Pop rock, indie rock, música gaúcha e new wave: a boa salada do Grandfúria

Grandfúria: “Grandfúria” (2014)

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Desde quando comecei com o blog Combe do Iommi, em 2007, um dos maiores prazeres que sinto é a procura de músicos, que desejam mostrar e receber avaliações minhas sobre seus trabalhos. Continuei a receber envios de diversas bandas, fantásticas ou não, quando passei a escrever para a Van do Halen. Hoje em dia, continuo a ser procurado.
O simples fato de ser procurado para tal já me deixa muito contente. Mas não há palavras que defina quando é para falar sobre um bom trabalho. Algo diferente, que, ao mesmo tempo, instigue e dê prazer aos tímpanos. Algo que ainda dê esperanças de que há músicos de qualidade que produzem boas músicas no Brasil.
Pude ter essa sensação com o Grandfúria. Natural de Caxias do Sul (RS), o conjunto não esconde de onde veio. Na salada mista roqueira praticada pelo grupo, há uma mistura de música regional gaúcha, pop rock, indie rock, new wave e uma pitada de heavy metal. “A ideia de fazer um rock ‘camaleônico’ veio por sermos reféns da revolução da informação. Hoje, ninguém escuta só um estilo de música e nós não fugimos à regra. Ao mesmo tempo, nossas maiores influências na música são artistas que possuem carreiras progressivas, com discos diferentes e experimentos”, disse o vocalista e guitarrista Vinícius Lima, em entrevista por e-mail.
Parece exagerado e pouco identitário, mas não é. O elemento “camaleônico” é percebido em diversas nuances do primeiro CD lançado pelo grupo, “Grandfúria” (Independente, R$ 5), deste ano, que reúne as músicas dos dois EPs lançados entre 2012 e 2014. E, apesar das influências diversas, o pop rock alternativo – soa contraditório? – da banda é redondo e uniforme. A certeza e firmeza no projeto artístico esbarra na experiência dos músicos, que já estiveram envolvidos em projetos anteriores que chegaram a lançar material de estúdio.
A abertura do disco, “Dando A Cara A Tapa”, engana pela introdução metálica, com palhetada nervosa na guitarra e bateria arrastada. Logo quando a voz entra, o ritmo cai, a melodia toma o holofote e um acordeon adequado faz o acompanhamento, além de violão gaúcho. “Meu Próprio Fim” é um pouco mais convencional. Trata-se de um pop rock com um pouco de space rock nos versos. Os ganchos melódicos são incomuns, fogem do clichê. Ponto positivo.
“Faz-me”, mais calma e totalmente acústica, também evidencia a pitada de space rock no som melódico do grupo. A canção é climática por conta dos teclados ao fundo. “Choro do Pampa” retoma, de forma mais incisiva, as influências da música regional riograndense. Desde a letra, com expressões e temática gaudérias, até a música, com, novamente, acordeon e violão gaúcho. O refrão é radiofônico.
“2D” mistura pop rock com new wave de forma incrível. O instrumental é construído minuciosamente e evidencia a destreza de Diego De Toni. “Só Coração”, mais experimental, é mais orientada ao indie rock. O baixo e a bateria ritmada ficam à frente dos vocais em grande parte da mixagem. É o único ponto fraco do disco, na minha opinião. “A Cartomante”, assim como outras faixas do play, é um pop rock levemente soturno. A pitada space rock dá as caras no miolo da canção, com sussurros vocais e, posteriormente, inesperada entrada de trompete. Boa surpresa.
“Caça às Bruxas” tem alguns momentos, especialmente o início, que remetem ao rock nacional da década de 1980. A participação de Alessandro Godoy com vocais screamo colaboram no dinamismo da canção. “Um Pouco Mais” puxa para o indie e repete o padrão “queda nos versos e pancada no refrão”. Bons riffs de guitarra, instrumento que fica em segundo plano em grande parte do álbum. O encerramento com “Boa Sorte” é o típico pop rock alternativo, termo que soa contraditório especialmente até dar o play nessa música. Faixa curta, tipicamente radiofônica e de audição gostosa.
O primeiro disco do Grandfúria é inesperado e, por isso, me agradou de primeira. A banda toca um rock de fácil digestão, sem abrir mão da qualidade e da complexidade – nos arranjos e na própria instrumentalização. O som é bem produzido, bem mixado e, nem de longe, parece ser um grupo formado em 2012 com um registro independente em mãos.

Nota 9

Vinícius Lima (vocal, guitarra)
Carlos Balbinot (guitarra, programação)
Diego De Toni (bateria – exceto em 3)
Luis Gustavo Viegas (baixo)
Maurício Pezzi (teclados em 3, 5, 6, 8 e 10)

Músicos adicionais:
Rafael De Boni (acordeon em 1 e 4)
Roberto Scopel (trompete em 7)
Cleber Comin (violão gaúcho em 1 e 4)
Alessandro Godoy (vocal adicional em 8)

01. Dando A Cara A Tapa
02. Meu Próprio Fim
03. Faz-me
04. Choro do Pampa
05. 2D
06. Só Coração
07. A Cartomante
08. Caça às Bruxas
09. Um Pouco Mais
10. Boa Sorte

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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