A breve turnê de Kiko Loureiro pelo Brasil teve sua penúltima parada no Tokio Marine Hall, em São Paulo, no último sábado (7). Como nas outras apresentações, o músico teve a participação do também guitarrista Marty Friedman — que, como ele, fez parte do Megadeth no passado — e a presença de uma banda de apoio formada por Alírio Netto no vocal, Luiz Rodrigues na guitarra de apoio e a “cozinha” do Angra, outra banda que integrou: Felipe Andreoli no baixo e Bruno Valverde na bateria.
Kiko trouxe um repertório que passou por momentos diversos de sua carreira, com distribuição quase matemática entre carreira solo, Angra e Megadeth. A parte final teve holofotes em Marty, que, em termos de ex-banda, tocou apenas o solo de “Tornado of Souls” — de resto, apresentou composições recentes e rendeu situações inusitadas ao brilhar em músicas do Angra e até “Asa Branca” (Luiz Gonzaga) e “Brasileirinho” (Waldir Azevedo).
A abertura ficou a cargo de Andy Addams, guitarrista colombiano-americano que acompanhou Loureiro em boa parte das datas da tour e ainda tocará com Friedman em sua vindoura excursão sul-americana. Sua banda de apoio trouxe o baixista David Sanchez e o baterista Luigi Paraventi, que, curiosamente, tocou com Kiko em apresentações dos últimos anos, quando Valverde estava indisponível. A curta apresentação teve foco em composições próprias, mas o público se despertou, mesmo, ao ouvir versões para clássicos do rock, como “Separate Ways (Worlds Apart)” (Journey) e “Eruption” + “Ain’t Talkin’ ‘Bout Love” (Van Halen), e trilhas sonoras de desenhos animados e jogos de videogame, como “Os Cavaleiros do Zodíaco” e “Megaman”.
Confira, a seguir, cinco destaques do show realizado por Kiko Loureiro no Tokio Marine Hall, em São Paulo, conforme selecionado pelo repórter fotográfico Gabriel Gonçalves.
1) Impacto das composições solo, em especial a abertura
Em meio a clássicos do Angra e músicas de sua fase no Megadeth, havia algo que Kiko Loureiro realmente queria apresentar na noite de sábado (7): suas composições em carreira solo, com espaço reduzido na atual turnê para poder comportar a presença de Marty Friedman. O guitarrista promove seu álbum mais recente, o pesado “Theory of Mind” (2024), representado por “Mindrise” e a abertura de impacto “Blindfolded”, originalmente gravada com guitarra de oito cordas.
Surpreende a precisão técnica não apenas de Loureiro, como dos músicos que o acompanham, tendo em vista a complexidade do material tocado. Além das duas faixas mencionadas, sua trajetória solo marca presença no set com “No Gravity”, “Pau-de-Arara”, “Overflow” e “Reflective”.
2) “Conquer or Die!”, o momento mais Kiko Loureiro do Megadeth
Três músicas da “era Kiko Loureiro” no Megadeth marcam presença no repertório. Chama atenção que justo a instrumental se destaque. “Conquer or Die!” é o momento mais Kiko da trajetória da banda liderada por Dave Mustaine. Logo em seu primeiro álbum com o grupo, “Dystopia” (2016), o brasileiro conseguiu emplacar uma composição instrumental com os holofotes virados para ele. A faixa chegou a ganhar clipe oficial à época e conferir sua execução ao vivo tem tamanho impacto que passa a impressão de estarmos assistindo ao próprio vídeo em cima do palco.
A título de curiosidade, as outras duas músicas da “era Kiko” no Megadeth tocadas no set atual são “Dystopia” e “Killing Time”. Ambas contam com o próprio guitarrista cantando, em movimentação similar à vista na turnê anterior — ainda que a faixa-título do álbum de 2016 só tenha aparecido no repertório deste ano.
3) “Nothing to Say” e a presença de Alírio Netto
Em resenhas publicadas neste site sobre os shows do ano passado, menciona-se o desperdício que é trazer Alírio Netto para a turnê e destinar apenas algumas músicas para ele cantar. Há de se reconhecer, contudo, que o show é de Kiko Loureiro — e o guitarrista sempre deixa evidente sua paixão pela música instrumental. Ainda assim, a “reclamação” pareceu ter surtido efeito, pois o setlist de 2025 traz um pouco mais de Alírio.
Ao todo, o vocalista está em “Nothing to Say”, “Angels and Demons”, “Late Redemption” (em uma mescla com “Heaven and Hell”, do Black Sabbath, e dividindo o microfone com Kiko) e “Rebirth”. Em outras cidades, o bis contou com “Stormbringer”, clássico do Deep Purple cantado majoritariamente por Loureiro, mas com Netto no apoio.
Contar com Alírio se mostrou novamente um acerto, desta vez ligeiramente prolongado. Os momentos com o cantor estiveram entre os mais empolgantes, seja por sua interpretação ou presença de palco. Das faixas executadas, “Nothing to Say” foi a que melhor retratou o “upgrade” oferecido pelo ex-integrante do Shaman, Khallice, Age of Artemis e outros grupos.
4) Um Marty Friedman “brasileirinho”
Na publicação da entrevista de Marty Friedman para o jornalista que conduz este site, disponível em texto na Rolling Stone Brasil e em vídeo no YouTube, o texto brinca: “Marty poderá ser preso se não executar o solo de ‘Tornado of Souls’”. O americano sabe disso, mas não quis se limitar a um êxito de 35 anos atrás; logo, executou junto a Kiko Loureiro apenas o solo, não a música completa.
Além desse momento, o trecho do set que contou com sua participação teve duas composições solo — “Hyper Doom” e a deliciosamente dramática “Tearful Confession”, não por acaso do álbum “Drama” (2024) —, uma releitura de “Rebirth”, do Angra e um medley que se mostrou o ápice do show: “Asa Branca” (Luiz Gonzaga) e “Brasileirinho” (Waldir Azevedo), tocadas à moda dos guitarristas.
Em dado momento, Marty revelou uma conversa de bastidores com Kiko: o colega disse que o americano, radicado há décadas no Japão, tem composições que soam “muito brasileiras”. O guitarrista da fase mais celebrada do Megadeth ainda confidenciou ao público: “acho que fui brasileiro em outra encarnação”.
5) “Rebirth”, com todos no palco
O show em São Paulo no ano passado teve uma série de convidados, indo de Ron “Bumblefoot” Thal a Lobão. Divertiu, mas passou uma vibe “festa da firma”. Na turnê atual, a participação especial se limitou a Marty Friedman e o único momento com todos no palco — o americano junto a Kiko Loureiro, Alírio Netto, Felipe Andreoli, Bruno Valverde e Luiz Rodrigues — se deu em “Rebirth”, poderosa balada que dá nome ao álbum mais vendido do Angra.
Segundo Kiko, foi Marty quem pediu para tocar essa canção, o que gerou até estranheza de sua parte. Ao ouvir o resultado, dá para sacar o motivo: ficou incrível. A faixa ganhou uma introdução com solo inspirado de Friedman, depois teve sua execução convencional com interpretação bem característica de Alírio.
Veja abaixo repertórios e fotos dos shows de Kiko Loureiro e Andy Addams no Tokio Marine Hall, em São Paulo.
Repertórios
Kiko Loureiro
- Blindfolded
- Reflective
- Overflow
- Killing Time (Megadeth, com Kiko cantando)
- Pau-de-Arara
- No Gravity
- Carry On / Spread Your Fire / Nova Era / Morning Star / Evil Warning / Speed (Medley Angra)
- Conquer or Die (Megadeth)
- Dystopia (Megadeth, com Kiko cantando)
- Jam (participação de dois fãs)
- Mindrise
- Nothing to Say (Angra, com Alirio Netto)
- Angels and Demons (Angra, com Alirio Netto)
- Late Redemption (Angra) + Heaven and Hell (Black Sabbath) (Alirio Netto e Kiko Loureiro)
- Hyperdoom (Marty Friedman)
- Tornado of Souls (Megadeth, com Kiko Loureiro e Marty Friedman)
- Medley: Asa Branca (Luiz Gonzaga) / Brasileirinho (Waldir Azevedo) (Kiko Loureiro e Marty Friedman)
- Tearful Confession (Marty Friedman)
- Rebirth (Angra) (com Alirio Netto, Kiko Loureiro e Marty Friedman)
- Enfermo
Andy Addams
- Redemption
- Black Moon
- The Eyes of the Moon/When the Spirits Collide
- Solo de guitarra + Silver Tears
- Solo de baixo
- Everlasting Faith
- The Warrior
- Solo de bateria
- Piedra de Fuego
- Mashup
Fotos
Kiko Loureiro
Andy Addams
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