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Rock City Angels: banda que já teve Johnny Depp como guitarrista tem história bizarra

A história do consagrado ator Johnny Depp com o Rock City Angels é curta. Vale a pena fazer todo um retrospecto da banda, visto que sua biografia é, no mínimo, bizarra.
Sob o nome inicial de The Abusers, o grupo nasceu após o vocalista Bobby Durango e o baixista Andy Panik assistirem ao documentário “The Decline Of Western Civilization”, em 1981. Tocavam Punk Rock nessa banda, até que se mudaram para Los Angeles alguns anos depois, passaram a tocar Hard Rock e incorporar o visual Glam, tão famoso na década de 1980. Não poderia ser diferente, pois Los Angeles era o berço do Hair Metal na época. Nascia, portanto, o Rock City Angels.
A banda, então, ficou famosa pela região da South Florida, e se firmou com Bobby e Andy, Davy Lightning, Brad Shaw e Billy Starr. A partir daí, vários integrantes passaram pelo grupo, inclusive o próprio Johnny Depp, que ainda era um jovem guitarrista que tentava conciliar a carreira de músico e ator. Depp ficou com o grupo por aproximadamente um ano. Nesse tempo, ele co-escreveu a música “Mary”, que é a 3ª faixa do primeiro disco do Rock City Angels, “Young Man’s Blues”.
O Rock City Angels já tinha uma demo tape gravada, e esta impressionou a empresária Ann Boleyn, da gravadora New Renaissance Records, em 1986, quando logo foram contratados para gravar um disco (que foi concluído e só lançado em 2000, pela New Renaissance). Ao mesmo tempo, o poderoso David Geffen, da Geffen Records, assistu à banda abrindo um show do Jane´s Addiction. Boleyn havia fechado com a banda neste período e começou a receber ameaças de morte para que rescindisse o contrato. Ela não rescindiu, até que, “misteriosamente”, algum motorista à mando da Geffen tentou bater no carro de Boleyn para que caísse da estrada. A empresária, então, largou o grupo, deixando o caminho livre para a grande gravadora.
O que atraiu tanto o Rock City Angels foi o seu diferencial. O grupo fazia uma mistura entre Hard Rock, Punk Rock e Blues/Southern Rock, com visual Glam. Era algo novo para a época, ainda mais com o estouro de bandas como Europe, Bon Jovi e King Kobra, que exageravam nos teclados e nos refrões com coros e palminhas. A Geffen cresceu os olhos e, logo de cara, um contrato de 6 milhões de dólares foi oferecido para o quinteto.
A partir daí, as coisas pioram. Ao fechar com a Geffen, mandaram o Rock City Angels para um estúdio em Memphis, Tennessee (cidade bem distante de Los Angeles) para que gravassem seu disco de estreia. Isso fez com que Johnny Depp saísse da banda, pois ele não queria deixar Hollywood. Pouco após recusar a viagem para Memphis, passou a atuar no seriado 21 Jump Street, sendo o marco inicial de sua hoje milionária carreira de ator. Por lá, tiveram que ficar por mais de dois anos, para que a banda se adaptasse aos padrões impostos pela Geffen. “A gravadora não queria que usássemos maquiagem, não gostava do nosso nome e nem da nossa música”, afirma Andy Panik em uma antiga entrevista.
Segundo rumores, o real motivo desse confinamento seria que a banda tinha tudo para desbancar o Guns N’ Roses, que emergia naquela época. Algo como contratar a banda para boicotá-la, fazendo com que tudo desse errado e deixasse o caminho livre pro Guns N’ Roses. Em recente entrevista ao Sleaze Roxx, Andy Panik comenta: “Se tudo tivesse dado certo, estaríamos no mesmo ponto do Bang Tango, Guns N’ Roses, Warrant, Poison, Faster Pussycat e L.A. Guns. Com certeza, éramos capazes de bater essas bandas”. Além da questão com o Guns N’ Roses, a Geffen preferiu não investir no Rock City Angels graças aos recorrentes problemas com drogas que os integrantes enfrentavam. Era como alimentar um monstro.
Apenas em 1988, o debut “Young Man’s Blues” foi lançado. O diferencial citado no parágrafo anterior pode ser facilmente notado nesse disco. As composições são muito bem feitas e apresentam um estilo único, muito próprio e peculiar. Os próprios integrantes descreviam o som como “um cruzamento entre Muddy Waters e Sex Pistols”. Mas o álbum foi um fiasco em termos de vendas, visto que a Geffen estava concentrada em promover Axl Rose e sua trupe. Sobrou pouco espaço para o Rock City Angels, que registrou apenas um videoclipe para “Deep Inside My Heart”, circulado moderadamente na MTV, e excursionou com Joan Jett e Jimmy Page. Lembrando que a Geffen dominava o mundo musical na época graças ao Guns N’ Roses, então, se quisessem que o Rock City Angels estourasse, com certeza isso aconteceria – bastava um pouco de investimento direcionado.
Após o fim das turnês, em meados de 1991, o grupo entregou o material que viria a ser seu segundo disco para os engravatados da Geffen. As demos contaram com Brian Robertson (Thin Lizzy, Motörhead) na produção. Um reflexo dos problemas que o Rock City Angels causavam: na época de produção dessas novas faixas, que foram feitas na Inglaterra, os membros da banda foram presos por roubarem caixas de Jack Daniels do bar do hotel onde estavam hospedados. A Geffen teve que pagar a fiança e, mesmo assim, os integrantes simplesmente não queriam voltar para os Estados Unidos. O pai de Bobby Durango, que era o empresário do grupo, teve que colocá-los num avião e pagar a viagem de volta. Esse foi o estopim para a Geffen.
Enfim, as músicas foram recusadas pelos engravatados e a gravadora esperou um tempo para demitir a banda, já em 1992, com a explosão do Grunge. As músicas recusadas gerariam um disco intitulado “Lost Generation”, que só foi lançado em 2010 pelo selo FNA Records, com o título “Midnight Confessions – Last Recordings from 1989 to 1992”. Uma história confusa, bizarra e que até hoje deixa dúvidas. Mas vale a pena ouvir todo o material lançado pelo Rock City Angels, principalmente o inquestionável “Young Man’s Blues”.
Curiosamente, em 2009, o vocalista Bobby Durango reviveu a banda, com uma formação totalmente diferente, e tocava em pequenos pubs até sua morte, em junho de 2012.
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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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