Entrevista: Jair Naves surge mais introspectivo em novo disco

Conhecido pelo seu trabalho, construído na década passada, com a banda Ludovic, de rock alternativo, o músico Jair Naves começa a se libertar das amarras de sua obra passada. Lançado de forma independente e por meio de financiamento coletivo (crowdfunding), “Trovões a me atingir” (2015) é o segundo álbum de Naves.
Com arranjos mais lapidados, traz uma perspectiva mais introspectiva e menos visceral que o anterior, “E você se sente numa cela escura, planejando a sua fuga, cavando o chão com as próprias unhas”, lançado em 2012, que garantiu a Jair Naves o prêmio de artista revelação na categoria música popular pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), ainda no mesmo ano. “Meu primeiro disco tinha uma herança muito mais direta de punk rock e pós-punk. Era um registro bem mais cru e direto, tanto na sonoridade quanto nas letras”, afirma Jair Naves, em entrevista exclusiva.
Apesar das mudanças que deixaram o som até mais afável – e, naturalmente, um pouco mais comercial e abrangente -, Jair Naves afirma que “Trovões a me atingir” é uma “narrativa complementar” a “E você se sente numa cela escura, planejando a sua fuga, cavando o chão com as próprias unhas”. “Embora os dois tenham abordagens diferentes, acabam falando sobre temas parecidos. É quase como ter duas visões sobre os mesmos sentimentos”, diz.
A “grandiosidade” dos convidados
Além da banda que o acompanha nos palcos (Renato Ribeiro no violão e guitarra, Felipe Faraco no teclado e sintetizador, Rafael Findans no baixo e Thiago Babalu na bateria), Jair Naves contou com participações de Camila Zamith (Sexy Fi) e Bárbara Eugenia, cantoras conhecidas no cenário alternativo, e do flautista Beto Mejia (Móveis Coloniais de Acaju) além de Guizado (trompete), Raphael Evangelista (violoncelo) e Caio e Igor Bologna (percussão) para a gravação do disco “Trovões a me atingir”.
“Raras são as chances de reunir tantos talentos em torno de um mesmo trabalho. Desde o começo, a ideia era fazer com que ‘Trovões a Me Atingir’ soasse mais grandioso e tivesse mais elementos que o anterior, cuja maior qualidade era justamente sua crueza e seu caráter de urgência”, afirma Jair Naves.
Alternativo até nos bastidores
“Trovões a me atingir”, de Jair Naves, é mais um projeto bem-sucedido entre iniciativas de financiamento coletivo (crowdfunding). Artistas de grande porte, que já estiveram associados a gravadoras tradicionais, como Raimundos e Dead Fish, já utilizaram a ideia. O método se baseia em receber pagamentos antecipados pelo produto artístico, que é oferecido como “recompensa” pelo proponente do projeto.

Entrevista
Em entrevista exclusiva, Jair Naves justifica a campanha de financiamento coletivo necessária para o lançamento de “Trovões a me atingir”.

Igor Miranda: Já podemos dizer que o financiamento coletivo se tornou tendência. Não somente entre artistas com tempo relativamente curto de carreira, mas também entre nomes mais consagrados – Raimundos e Dead Fish, por exemplo, utilizaram o sistema. Como funcionou esse trabalho para arrecadar recursos?

Jair Naves: Foi a melhor ideia possível naquele momento, criar uma campanha de financiamento coletivo para cobrir os gastos com o disco. Durante 45 dias, mantivermos uma página no Catarse com diferentes recompensas para que as pessoas interessadas no meu trabalho pudessem fazer parte dessa iniciativa. A uma semana de o prazo chegar ao fim, atingimos nossa meta. Creio que é uma excelente alternativa para artistas independentes que já possuem um público formado.
Em comparação ao seu disco anterior, “E você se sente numa cela escura, planejando a sua fuga, cavando o chão com as próprias unhas”, percebi uma sonoridade mais orientada ao rock alternativo e até um pouco experimental no lançamento mais atual, enquanto o antecessor parece puxar um pouco para o folk rock. O que você destacaria de diferente entre esses dois trabalhos?
Meu primeiro disco tinha uma herança muito mais direta de punk rock e pós-punk. Era um registro bem mais cru e direto, tanto na sonoridade quanto nas letras. Dessa vez optei por tentar algo no caminho oposto: mais reflexivo, complexo, mais difícil de ser compreendido apenas em uma audição. Embora os dois tenham abordagens diferentes, acabam falando sobre temas parecidos. É quase como ter duas visões sobre os mesmos sentimentos. Uma narrativa complementar, de alguma maneira.
O rock alternativo dá a tônica de “Trovões a me atingir”, mas o disco traz outras experiências à medida que as participações especiais se acentuam. Gostaria que contasse um pouco como foi trabalhar com os convidados em questão.
Foi ótimo, raras são as chances de reunir tantos talentos em torno de um mesmo trabalho. Desde o começo a ideia era fazer com que “Trovões a me atingir” soasse mais grandioso e tivesse mais elementos que o anterior, cuja maior qualidade era justamente sua crueza e seu caráter de urgência. A partir daí veio a vontade de usar coros femininos, vozes masculinas complementares, instrumentos de sopro, percussão, enfim… fico feliz em ver que tanta gente especial aceitou fazer parte de algo tão importante para mim.
Em 2012, você foi eleito o artista revelação na categoria música popular pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Alguns artistas, por muitas vezes, não saem do campo “revelação” – seja pela visão do público, seja pela própria concepção dos trabalhos seguintes. Anos depois, como você se enxerga? Ainda uma “revelação”?
Difícil dizer, não tenho esse tipo de visão do que eu faço. Exerço uma cobrança enorme em mim mesmo para sempre ampliar meus horizontes artísticos e evoluir enquanto cantor, compositor e músico. E creio que isso é o melhor que eu posso fazer. Se conseguirei ou não outra conquista como o prêmio da APCA que você mencionou, uma das maiores alegrias da minha vida, é outra história.
Apesar de ser um trabalho relativamente recente, gostaria que me contasse como está sendo a recepção de “Trovões a me atingir”.
Está sendo ótima. No processo de composição desse disco, eu tinha consciência do desafio que representa o segundo álbum, especialmente por ser o sucessor de uma estreia tão bem recebida. Felizmente até agora o retorno tem sido extremamente positivo.
Você está trabalhando com a divulgação, em turnê? O que mais vem por aí?
Atualmente estamos em turnê e acabamos de lançar um documentário sobre o processo de gravação do disco (“Incêndios – Os bastidores de Trovões a me atingir”). Além disso, estamos preparando o primeiro clipe desse álbum e um lançamento surpresa para o fim do ano. Vêm coisas boas por aí.
Confira o documentário “Incêndios – Os bastidores de Trovões a me atingir”, com o processo de gravação do disco:

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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