A banda de punk rock Garotos Podres afirma ter sido recentemente investigada pela polícia. Em publicação nas redes sociais na última quinta-feira (18), o grupo oriundo de Mauá, no ABC paulista, comunicou que foi indiciado por causa da música “Papai Noel, Velho Batuta”, lançada originalmente em 1985 como parte do disco de estreia “Mais Podres do que Nunca”.
A informação já havia sido antecipada em um novo lyric video da canção, divulgado no último dia 5 de dezembro. Segundo os músicos, o inquérito teve origem em uma denúncia feita por “um membro de uma seita de fanáticos de extrema direita”, sob a alegação de que a letra “usa palavras que incentivam a violência”, com o objetivo de “impedir apresentações da banda”.
Um show realizado no primeiro semestre teria sido o motivador da denúncia. Todavia, oomente no fim deste ano os músicos trouxeram o caso a público.
“Papai Noel, Velho Batuta”, que faz uma crítica à desigualdade social, traz frases como: “Papai Noel, velho batuta / Rejeita os miseráveis / Eu quero matá-lo / Aquele porco capitalista”. Em uma versão mais explícita, a expressão “velho batuta” dá lugar a “filho da p#ta”.
Diz o texto:
“O que para muitas pessoas pode parecer somente ‘divertido’, na verdade é algo muito sério! A banda Garotos Podres foi indiciada em um inquérito policial e passou por um longo processo de interrogatórios e burocracias. Na prática, CENSURA! E, apesar do inquérito constar uma denúncia contra a música ‘Papai Noel, Velho Batuta’, sabemos que o principal alvo era impedir os shows da banda. Muitos jornalistas, professores e pessoas que trabalham com arte nos procuraram, mostrando solidariedade com a banda e oferecendo ajuda para promover o caso, que é realmente muito GRAVE!”
Ainda de acordo com o grupo, o empresário que contratou o show e todos os integrantes passaram por um interrogatório, incluindo o baterista Negralha, de 35 anos, que sequer era nascido quando a canção saiu. Eles explicaram:
“Quando lançamos o nosso primeiro álbum (‘Mais Podres do Que Nunca’), duas de nossas músicas foram censuradas (‘Johnny’ e ‘Vou Fazer Cocô’) pelo extinto Departamento de Censura da Polícia Federal. Em 1988, quando lançamos o álbum ‘Pior Que Antes’, o mesmo aconteceu com a música ‘Batman’. Em nenhum momento fomos submetidos à interrogatório – de caráter caráter inquisitorial – como o que fomos submetidos em 2025, exatamente 40 anos após ao final da Ditadura Militar […]. A situação é tão surreal que o nosso baterista, o membro mais jovem da atual formação da banda, teve que se justificar por uma música que foi composta e gravada muitos anos antes dele ter nascido.”
“Explicou para a delegada que Papai Noel não existe”
O assunto também foi comentado durante um show no Sesc Belenzinho, em São Paulo, no dia 27 de setembro. Segundo transcrição da Folha de S. Paulo, o vocalista José Rodrigues “Máo” Júnior revelou na ocasião:
“Essa semana, a delegada, por videonferência, perguntou para o Negralha, que é o nosso baterista, sobre essa canção. O que ele respondeu? O Negralha teve que explicar para a delegada de polícia que o Papai Noel não existe. 40 anos depois do fim da ditadura militar nós fomos inquiridos num processo inquisitorial, questionando as letras.”
Em defesa, os artistas destacaram que a canção “trata-se de uma crítica social” e “uma paródia, para mostrar tamanha desigualdade social que existe no Brasil e no mundo”. Pensando em possíveis processos judiciais, os músicos optaram por omitir a identidade do autor da denúncia, assim como o município onde foi feita. O inquérito foi concluído e os músicos aguardam o Ministério Público decidir se haverá denúncia ou arquivamento.
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