª posição das paradas de singles da Billboard.
O êxito de “Cum On Feel The Noize” foi revertido em vendas para “Metal Health”. Oito meses após ter sido lançado – em 26 de novembro de 1983 -, o álbum chegou ao primeiro lugar dos charts Billboard 200, desbancando “Synchronicity”, do The Police. O topo durou apenas uma semana, pois foi reivindicado por “Can’t Slow Down”, de Lionel Richie, mas foi o bastante para que o Quiet Riot se tornasse a primeira banda a emplacar um disco de heavy metal na primeira posição das paradas dos Estados Unidos.
À Ultimate Classic Rock, Frankie Banali falou sobre o feito conquistado por “Metal Health”. “As pessoas se esquecem que a banda fez isso, que chegamos ao primeiro lugar e que superamos Michael Jackson e The Police. Quando aconteceu, você precisa entender que estávamos na estrada, de forma primária como uma atração de abertura para muitas bandas grandes, então, estávamos imersos ao rigor diário das turnês. Porém, ao mesmo tempo, estávamos muito empolgados, porque todo garoto que queria ser músico sonhava em fazer um disco e cair na estrada. Só que fazer um disco e tê-lo em 1° lugar era fenomenal. Tocar no US Festival de 1983, às 11h30, em frente a 375 mil pessoas… como não se empolgar?”, contou.
O baixista Rudy Sarzo compartilhou da mesma emoção em entrevista à Guitar World. “Era novembro de 1983 e ficamos incrivelmente animados. ‘Metal Health’ ficou em 2° na Billboard por algum tempo e outros artistas estavam pulando na nossa frente. Na semana em que chegamos ao 1e lugar, o álbum vendeu 1 milhão de cópias! Estávamos abrindo para o Black Sabbath e tocamos nosso primeiro show como artista principal, no Cobo Hall de Detroit, no Réveillon. Aquela formação do Quiet Riot foi de dirigir pela Califórnia em uma perua abrindo para o Vandenberg para uma das maiores bandas dos anos 1980”, afirmou.
Atualmente, “Metal Health” contabiliza mais de 6 milhões de cópias vendidas somente nos Estados Unidos, onde conquistou certificação de 6x platina. O álbum também vendeu muito bem no Canadá, conquistando platina tripla graças às 300 mil cópias comercializadas.
Infelizmente, o Quiet Riot não conseguiu manter o fôlego em seus discos posteriores. “Condition Critical”, lançado em 1984, tentou emplacar outro cover do Slade – “Mama Weer All Crazee Now” -, mas não chegou ao mesmo patamar. Rudy Sarzo deixou a banda, que repatriou Chuck Wright para o álbum “QR III”, de sucesso ainda menor que seu anterior. Kevin DuBrow também saiu do grupo e acabaria, ali, qualquer chance de retomar as glórias dos tempos de “Metal Health”.
Apesar do futuro não ter sido muito grato com o Quiet Riot, a banda conquistou um feito incrível com “Metal Health”. Nada poderá apagar os nomes de Kevin DuBrow, Rudy Sarzo, Carlos Cavazo e Frankie Banali da história do heavy metal.
– 5 bandas que seguem sem membros da formação original
Kevin DuBrow (vocal)
Carlos Cavazo (guitarra)
Rudy Sarzo (baixo, sintetizador)
Frankie Banali (bateria)
Músicos adicionais:
Chuck Wright (baixo nas faixas 1 e 3)
Riot Squad, Donna Slattery, Spencer Proffer (backing vocals)
Tuesday Knight (backing vocals na faixa 10)
1. Metal Health (Bang Your Head)
2. Cum On Feel the Noize” (Slade cover)
3. Don’t Wanna Let You Go
4. Slick Black Cadillac
5. Love’s a Bitch
6. Breathless
7. Run for Cover
8. Battle Axe
9. Let’s Get Crazy
10. Thunderbird
– Leia: Os consistentes discos do Quiet Riot após a década de 1980