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Ross Robinson: o cerne da polêmica Korn vs. Sepultura

Jonathan Davis chamou a atenção ao dizer aquilo que o mundo já sabia e que até mesmo os irmãos Cavalera haviam admitido anteriormente: o Sepultura se influenciou bastante no Korn para fazer “Roots”. O sexto álbum da banda brasileira, lançado em 1996, tem sonoridade parecida com o debut do grupo americano, de 1994.

“O que foi um grande elogio, mas também foi algo zoado, foi o Roots, do Sepultura. Foi uma cópia escancarada do Korn”, disse Jonathan Davis, durante entrevista recente à Metal Hammer. Em outros depoimentos, tanto antigos quanto atuais, os irmãos Max e Igor Cavalera e até mesmo Andreas Kisser comentaram essa influência – evitando, é claro, o termo “cópia”, já que não se trata exatamente de um plágio ou algo do tipo.

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Questionado em um programa de rádio sobre a influência, Igor Cavalera foi o que melhor opinou sobre o assunto. “Acho que sim. Não só eles (o Korn), mas o Deftones na época […] Mas havia muito mais do que só aquilo. É uma parte de uma combinação. Quando tivemos alguém como Carlinhos Brown, ou até de Mike Patton (Faith No More), outras coisas aconteceram”, disse.

Tanto Jonathan Davis quanto Igor Cavalera citaram, em suas entrevistas, um nome em comum: o produtor Ross Robinson, que trabalhou em “Roots” e no álbum de estreia do Korn. E ele é o cerne dessa questão.

Ross Robinson e o metal na década de 1990

Não se trata de falar, somente, das bandas. Robinson foi um dos grandes produtores das décadas de 1990 e 2000 e exerceu sua influência em dois movimentos distintos que cresceram no período: o nu metal e o post-hardcore.

Como grande parte dos produtores, Ross Robinson também começou em uma banda. Ele foi guitarrista de pequenos grupos de thrash metal, incluindo o Murdercar, que contava com Dave McClain (futuramente do Machine Head). Era conhecido no underground de Los Angeles, nos Estados Unidos.

O primeiro trabalho produzido por Ross Robinson foi “Concrete”, do Fear Factory, em 1991. O disco, que seria o primeiro do grupo, foi gravado nos estúdios de Blackie Lawless (W.A.S.P.), mas não foi lançado até 2002. O motivo? A banda não gostou do resultado, engavetou o projeto e gravou “Soul Of A New Machine”, com outro produtor.

Robinson foi engenheiro de som em “The Crimson Idol” (1992), do W.A.S.P., e produziu os dois primeiros trabalhos do Korn: a demo “Neidermayer’s Mind” (1993) e o álbum de estreia da banda, de 1994. A partir daí, consolidou-se como um bom nome no segmento alternativo, até que se consagrou de vez ao trabalhar em “Roots”.

Os álbuns de Korn e Sepultura que geraram todo esse conflito – entre fãs, visto que os músicos envolvidos concordam com a influência – estão entre os primeiros trabalhos de Ross Robinson, que, na época, não havia nem mesmo chegado aos 30 anos de idade. Como um produtor tão inexperiente seria o cerne deste “problema”?

O motivo não está somente pelo que ele fez até 1996. O trabalho de Ross Robinson nos anos seguintes confirma, ainda mais, a teoria. Álbuns como “Three Dollar Bill, Yall” (Limp Bizkit), “The Burning Red” (Machine Head) e os discos de estreia do Soulfly e do Slipknot contam com o mesmo som denso que Robinson encontrou no debut do Korn e em “Roots”, do Sepultura.

O apreço pelas afinações graves, o destaque à seção rítmica e o olhar diferenciado ao groove não foram invenções de Ross Robinson. No entanto, ele foi um dos poucos produtores a gerenciar isso tão bem, especialmente por saber como trabalhar com elementos tão “sujos” sem comprometer o resultado final.

Na mesma entrevista dada por Igor Cavalera e citada anteriormente neste texto, o músico revela que o próprio Sepultura foi atrás de Ross Robinson. “(O som) Foi uma das razões pelas quais Ross foi chamado – porque ele conseguia capturar aquele som visceral na época, e era muito legal”, disse.

Mas é só Ross Robinson?

Antes mesmo de se falar em “cópia”, deve-se considerar não só as bandas ou os produtores. É importante entender a influência que o estilo de produção de Ross Robinson exerceu no momento, mas se fosse só isso, seria fácil de compreender.

Os trabalhos do Korn e do Sepultura na década de 1990, bem como os de bandas como Deftones, Pantera, Fear Factory e outras, estão inseridos em um movimento sonoro que é chamado de nu metal, sejam como trabalhos influentes ou influenciados. Esse foi o estilo de metal mais popular (e, provavelmente, o último grande subgênero) entre os anos 1990 e 2000.


No fim das contas, a polêmica sobre “quem copiou quem” está somente na cabeça dos fãs, que, de certa forma, ainda marginalizam o nu metal. A polícia do metal purista pode tentar me prender, mas é fato que Pantera, Sepultura, Anthrax, Slayer, Metallica e outros nomes “intocáveis” influenciaram e/ou se deixaram influenciar pela estética do nu metal em algum momento de suas trajetórias.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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