Por favor, respeitem o Babymetal

Milhões de visualizações em seus clipes no YouTube. Presença certa em grandes festivais pelo mundo. Garantia de lotação máxima em arenas dentro e fora do Japão. Milhares de seguidores em redes sociais. Razoável sucesso de vendas com o disco mais recente, “Metal Resistance”.

O Babymetal tem os holofotes que muitas bandas de metal gostariam de obter – especialmente as mais atuais, já que, nos últimos 10 ou 15 anos, nada de impactante surgiu entre os nomes mais novos do estilo. Trouxe mais fãs para dentro do estilo e serviu como uma espécie de introdução para interessados em um gênero musical que, apesar de ter grandes expoentes, respira por aparelhos.

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Ainda assim, o Babymetal enfrenta uma resistência tão burra dentro da “comunidade metal” que chega a ser incompreensível. Os mais tradicionais não só bradam pelos quatro ventos que odeiam a banda como também se preocupam em criticar os discos, as apresentações e os fãs.

A maioria da “comunidade metal” é composta por esses tipos mais tradicionais. Para ser mais exato, são tiozões ortodoxos e supostos prodígios super-entendidos sobre música. Resiste-se às novidades da mesma forma que espera-se que um novo Iron Maiden ou Judas Priest chegue para “salvar os impuros que não ouvem o verdadeiro metal”. Foi assim com o new metal, com o metalcore e basicamente com qualquer subgênero menos padronizado que tenha surgido nas últimas duas décadas.

É como as religiões mais tradicionais – paradoxalmente, algo que a “comunidade metal” tanto critica. Até que algo novo seja aceito, passa-se por inúmeros testes. O Ghost precisou de três discos e elogios de dezenas de músicos consagrados para convencer os puristas de que “aquilo é metal”. O Slipknot precisou de mais discos, turnês incendiárias e de um Stone Sour como projeto paralelo de alguns integrantes para conquistar a aceitação. Não é mais uma questão de gosto ou empatia, mas sim de avaliação estética. É metal? Pode. Não é metal? Não pode.

O mais grave é que, como em outros casos na “comunidade metal”, a rejeição ao Babymetal costuma ser fundamentada em preconceitos. Para os puristas, Babymetal é “coisa de viado”, “coisa de mulherzinha”, “coisa de criança”. De acordo com essa concepção retrógrada, homossexuais, mulheres e crianças estão proibidos de ouvir metal. (Neste outro texto – clique aqui -, há uma resposta pronta para argumentos prontos como “Rob Halford é um gay de respeito”, “não há preconceito no metal” ou “há muitas mulheres no metal”)

Não significa nada, mas o Babymetal é metal. Além disso – e o que realmente vale algo – é que se trata de um dos conjuntos mais notáveis dentro do estilo dos últimos anos. Agrega de diversas formas a um cenário defasado, cansado e tradicionalista ao extremo.

Não é só popularidade. O Babymetal é contestador. Uma banda nipônica, capitaneada por três adolescentes, foge completamente da estética ocidental do metal, que só aceita mulheres se forem “gostosas” ou se houver alguma adaptação ao que os homens já praticam há anos no estilo. A possibilidade musical apresentada pelo Babymetal é um tapa na cara daqueles que entendem o metal, o rock ou até a música como cagação de regra.

Ninguém é obrigado a gostar de Babymetal, nem deve deixar de criticar a sonoridade com argumentos válidos. Escrevo esse texto sem ter nenhuma música do grupo em minha playlist. Deve-se, porém, entender que a banda é importante, é classificada como metal e ninguém pode ser moralmente reduzido por gostar dela. Especialmente com base em preconceitos.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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