Apesar de ter encarado um público morno e figurar como uma atração deslocada em um lineup majoritariamente voltado ao punk, Bruce Dickinson não deixou de chamar atenção com seu show no palco Skyline do The Town 2025. Pela terceira vez no Brasil em pouco mais de um ano — segunda com sua própria banda —, o vocalista do Iron Maiden mostrou ao Autódromo de Interlagos, no último domingo (7), as facetas de sua carreira como solista: mais pessoal, mas ainda com muita potência e presença de palco.
Dá para entender por que nosso país se tornou escala obrigatória nos voos de Dickinson. O público local o abraça de um jeito único, recebendo como retribuição performances intensas, sem economizar na voz, no vigor físico ou no carisma.

Desta vez, porém, nada de “The Trooper” ou “Fear of the Dark”. Do Maiden, Bruce tocou apenas “Flash of the Blade”, logo no encerramento, para a felicidade de quem vos escreve. A faixa do álbum “Powerslave” (1984) nunca entrou nos setlists do grupo liderado por Steve Harris — e no caso do próprio Dickinson, a execução no The Town foi apenas a segunda desde o seu lançamento.
De resto, surgiram apenas canções de seus álbuns solo, passeando pelos álbuns “Balls to Picasso” (1994), “Accident of Birth” (1997), “The Chemical Wedding” (1998) e “The Mandrake Project” (2024). Cada um deles teve duas faixas no setlist. “Tyranny of Souls” (2005) contou com uma. E não há decepção com a escolha de priorizar seu trabalho paralelo ao Maiden.

Músicas como “Laughing in the Hiding Bush” e “Road to Hell”, por exemplo, trazem peso e vigor distintos, em estado mais bruto, não encontrados no próprio Iron. A balada “Tears of the Dragon”, de forte carga emocional, mostra como Bruce, aos 67 anos, continua com voz potente dos graves aos agudos. Durante a performance desta canção, havia marmanjos vestindo camisetas do Maiden com olhos marejados.
Dickinson, também piloto de avião, assume tal função de modo figurativo no palco. Uma espécie de “comandante prestes a decolar”, o inglês de 67 anos guia plateias como poucos. Teve, nitidamente, bastante jogo de cintura ao lidar com uma massa que, de modo majoritário, estava ali para ver o headliner Green Day. Apostou em interações que, quando simplificadas, funcionavam. Em discursos mais longos, a exemplo da comparação de políticos brasileiros com o diabo, muitos pareciam mal entender em função do sotaque carregado do artista. Ao fim, teve seu nome gritado por parte da multidão.

A banda que o acompanha, a chamada The House Band of Hell, também segura a onda com estilo. São músicos técnicos e bem entrosados. A baixista Tanya O’Callaghan (Whitesnake), que comanda seu instrumento com firmeza e entrega peso na medida certa, é o grande destaque em meio à formação também composta por Chris Declercq e Philip Naslund (guitarras), Mistheria (teclados) e Dave Moreno (bateria).

Junto de outras canções já citadas, chamaram atenção músicas como a recente “Resurrection Men”, a pesada “Abduction” e a grandiosa “Chemical Wedding”, favorita desta que vos escreve. Não há como negar a força do repertório, mesmo sem outros números do Iron Maiden e as reações menos calorosas da plateia. Uma ocasião desafiadora para público e artista, mas serviu para mostrar que Dickinson tem muito a dizer, a cantar e a voar longe de seu grupo principal.

Repertório — Bruce Dickinson no The Town 2025
- Accident of Birth
- Abduction
- Laughing in the Hiding Bush
- Road to Hell
- Chemical Wedding
- Resurrection Men
- Rain on the Graves
- Tears of the Dragon
- Book of Thel
- Flash of the Blade (Iron Maiden)
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.
