Izzy Stradlin: mitos e contradições sobre o “não” ao Guns N’ Roses

Antes de dar início a este texto, é válido reforçar que a música é, sim, negócio. Uma banda é como uma empresa e a música é um produto que pode atender tanto a públicos gerais quanto nichos específicos.

Dito isso, vamos aos mitos e as contradições que envolvem o guitarrista Izzy Stradlin e sua relação aparentemente conturbada com o dinheiro e sua ex-banda, o Guns N’ Roses.

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Em recente entrevista ao “Fantástico”, da Rede Globo, Axl Rose disse que Izzy Stradlin não está participando da atual reunião do Guns N’ Roses porque “ele faz as coisas do jeito dele, seja lá qual for este jeito”. Stradlin veio a público negar a declaração de Rose e afirmou que não topou voltar para a banda porque “não quiseram dividir a receita em partes iguais”.

O não retorno de Izzy Stradlin é, ao mesmo tempo, previsível e imprevisível. Por um lado, Stradlin se tornou uma pessoa reclusa e lançou alguns discos solo desde a década de 1990, mas praticamente não embarcou mais em turnês – ele saiu do GN’R justamente porque dizia estar cansado das longas excursões.

Por outro lado, entre os músicos da chamada “formação clássica” do Guns N’ Roses, Izzy Stradlin foi aquele que mais vezes subiu ao palco com as formações posteriores da banda. O guitarrista tocou com o grupo em cinco apresentações de 1993, 13 em 2006 e seis em 2012.

Aparentemente, a relação entre Izzy Stradlin e Axl Rose era (e talvez tenha sido mesmo) a mais amistosa entre Rose e os demais ex-integrantes. O fato de terem nascido na mesma cidade (Lafayette, em Indiana, Estados Unidos) e se conhecido ainda adolescentes pode ter ajudado nisso.

A proximidade entre Axl Rose e Izzy Stradlin fez com que eles se tornassem os grandes compositores do Guns N’ Roses. E é esse fato que nos leva ao primeiro mito relacionado a Stradlin.

Izzy Stradlin, o grande compositor?

Das 12 músicas de “Appetite For Destruction”, oito foram feitas por Izzy Stradlin e mais algum parceiro e uma, “Think About You”, é mencionada como uma composição 100% dele. As três faixas que não contaram com colaboração concreta de Stradlin no processo autoral são “Welcome To The Jungle”, “It’s So Easy” e “Rocket Queen”.

Das oito citadas, sete foram feitas ao lado de Axl Rose – somente “Mr. Brownstone” não tem o nome do vocalista, pois cita-se que é obra de Izzy Stradlin e Slash.

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Axl Rose, por sua vez, é creditado como co-autor de nove músicas: ele só não contribuiu em “It’s So Easy”, “Think About You” e a já mencionada “Mr. Brownstone”.

No curto EP “GN’R Lies”, das quatro músicas inéditas, três contém créditos ao cinco integrantes da banda à época. Somente uma, “Patience”, tem menos autores envolvidos – no caso, Axl Rose e Izzy Stradlin.

A situação fica um pouco mais individualista em “Use Your Illusion”, mas ainda há um trabalho conjunto por aqui. No primeiro, há oito créditos autorais para Izzy Stradlin entre 15 músicas (“Live And Let Die” foi desconsiderada, por ser um cover): “Right Next Door to Hell”, “Dust N’ Bones”, “Don’t Cry”, “Perfect Crime”, “Bad Obsession”, “Bad Apples”, “You Ain’t The First” e “Double Talkin’ Jive” – as duas últimas, creditadas somente a Stradlin.

Já o nome de Axl Rose é citado nos créditos de 11 das 15 músicas consideradas. Somente “Dust N’ Bones”, “You Ain’t The First”, “Bad Obsession” e “Double Talkin’ Jive” não teriam contado com a colaboração do cantor em um âmbito autoral.

No segundo “Illusion”, Izzy Stradlin quase não contribui: são quatro composições, sendo que três são co-assinadas em conjunto a Axl Rose. “14 Years”, “You Could Be Mine” e a versão alternativa de “Don’t Cry” são da dupla Stradlin/Rose, enquanto “Pretty Tied Up” é creditada somente ao guitarrista.

O cantor, por sua vez, só não contribuiu em “Pretty Tied Up”, de Izzy Stradlin, e “So Fine”, de Duff McKagan – além, é claro, do cover de “Knockin’ On Heaven’s Door”.

Izzy Stradlin não é o midas da composição que muitos gostam de pintar. Foi um músico importante para a banda, mas Axl Rose tem mais créditos com relação às composições e músicos como Slash e Duff McKagan deram o timbre do grupo – ou seja, a faceta instrumental que faz as canções serem tão reconhecíveis.

Outro mito: a banda degringolou após a saída de Izzy Stradlin?

Por acaso, o Guns N’ Roses não lançou material inédito após a saída de Izzy Stradlin, concretizada em 1991 – com exceção de “Chinese Democracy”, de 2008. No entanto, nem de longe a situação tem a ver com a ausência de Stradlin.

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De uma forma ou de outra, todos os músicos da “formação clássica” Guns N’ Roses mostraram que conseguem compor sozinhos – seja Axl Rose em sua versão reformulada do GN’R, Slash em carreira solo ou no Snakepit, Duff McKagan no Loaded ou Steven Adler com projetos como Adler. “Chinese Democracy” não tem um hit, mas tem ótimas canções, talvez afetadas por um Rose perdido e cansado de si.

O Guns N’ Roses não lançou nada após a saída de Izzy Stradlin porque a própria banda se deteriorou depois do fim da turnê que divulgava o “Use Your Illusion”. E Stradlin não seria o responsável por salvar o grupo, até porque foi o primeiro a pular fora (Steven Adler saiu antes, mas foi demitido).

Mas Izzy Stradlin não merece ganhar o mesmo que os demais?

Na minha visão, não. Justamente pelo conceito empresarial que existe em bandas, descrito no primeiro parágrafo deste texto. Izzy Stradlin foi o primeiro sócio a abandonar a empresa, por livre e espontânea vontade.

Não há dúvidas: Izzy Stradlin está no direito de cobrar o quanto acha justo, assim como Axl Rose, detentor dos direitos da marca, pode recusar a proposta. Mas é estranho voltar após 25 anos e exigir a mesma quantia que o vocalista que manteve a engrenagem funcionando (mesmo que tão mal em alguns momentos) durante todo esse período.

Nem mesmo o argumento de que “Izzy Stradlin foi importante nas composições” serve neste caso, porque sua importância tem sido reconhecida nos créditos e nos gordos pagamentos de royalties que tem recebido ao longo das últimas décadas. É isso, inclusive, que dá garantias para que Stradlin continue recluso, sem dar a mínima aos fãs, seja com novos lançamentos, apresentações ou atividade em redes sociais.

No fim das contas, enquanto fãs brigam por romantismos relacionados a “qual músico foi mais importante no processo de composições”, Izzy Stradlin deixou claro: não voltou por causa de grana.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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