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Deslocado, Opeth faz set impecável e capricha nas piadocas no Monsters of Rock

Ciente do público diverso presente no Monsters of Rock 2025, vocalista e guitarrista Mikael Åkerfeldt apostou em interações inusitadas entre as músicas

Se existe uma ocasião onde ninguém espera sorrir ou dar risada, é em um show do Opeth. Todavia, no Monsters of Rock 2025, aconteceu. Mais de uma vez.

Imagine o cenário. Quase 13h em São Paulo, relativo calor, céu ainda com poucas nuvens — o que mudaria mais tarde — e a banda sueca inicia seu show, o segundo do evento, com “§1”, faixa de abertura de seu álbum mais recente, “The Last Will and Testament” (2024).

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Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Para completar, a banda estava visivelmente deslocada em um lineup que que ia do power metal do Stratovarius, atração de abertura, ao hard rock do Scorpions e do Europe. Ok, havia Judas Priest e Savatage, mas são representantes de um tipo de heavy metal diferente do praticado pelos personagens deste texto.

Se Fredrik Åkesson (guitarra), Martín Méndez (baixo), Joakim Svalberg (teclados) e Waltteri Väyrynen (bateria) estavam lá para entregar seu som experimental que vai do death metal ao rock progressivo, o vocalista, guitarrista e falante líder Mikael Åkerfeldt parecia disposto a mais do que isso.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Dentre as poucas sete canções presentes no setlist, duas vieram do novo álbum. No geral, o repertório focou na fase do início dos anos 2000, onde havia mais vocais guturais. Faixas longas, por isso pouco numerosas. Em meio a essas músicas, ao longo de seus diálogos com o público — carinhosamente chamado de “motherf*ckers” —, Åkerfeldt tratou de explicar: com o Opeth, é assim que as coisas funcionam.

Tratou-se apenas de uma das várias comunicações, um tanto cômicas se considerado o cenário de alternância entre isso e o desfile de brutalidade e complexidade técnica do grupo. O inspirado frontman lembrou que sua banda era a mais jovem do festival – mesmo com ele tendo 51 anos de idade — e elogiou a hospitalidade do público brasileiro e a comida do país, que segundo Mikael, deixou seu traseiro parecido com a bandeira do Japão. Interprete por conta própria.

Ao anunciar a poderosa “§3”, Mikael fez questão de dizer que o novo álbum era “incrível”. Em seguida, mandou “calar a boca” um total de zero pessoas que discordaram dele. Os fãs reagiram com aclamação ao fim dela — e, diga-se, canções sem vocais guturais tinham visivelmente melhor recepção — e ele sugeriu: “guardem suas vozes para as outras bandas como Europe, Scorpions, Judas Priest…”

Na parte final do set, a plateia, dividida entre fãs dedicados (alguns deles alternando entre moshs e momentos de bracinhos levantados e movendo no alto) e pessoas que pareciam nunca ter ouvido falar dos caras, entendeu melhor a proposta, talvez pela escolha das faixas: a celebrada “Ghost of Perdition”, um dos melhores momentos da banda justamente por experimentar com vários tipos de sons e “moods”, abriu alas para a quase radiofônica (para os padrões do Opeth) “Sorceress”. No meio disso, gritos de “olê, olê, Opeth, Opeth” que nem puderam ser incentivados pelo frontman, pois trocava de instrumento na ocasião.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Piadas à parte, Mikael Åkerfeldt é a alma do Opeth e um tremendo compositor. Esteticamente, chega a lembrar um jovem Tony Iommi não apenas pelo bigode, mas por tocar sua guitarra paradão e aparentar certo desleixo de quem se sente confortável até demais no palco.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Em outro discurso, lembrou que que havia muitos suecos no lineup: a turma do Europe, o baterista Mikkey Dee (Scorpions) e o tecladista Jens Johansson (Stratovarius). Também exaltou uma ligação curiosa com nosso país: o ex-baterista Anders Nordin, que tocou nos dois primeiros álbuns da banda, é brasileiro (foi adotado por pais suecos) e sonhava em tocar com o grupo na terra natal, o que não conseguiu: saiu em 1997, doze anos antes da primeira turnê local.

Para fechar, Åkerfeldt anunciou que tocariam seu maior hit, a “Rock You Like a Hurricane” do Opeth, em menção ao Scorpions. “Só que ela tem quase 14 minutos de guturais e m#rdas death metal”, segundo ele. Ninguém reclamou e o grupo encerrou sua hora de palco esbanjando a competência técnica de seu repertório para quem gosta. Para quem não é chegado, pelo menos arrancaram algumas risadas de quem entendeu seu inglês.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Opeth — ao vivo no Monsters of Rock 2025

  • Local: Allianz Parque
  • Data: 19 de abril de 2025
  • Turnê: The Last Will and Testament Latin American Tour
  • Produção: Mercury Concerts

Repertório:

  1. §1
  2. Master’s Apprentices
  3. §3
  4. In My Time of Need
  5. Ghost of Perdition
  6. Sorceress
  7. Deliverance
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

1 COMENTÁRIO

  1. Eu acho sintomático demais em um festival de metal a galera não conhecer Opeth.
    Entendo que o som pode ser um pouco diferente, mas po, vamos ouvir coisa nova também ne!?
    E geralmente são os mesmo que falam que o rock morreu na década de 90.

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