Pensei que não conseguiria nem 10 bons discos ao começar a fazer a lista de 1997. No entanto, tive uma grata surpresa ao vasculhar um pouco mais e encontrar ótimos álbuns lançados em um ano pouco mencionado por fãs de rock e heavy metal.
Nada de muito impacto aconteceu em 1997, é verdade. O metal ainda começava a tomar uma nova forma, com o nu metal ainda em estágio de configuração. O power metal ainda estava em voga, especialmente no Brasil, com o uso de uma fórmula musical que logo se desgastaria em alguns anos. E os gêneros mais extremos, como o death e o black metal, desfrutaram de ramificações ainda mais precisas.
As maiores bandas do segmento estavam com formações alternativas (Iron Maiden, Judas Priest) ou dedicadas a trabalhos mais experimentais (Metallica, Megadeth). O hard rock seguia no underground e até mesmo o grunge havia perdido forças.
Não há grife, nem clássicos incontestáveis, na lista abaixo. Há 15 bons discos de bandas importantes lançados no ano de 1997 – muitas delas, sob a exigência de mudar e sair um pouco de suas zonas de conforto. Veja:
Bruce Dickinson – “Accident of Birth”
Depois do alternativo “Skunkworks”, Bruce Dickinson voltou ao heavy metal que o consagrou em “Accident of Birth”. A parceria com Roy Z rendeu ótimas músicas e a guitarra de Adrian Smith foi fundamental para o resgate sonoro aqui proposto.
Deftones – “Around the Fur”
O Deftones foi um dos responsáveis por desenhar o nu metal que emplacaria, de vez, nas rádios anos depois. Todavia, o grupo californiano sempre foi um pouco mais diferente de seus contemporâneos, por fazer uma salada mista sonora mais diversa. Aqui, há influências até de new wave em algumas canções. Goste ou não, soa único.
Dream Theater – “Falling Into Infinity”
Considerado um dos grandes tropeços do Dream Theater, “Falling Into Infinity” tem seus bons momentos. A proposta de fazer um disco mais mainstream gerou canções agradáveis. O problema é que a tracklist, em conjunto, não agradou e o sucesso comercial sequer veio.
Faith No More – “Album of the Year”
O último disco do Faith No More até “Sol Invictus” (2015) não é um dos melhores momentos da banda, em meu ver. Os experimentos musicais não foram bem inseridos por aqui. No entanto, o disco ganhou, curiosamente, um status mais cult após o grupo se separar, já em 1998.
Foo Fighters – “The Colour And The Shape”
Por mais que Dave Grohl seja exaltado por gravar o disco de estreia do Foo Fighters sozinho, é em “The Colour And The Shape” que as coisas começam a funcionar mesmo. Algumas das melhores músicas da banda, como “Monkey Wrench”, “Everlong” e “My Hero”, estão por aqui.
Hammerfall – “Glory to the Brave”
O Hammerfall foi uma das últimas bandas de power metal a se consagrarem com a fórmula do gênero – curiosamente, seguem como reféns dela até hoje. “Glory to the Brave” soa, por vezes, como um Manowar atualizado. Os trabalhos sucessores são melhores, mas esse disco foi importante para revelar o grupo ao mundo do metal.
Incubus – “S.C.I.E.N.C.E.”
O último disco com algum resquício de funk/nu metal por parte do Incubus. “S.C.I.E.N.C.E.” é uma baita salada mista, que agrega as ramificações anteriormente citadas ao eletrônico e hip hop. É inventivo e diferente.
Jonny Lang – “Lie To Me”
O blues rock ficou meio esquecido na década de 1990, mas “Lie To Me”, segundo de Jonny Lang, reacendeu essa chama. Muito conciso, o disco explicita a maestria de Lang como vocalista e guitarrista. Com uma produção melhor, poderia ter se saído ainda melhor.
Judas Priest – “Jugulator”
Sete anos após “Painkiller”, o Judas Priest estava com um novo vocalista, Tim “Ripper” Owens. A proposta também mudou um pouco: a aposta no speed metal foi convertida em algo um pouco mais contemporâneo, com pitadas de thrash/groove metal, em destaque na época. Apesar da ausência de Rob Halford, “Jugulator” é um ótimo disco e merece maior atenção dos fãs.
Kiss – “Carnival Of Souls: The Final Sessions”
O disco alternativo do Kiss só foi lançado porque a banda estava perdendo dinheiro com a pirataria. As gravações acabaram pouco antes da formação original se reunir. Apesar da proposta um pouco deslocada, há ótimas músicas em “Carnival Of Souls”. É um disco obscuro, intenso e visceral.
Megadeth – “Cryptic Writings”
Muitos criticam “Risk”, mas, se “Cryptic Writings” não tivesse “Trust” e “She-Wolf” em sua tracklist, teria passado batido pelos fãs. O álbum é mediano e soa um pouco sem inspiração, provavelmente, devido ao desgaste interno da formação na época.
Metallica – “Reload”
O duo “Load” + “Reload” é um tanto injustiçado pelos fãs, por estar menos associado ao metal e mais a uma espécie de hard rock noventista. Ainda assim, há boas canções, especialmente em “Reload”. A banda soa madura e consistente na longa tracklist do disco. Merece mais atenção.
Stratovarius – “Visions”
O disco mais importante do Stratovarius e um dos mais fortes da leva power metal que emergiu na segunda metade da década de 1990. É como um Helloween turbinado. O problema é que logo enjoa, mas, na época, teve o seu valor.
Whitesnake – “Restless Heart”
Há, evidentemente, discos melhores do Whitesnake. Tanto que “Restless Heart” foi concebido como um trabalho solo de David Coverdale. Mas a relativa voltas às raízes blues rock do cantor merecem uma menção nessa lista. O disco representou a segunda tentativa de retorno do grupo na década de 1990 – e, assim como a anterior, não deu certo. Somente anos depois, a banda voltou à atividade, com o co-piloto Doug Aldrich ao lado de Coverdale.
Yngwie J. Malmsteen – “Facing the Animal”
O último disco realmente bom de Yngwie Malmsteen. A boa participação de Mats Leven nos vocais e Cozy Powell na bateria deram o frescor necessário ao álbum, repleto de músicas grudentas.