As últimas semanas foram de promoções no mercado de shows internacionais. Houve ofertas de ingressos para Black Sabbath em quatro cidades, Scorpions em duas e Whitesnake também em quatro, além de exemplos fora do universo rock/metal.
Há apresentações internacionais cujos ingressos não passaram por promoções, mas claramente encalharam em suas vendas. Casos de Aerosmith em Recife, com entradas ainda disponíveis para todos os setores, e Richie Sambora em Porto Alegre, que aconteceu na última semana em um vazio Pepsi On Stage.
A maioria dos shows, evidentemente, lota. Mas algumas datas já mostram fragilidade. Faz com que apareça o questionamento sobre esse mercado, tão inflacionado. As evidências são claras: o cenário de apresentações internacionais no Brasil precisa ser revisto.
Entre os maiores shows que virão ao Brasil no segundo semestre, dois contam com o “fator despedida”. O Black Sabbath está, oficialmente, em sua turnê final. Já o Aerosmith não entrou, ainda, em uma excursão do tipo, mas Steven Tyler confirmou em entrevistas que a banda não passa de 2017.
Mesmo com esse apelo, há problemas na comercialização de ingressos – Aerosmith em Recife e Black Sabbath em todos os shows no Brasil. O principal motivo é o alto custo para o consumidor, do momento em que adquire a entrada até quando se sai do local do show. Tudo é inflacionado.
Além do caríssimo ingresso, paga-se uma taxa de conveniência para se obter o serviço de SACs e sites que não funcionam direito. Dentro dos locais das apresentações, o valor é alto para se consumir. Bizarrices como garrafa d’água a R$ 6 ou copo de cerveja a R$ 12 não são incomuns de se encontrar. E, geralmente, não se pode entrar com alimentos ou bebidas – é necessário se render ao preço praticado por ali.
Dessa forma, parte dos fãs fogem. Ficam aqueles que gostam muito, têm uma boa grana guardada, possuem um cartão de crédito robusto e/ou estão empolgados demais para aquela ocasião.
Promoções mascaram problemas
O caso mais curioso é o do Black Sabbath, cujos shows lotaram em 2013, mas que, agora, são alvo de promoções. Por bons dias, pares de entradas em arquibancadas foram comercializados a R$ 125, tanto na época do Dia dos Namorados quanto na última semana, chamada de “Semana do Rock”. Ainda assim, há setores com ingressos disponíveis. Ok, as apresentações só acontecem em dezembro, mas se existem ofertas promocionais, é porque há a preocupação da produção em não conseguir atrair o público até lá.
O mercado de shows no Brasil tem sido cada vez mais explorado. Bandas que não costumavam passar por aqui, agora, vêm com alguma frequência. Há tantas opções de apresentações internacionais de rock/metal no segundo semestre que o consumidor precisa escolher – e economizar bastante, pois os ingressos andam bem caros.
Apesar da evolução do mercado, a experiência oferecida ainda é ruim. Sites de compra cheios de problemas técnicos, locais inadequados, estruturas incompatíveis, atrações de abertura (quando há) escolhidas mediante pagamento de jabá, alimentos e bebidas de qualidade questionável oferecidos na área interna são só alguns dos problemas a serem listados.
Crise?
Não dá para usar a crise econômica como argumento principal para esses problemas, porque ainda há shows lotados, uma demanda ainda considerável e problemas que sempre existiram. O momento de recessão não serve como impedimento nesse contexto.
Se há uma crise, está no cerne desse mercado. Cobrar caro e não oferecer uma experiência de acordo com o valor faz com que muitos desanimem de ir a apresentações desse porte. Não são muitos os encorajados a pagar mais da metade de um salário mínimo para encarar todos os problemas anteriormente listados.
Além da urgência em melhorar as condições oferecidas ao público (ou abaixa o valor, ou aumenta a qualidade do produto como um todo), há outras alternativas que ajudam o mercado de shows. Turnês conjuntas são um exemplo: nas duas últimas passagens do Iron Maiden pelo Brasil, a banda veio com outros grupos de grande porte para atrair os fãs. Em 2013, por exemplo, Slayer e Ghost acompanharam os britânicos. Já neste ano, o Anthrax abriu as apresentações.
Há outras alternativas e existe muito a se melhorar nesse mercado. Só não dá para confiar sempre em turnês de despedida e atrações nababescas. Não há público que suporte, por tanto tempo, um mercado tão inflacionado.
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