Confesso que tive um pouco de receio em ler a biografia autorizada “Nothin´ To Lose: A Formação do KISS” (Benvirá, R$ 44,90), novo lançamento da banda mascarada, escrito por Ken Sharp em parceria com Paul Stanley e Gene Simmons. O livro relata os primeiros anos de formação do grupo até a chegada à fama – ou seja, de 1972 até 1975, como é descrito na própria capa da obra.
Meu receio vem da outra biografia autorizada da banda, “KISS Por Trás Das Máscaras”. Sharp também esteve presente em tal obra, mas em parceria com David Leaf. Apenas a terceira parte de “Por Trás Das Máscaras”, em que os integrantes da banda e outros envolvidos comentam todas as músicas dos álbuns do grupo, é realmente interessante. Todo o resto traz um puxa-saquismo bem chato, esconde os problemas que o quarteto original teve principalmente na segunda reunião e parece fingir que a época sem máscaras, de 1983 a 1995, não existiu.
Surpresa positiva: “Nothin´ To Lose” escancara, desde o início, as diferenças que Paul Stanley e Gene Simmons sempre tiveram com Ace Frehley e Peter Criss. A obra é um pouco mais extensa no número de páginas (560) em comparação à anterior (479), o que é ótimo, pois disseca os quatro anos iniciais do grupo com um essencial requinte de detalhes.
O estilo de escrita segue os moldes de “Por Trás Das Máscaras”. O livro é praticamente inteiro composto de citações de quem realmente viveu a história. Desde os primeiros roadies, ex-namoradas, primeiros contratantes da banda e por aí vai, além dos próprios músicos, claro, e nomes realmente importantes na trajetória do grupo, porém pouco ouvidos no passado, como Sean Delaney, Neil Bogart e Bill Aucoin. São mais de 200 depoimentos no geral.
O famoso “empurrãozinho” para o sucesso sempre existiu – inclusive, desde os primórdios da história do rock n roll. Mas para o KISS, o caminho foi muito árduo e, de certa forma, demorado. O quarteto passou por todos os estágios que uma banda realmente deve passar. Primeiros shows com pouco público, repercussão iminente, ocasiões bizarras – como um show que os mascarados fizeram em um evento beneficente para ajudar uma biblioteca -, construção de bases de fãs, turnês em condições de pouca ostentação, primeiros álbuns de pouca repercussão, até se realmente chegar ao estrelato, de forma consolidada.
A partir de 1975, com o ousado “Alive!”, o KISS nunca mais deixou de ser famoso. E o caminho repleto de obstáculos percorrido por Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss, juntamente de seus inúmeros companheiros que não sobem ao palco com eles, mas trabalharam em parceria para que o estrelato chegasse.
É importante notar que o KISS tinha diversos pontos que colaboravam para seu fracasso. Além do visual agressivo e de certa forma inovador, o grupo estava em uma gravadora recém-inaugurada (Casablanca Records) e com um empresário que, na verdade, era um produtor de TV (Bill Aucoin). Ele, inclusive, foi o responsável por lapidar muito da teatralidade almejada pela banda. Sempre subsidiado por Neil Bogart, que injetou grana no quarteto a ponto de ficar em uma pindaíba danada e só ser salvo com o sucesso de “Alive!”.
Mas nunca se deve desconfiar de um bom trabalho, independente de como ele é trabalhado. Os pontos negativos se tornaram diferenciais positivos para a banda, que se destacava tanto que, em dado momento, ofuscava as atrações principais dos shows em que tocavam. Estratégias de marketing bizarras colaboraram para o sucesso, de certa forma. Desde forjar paredes de amplificadores para chamar atenção até alugar limusine para chegar em apresentações importantes – “quase famosos”, certo?
Pela riqueza de detalhes e forma leve de escrita, “Nothin´ To Lose” é uma leitura altamente recomendada. Creio que seja segmentada para os fãs da banda, diferente de livros como “Eu Sou Ozzy”, que tem mais humor do que história. Por ter uma abordagem séria e detalhista, me sinto na obrigação de aconselhar a leitura de “Nothin´ To Lose” a qualquer bom fã de KISS.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.
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Confesso que tive um pouco de receio em ler a biografia autorizada “Nothin´ To Lose: A Formação do KISS” (Benvirá, R$ 44,90), novo lançamento da banda mascarada, escrito por Ken Sharp em parceria com Paul Stanley e Gene Simmons. O livro relata os primeiros anos de formação do grupo até a chegada à fama – ou seja, de 1972 até 1975, como é descrito na própria capa da obra.
Meu receio vem da outra biografia autorizada da banda, “KISS Por Trás Das Máscaras”. Sharp também esteve presente em tal obra, mas em parceria com David Leaf. Apenas a terceira parte de “Por Trás Das Máscaras”, em que os integrantes da banda e outros envolvidos comentam todas as músicas dos álbuns do grupo, é realmente interessante. Todo o resto traz um puxa-saquismo bem chato, esconde os problemas que o quarteto original teve principalmente na segunda reunião e parece fingir que a época sem máscaras, de 1983 a 1995, não existiu.
Surpresa positiva: “Nothin´ To Lose” escancara, desde o início, as diferenças que Paul Stanley e Gene Simmons sempre tiveram com Ace Frehley e Peter Criss. A obra é um pouco mais extensa no número de páginas (560) em comparação à anterior (479), o que é ótimo, pois disseca os quatro anos iniciais do grupo com um essencial requinte de detalhes.
O estilo de escrita segue os moldes de “Por Trás Das Máscaras”. O livro é praticamente inteiro composto de citações de quem realmente viveu a história. Desde os primeiros roadies, ex-namoradas, primeiros contratantes da banda e por aí vai, além dos próprios músicos, claro, e nomes realmente importantes na trajetória do grupo, porém pouco ouvidos no passado, como Sean Delaney, Neil Bogart e Bill Aucoin. São mais de 200 depoimentos no geral.
O famoso “empurrãozinho” para o sucesso sempre existiu – inclusive, desde os primórdios da história do rock n roll. Mas para o KISS, o caminho foi muito árduo e, de certa forma, demorado. O quarteto passou por todos os estágios que uma banda realmente deve passar. Primeiros shows com pouco público, repercussão iminente, ocasiões bizarras – como um show que os mascarados fizeram em um evento beneficente para ajudar uma biblioteca -, construção de bases de fãs, turnês em condições de pouca ostentação, primeiros álbuns de pouca repercussão, até se realmente chegar ao estrelato, de forma consolidada.
A partir de 1975, com o ousado “Alive!”, o KISS nunca mais deixou de ser famoso. E o caminho repleto de obstáculos percorrido por Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss, juntamente de seus inúmeros companheiros que não sobem ao palco com eles, mas trabalharam em parceria para que o estrelato chegasse.
É importante notar que o KISS tinha diversos pontos que colaboravam para seu fracasso. Além do visual agressivo e de certa forma inovador, o grupo estava em uma gravadora recém-inaugurada (Casablanca Records) e com um empresário que, na verdade, era um produtor de TV (Bill Aucoin). Ele, inclusive, foi o responsável por lapidar muito da teatralidade almejada pela banda. Sempre subsidiado por Neil Bogart, que injetou grana no quarteto a ponto de ficar em uma pindaíba danada e só ser salvo com o sucesso de “Alive!”.
Mas nunca se deve desconfiar de um bom trabalho, independente de como ele é trabalhado. Os pontos negativos se tornaram diferenciais positivos para a banda, que se destacava tanto que, em dado momento, ofuscava as atrações principais dos shows em que tocavam. Estratégias de marketing bizarras colaboraram para o sucesso, de certa forma. Desde forjar paredes de amplificadores para chamar atenção até alugar limusine para chegar em apresentações importantes – “quase famosos”, certo?
Pela riqueza de detalhes e forma leve de escrita, “Nothin´ To Lose” é uma leitura altamente recomendada. Creio que seja segmentada para os fãs da banda, diferente de livros como “Eu Sou Ozzy”, que tem mais humor do que história. Por ter uma abordagem séria e detalhista, me sinto na obrigação de aconselhar a leitura de “Nothin´ To Lose” a qualquer bom fã de KISS.
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.
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