O Whitesnake sempre foi composto pelo vocalista David Coverdale e outros caras. Sem ele, não há como existir a banda. No entanto, o mais próximo que o Whitesnake chegou perto de existir sem Coverdale foi por meio do Manic Eden.
O Manic Eden foi formado em 1993, dois anos depois do primeiro fim do Whitesnake – seu frontman disse, à época, que se retiraria do meio musical – por três membros da então última formação do grupo de Coverdale: o guitarrista Adrian Vandenberg, o baixista Rudy Sarzo e o baterista Tommy Aldridge.
O trio recrutou o vocalista James Christian, consagrado pelo trabalho com o House Of Lords para ocupar o posto de frontman. Foi uma indicação de Tommy Aldridge, que trabalhou com Christian entre os anos de 1991 e 1993 – ano em que o House Of Lords deixou de existir.
Pouco antes do Manic Eden se consolidar, alguns desentendimentos fizeram com que James Christian fosse demitido. Ron Young, ex-vocalista do também recentemente desmanchado Little Caesar, assumiu o posto.
Com a formação fechada, o Manic Eden assinou um contrato com o selo japonês Victor Entertainment, afiliada à RCA. O primeiro – e único – disco da banda, autointitulado, foi lançado em março de 1994.
Apesar de conter parte da gravação que gravou “Slip Of The Tongue” (1989), um dos discos mais hair metal do Whitesnake, o álbum de estreia do Manic Eden segue outra pegada. Há uma semelhança muito mais evidente com a sonoridade praticada pelo Little Caesar.
As distorções e os refrães em coro deram lugar a um hard rock de levada bluesy, com bastante groove, timbragens magras e pegada mais direta. Tudo isto combinou com a voz rasgada de Ron Young, cuja rouquidão remete, automaticamente, a uma pegada mais classic rock.
Embora tenha demonstrado esse background em outros momentos, Adrian Vandenberg é o que mais surpreende. Ele dispensou distorções pesadas e guitarras “super strato” para deixar exalar o que aprendeu com Stevie Ray Vaughan – ainda que, obviamente, não tenha a mesma excelência do falecido bluesman. Também é curioso escutar as cordas de Rudy Sarzo sem tantos efeitos por trás e ouvir Tommy Aldridge mostrar mais groove e menos técnica ou agilidade.
Outro detalhe que surpreende um pouco é a duração das dez faixas. A canção mais curta tem 4 minutos e 12 segundos de duração e há quatro músicas que chegam ao 5° minuto. As composições são levemente mais extensas, com mais partes instrumentais. Trata-se de um padrão autoral diferente do Whitesnake da segunda metade da década de 1980 e até do Little Caesar – ambos os grupos estavam acostumados a lançar músicas mais curtas.
Apesar do primeiro e único disco do Manic Eden ser recheado de boas músicas, a repercussão foi bem tímida. A banda sequer chegou a entrar em turnê para divulgar o álbum – o que pesa negativamente, em termos de repercussão, considerando a época.
Ainda no primeiro semestre de 1994, o Whitesnake retomou as suas atividades. O grupo lançou o “Greatest Hits” e saiu em turnê com Warren DeMartini na guitarra, Denny Carmassi na bateria e Paul Mirkovich nos teclados, além dos retornos de Adrian Vandenberg e Rudy Sarzo – e, claro, David Coverdale.
Graças a isso, o Manic Eden chegou ao fim. No entanto, seu disco de estreia merece atenção.
Manic Eden – “Manic Eden” [1994]
Músicos:
Ron Young (vocal)
Adrian Vandenberg (guitarra, teclados)
Rudy Sarzo (baixo)
Tommy Aldridge (bateria, percussão)
Músicos adicionais:
CeCe White (backing vocals)
Sara Taylor (backing vocals)
Chris Trujillo (percussão)
Faixas:
01. Can You Feel It
02. Gimme A Shot
03. Fire In My Soul
04. Do Angels Die
05. Pushing Me
06. Dark Shade Of Grey
07. Keep It Coming
08. When The Hammer Comes Down
09. Ride The Storm
10. Can’t Hold It
Ouça o disco na íntegra: