Não eram nem 20h da última sexta-feira (11) quando uma fila já se formava no Circo Voador. A tradicional casa de shows do Rio de Janeiro recebia o espetáculo “Viva Cazuza”, um tributo aos 35 anos da morte do eterno Poeta Exagerado, falecido em 7 de julho de 1990 por complicações do vírus HIV.

A iniciativa, que nasceu de uma parceria entre o Circo e a revista Rolling Stone Brasil, prometia casa cheia para uma noite de ingressos esgotados com grande antecedência. O motivo? Além da apresentação da banda Os Cajueiros, dedicada a homenagear Cazuza, o show ainda contaria com as participações especiais de Ney Matogrosso e Sandra Sá.

Pouco antes das 21h30 — horário marcado para o início do espetáculo —, a pista já estava praticamente lotada. Com mais de meia hora de atraso, Os Cajueiros entraram se apresentando como “os parceiros do Cazuza” para um público que, apesar da casa cheia, parecia meio tímido ao recebê-los. O grupo conta com:
- O baterista, percussionista e cantor Guto Goffi (um dos fundadores do Barão Vermelho, banda original de Cazuza);
- O saxofonista e cantor George Israel (fundador do Kid Abelha e coautor de “Brasil” com o homenageado);
- O guitarrista, baixista e cantor Arnaldo Brandão (Hanói Hanói, Brylho, etc, coautor de “O Tempo Não Para” com o homenageado);
- O baixista, guitarrista e cantor Nilo Romero (produtor do álbum “Ideologia” e diretor de palco do homenageado);
- O guitarrista e cantor Luce Dioliveira;
- O tecladista convidado Léo Israel (filho de George Israel);
- O baterista convidado Andre Fernandes “Polvo”, para quando Guto estava nos vocais ou percussão.

Dois clássicos de “Maior Abandonado” (1984), último álbum do Barão Vermelho com Cazuza, foram escolhidos pela banda para iniciar os trabalhos da noite: a faixa-título e “Por que a gente é assim?”. Uma sequência bem próxima da abertura dos atuais shows do Barão, hoje com Rodrigo Suricato nos vocais e guitarra. Serviu para animar uma plateia que mais parecia ansiosa pela entrada de Ney, gigante da música brasileira com holofotes recém-adquiridos através da cinebiografia “Homem com H”.
Em “Jovem”, foi a vez de George Israel e banda desfilarem suas habilidades musicais, com direito a uma pequena jam introdutória. Findado um discurso do saxonofista celebrando Cazuza — onde ele lembrou até Gal Costa —, a canção “Brasil” (também gravada por Gal, falecida em 2022) deu sequência.

Catarse com Ney Matogrosso
Se o público estava mesmo ansioso por Ney Matogrosso, não demorou a chegar o momento mais aguardado da noite. Um mar de celulares erguidos recebeu o artista de 83 anos, cuja presença fez o lotado Circo Voador ir abaixo. Não havia uma mão, voz ou celular que não celebrasse o cantor, parceiro de Cazuza na vida profissional e pessoal.

O eterno frontman do Secos & Molhados participou de três músicas. A primeira delas, a belíssima “Poema”, foi escrita por Cazuza para sua avó paterna, Maria José, e gravada por Ney apenas em 1999, no álbum “Olhos de Farol”. Em seguida, “Balada do Louco”, original dos Mutantes e também famosa na voz de Ney, manteve o caráter emotivo, mas catártico.
Para fechar, em “Pro Dia Nascer Feliz”, original do Barão e regravada pelo artista, tivemos um Ney sorridente e cada vez mais solto nas danças e movimentos. Um furacão que passou rapidamente pelo palco, em participação curta; nem o clamor da plateia por “mais um!” serviu para reconsiderar.

O tempo — de show — não para
Fica sob responsabilidade de “Malandragem”, composição de Cazuza e Roberto Frejat eternizada por Cássia Eller, dar sequência ao show após o clímax antecipado. O público se manteve animado, mas não empolgado como se viu durante a participação.

Em novo discurso, George Israel destacou a importância do Circo Voador para Cazuza e Barão Vermelho, servindo de primeiro palco para eles. Aqui o saxofonista conta, ainda, que Lucinha Araújo está presente no evento — e a mãe do saudoso artista é reverenciada com aplausos.

A partir daqui, com “Blues dos Anos 2000” e novo espetáculo instrumental da banda, a apresentação ganha clima de festa entre amigos. Guto Goffi, após nova conversa com a plateia, até se arrisca nos vocais de “Bilhetinho Azul”, canção que encerra o álbum de estreia do Barão Vermelho, de 1982 — cena pouco comum para os fãs, mas nesse tipo de celebração, tudo cabe.

Emoção com Sandra Sá
O show segue informal com “Todo Amor Que Houver Nessa Vida”, em versão mais lenta e acústica, e “Solidão Que Nada”, antes da clássica “Ideologia” e o momento da segunda participação especial da noite. Entusiasmada, Sandra Sá entra no meio da música, em um dos momentos mais catárticos da noite. Irreverente e carismática, ela surge com um espumante na mão e potência no gogó.

Ao lado dos parceiros de Cazuza e em meio a discursos sobre fé, coragem e cultura, a cantora também participou de um trio de músicas. A primeira delas foi “Blues da Piedade”, faixa do álbum “Ideologia” regravada por ela.

Depois, “O Poeta Está Vivo”, composição de Dulce Quental e Frejat para o Barão Vermelho, leva Sandra às lágrimas e rende um dos momentos mais emocionantes do set. Para fechar, “Olhos Coloridos” se transforma em uma celebração à cultura e à diversidade brasileira.

Reta final
Na reta final, depois de Sandra deixar o palco, uma sequência de Cazuza solo e Barão Vermelho é retomada pelos Cajueiros. Entre as canções icônicas, estiveram “Codinome Beija-Flor”, “Bete Balanço” e “Exagerado” — esta última em ritmo de bolero, que a banda explica ter sido a ideia original do saudoso artista. E se o show abriu espaço para tais releituras, na vez de “O Tempo Não Para”, a banda opta por mantê-la bem próxima da clássica versão ao vivo de 1988, registrada no álbum homônimo gravado no Canecão.

Para surpresa do público, Sandra Sá retorna ao palco e assume os vocais de “Brasil”, executada pela segunda vez na noite. Após sua saída, “Faz Parte do Meu Show” tem direito a um erro do guitarrista Luce Dioliveira, que dedica a música à esposa.

No fim, a apresentação já nem parecia seguir um roteiro. Sem querer que a festa acabasse, o público puxa “Vida Louca” — canção também presente no disco ao vivo “O Tempo Não Para” — à capela, após a despedida da banda. Em um esforço para atender ao pedido, o grupo avisa que a música não havia sido ensaiada. “Vamos fazer porque vocês gostam de bagunça”, diz George Israel, que assume os vocais lendo a letra em um tablet. Nada mal para uma música não programada — e para o encerramento de uma noite excelente.

A parte mais esperada do tributo a Cazuza ficou para o meio do show. Mas a celebração foi bonita e digna de um dos maiores nomes do rock brasileiro. Foram inúmeros os “Viva Cazuza!” ecoados pelos que passaram por aquele palco. É esse, de fato, o grito que define uma noite como essa no Circo Voador.

Repertório:
- Maior Abandonado
- Por Que a Gente É Assim?
- Jovem
- Brasil
- Poema (com Ney Matogrosso)
- Balada do Louco (com Ney Matogrosso)
- Pro Dia Nascer Feliz (com Ney Matogrosso)
- Malandragem
- Nosso Amor a Gente Inventa
- Blues do Ano 2000
- Bilhetinho Azul
- Solidão Que Nada
- Todo Amor que Houver Nessa Vida
- Ideologia
- Blues da Piedade (com Sandra Sá)
- O Poeta Está Vivo (com Sandra Sá)
- Olhos Coloridos (com Sandra Sá)
- Amor, Amor
- Codinome Beija-Flor
- Bete Balanço
- Exagerado
- O Tempo Não Para
Bis:
- Faz Parte do Meu Show
- Brasil (com Sandra Sá)
- Vida Louca

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