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Entrevista: Courtney LaPlante fala sobre show do Spiritbox no Brasil, “Tsunami Sea” e mais

Com novo álbum pronto para ser lançado 2025, banda estreia no país neste sábado (30) como atração de abertura do Bring Me the Horizon

Logo nos primeiros segundos de conversa com o site IgorMiranda.com.br, Courtney LaPlante faz um agradecimento pouquíssimo usual, a ponto de surpreender o entrevistador. “Soube que você foi uma das primeiras pessoas [da imprensa] do Brasil a falar sobre nossa banda. Muito obrigado por fazer isso em uma plataforma tão grande como a sua”, diz de forma acertada a vocalista do Spiritbox, banda de som pesado — e positivamente difícil de se rotular — que está em franca ascensão na última meia década.

Este não foi o único momento da conversa (a ser publicada com vídeo legendado em breve) onde a cantora nascida nos Estados Unidos, mas desde jovem moradora do Canadá, demonstra ter os pés no chão. Os feitos do grupo até o momento são consideráveis — mais de 2,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify, dezenas de materiais que registram milhões de reproduções no YouTube, duas indicações ao Grammy, trabalhos atingindo posições expressivas nas paradas de todo o mundo —, mas ela admite que, empolgação à parte, ainda pensa que ninguém no Brasil pode conhecer suas músicas.

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Pudera. No próximo sábado (30), a banda criada por ela ao lado de seu marido, o guitarrista Mike Stringer, realiza a primeira apresentação de sua história no Brasil. Será em grande estilo: no estádio Allianz Parque, em São Paulo, como uma das três atrações de abertura do Bring Me the Horizon. Motionless in White e The Plot in You completam o lineup do evento, que foi anunciado como sold-out meses atrás, mas ainda tem ingressos de cadeira inferior à venda pela Eventim. Ela diz:

“Sei que todo artista diz estar empolgado para um show, mas quando todo artista que conheço fala sobre o show mais incrível que já fez, é sempre na América do Sul, sempre no Brasil. Não sei o que esperar, mas como no Brasil todos amam música, é tão interativo. Não estamos acostumados com isso. Só de ouvir pessoas cantando os riffs de coisas assim… só posso sonhar em saber como é. Não quero ter expectativas de que as pessoas assistindo conheçam minha banda, pois estão lá para ver Bring Me the Horizon, mas uma parte no fundo da minha mente diz: e se fizerem isso por nós? Espero que aconteça.”

Também será uma ocasião especial para LaPlante, Stringer, o baterista Zev Rosenberg e o baixista Josh Gilbert por algo inusitado para uma banda que já é tão popular. A frontwoman reconhece: o show no Brasil será uma rara ocasião onde terão uma hora de palco. “Normalmente somos atração de abertura, então não temos muito tempo, só 30 minutos, mas nos deram uma hora no Brasil”, comenta ela, antecipando duas surpresas para o repertório: “Perfect Soul”, single recém-lançado do próximo álbum Tsunami Sea (2025), e “Blessed Be”, canção que eles adoram executar, mas que, por ser mais longa, costuma ser cortada dos setlists.

A consagração do “metalcore”

O metalcore como boa parte do mundo conheceu, lá nos anos 2000, já não existe mais. O mais experiente Bring Me the Horizon, com sua guinada para sons mais acessíveis, e o relativamente jovem Spiritbox, que funde uma série de elementos — progressivo, djent, post-metal, metal alternativo, groove e diversos temperos pop —, são dois exemplos disso. Mesmo assim, se este e outros grupos forem tratados como parte de um mesmo segmento, o evento no Allianz Parque é tratado como uma verdadeira afirmação.

Tem sido comum testemunhar fãs nas redes sociais tratando o minifestival de sábado (30) como uma consagração de um subgênero que, mesmo conseguindo números expressivos, ainda enfrenta resistência de fãs mais conservadores de metal. Quando o Bring Me the Horizon foi anunciado como headliner do Download Festival, tradicional evento inglês sucessor do Monsters of Rock, teve quem reclamasse. Com duas décadas de carreira, a banda realizará em São Paulo apenas sua primeira apresentação como atração principal em um estádio.

Perguntada se sente que a ocasião na capital paulista representa uma “vitória” para as bandas mais jovens, Courtney LaPlante deixa claro que ela e o Spiritbox têm nada a ver com isso. É, segundo ela, um mérito do Bring Me the Horizon, que, em suas palavras, “trabalhou mais do que qualquer outra banda e influenciou nosso gênero musical mais do que qualquer outro nome moderno”. E complementa: “Não vejo como se eu estivesse contribuindo. O show no Brsail é tão inspirador que me faz pensar que, talvez, algum dia, eu possa ser como eles. Apenas estou muito grata por terem convidado a gente para participar”.

Acima de tudo, a cantora reforça admirar todos os colegas de lineup. E destina palavras carinhosas a respeito de cada um.  

The Plot in You: “Na minha primeira turnê nos Estados Unidos com minha antiga banda, Iwrestledabearonce, The Plot in You foi a nossa banda de abertura. Eu os conheço desde 2012. Estou empolgada para vê-los novamente, pois é uma banda muito boa e muito subestimada. Se você os ouve, você percebe que eles influenciaram muitas bandas de metal modernas, mas não recebem os créditos por isso.”

Motionless in White: “São incríveis, também os conheço desde 2012, na Warped Tour. São muito bons ao vivo. Eu diria que são a banda com o melhor som em nosso segmento. Se eu tivesse que escolher uma banda com o melhor som na parte da frente, seriam eles. É a banda a ser batida.”

Bring Me the Horizon: “Foi incrível fazer shows com eles no verão passado, vê-los nos bastidores, como eles se preparam e tocam nessas grandes arenas. Isso nos valida muito, porque às vezes eu e meus companheiros de banda sentimos que somos muito críticos com nosso trabalho, perfeccionistas e intensos sobre as coisas darem certo. Mas aí fizemos shows com eles e percebi que não estamos loucos, apenas queremos fazer o melhor show, pois é assim que eles também são. Eles querem que cada detalhe seja perfeito. Eu os vi conferindo um vídeo de um show deles antes de uma grande arena em Paris e dizendo: ‘isso não está bom o suficiente’. E aí mudavam no dia do show, pois sabiam que poderiam fazer melhor. Saber que não estou sendo hipercorreta e uma tirana me valida como artista. Eles são muito inspiradores.”

O novo álbum

Como mencionado anteriormente, o Spiritbox lança em 7 de março de 2025 seu próximo álbum de estúdio. “Tsunami Sea” é apenas o segundo disco full-length, mas nem de longe significa que o grupo tem pouco material. Desde 2018, eles disponibilizaram uma série de singles avulsos e quatro EPs — alguns deles até mesmo compilando essas faixas isoladas.

Courtney LaPlante está tão empolgada com o disco que confessou: “gostaria que estivesse sendo lançado na próxima semana, pois desesperadamente quero tocar essas músicas ao vivo”. Todavia, compreende que o longo tempo de espera entre o anúncio e o lançamento em si ajuda a garantir que o maior número possível de pessoas ouça as canções.

Por ter uma tática de lançamento menos convencional — mais EPs do que álbuns e vários singles —, fãs incautos podem pensar que não há grande senso de continuidade nas obras do Spiritbox. A cantora refuta essa tese ao dizer que, dentro da banda, tudo está conectado.

“Mesmo que a gente não promova dessa forma, todos os nossos trabalhos são conceituais e se conectam uns aos outros. Sempre construindo sobre o que fiz antes. E é importante que eu não promova assim, pois prefiro mostrar em vez de dizer ‘é conceitual’. Só quero que descubram por conta própria. Dito isso, ‘Tsunami Sea’ é uma continuação de ‘The Fear of Fear’ (EP, 2023), mas também olhamos como a irmã de ‘Eternal Blue’. É muito diferente de ‘Eternal Blue’, mas ambos são parte muito grande da minha identidade, liricamente e tematicamente.”

Também surpreende quando LaPlante evidencia um diferencial importante deste novo trabalho em relação a “Eternal Blue”. Diferentemente do álbum anterior, “Tsunami Sea” retrata um momento onde a banda, enfim, pode se concentrar apenas em sua música.

“É a irmã mais madura, com músicos que, em vez de serem medrosos e sem confiança tentando fazer isso aos fins de semana, depois de trabalhar o dia todo durante a semana, e então gravando em uma cozinha no deserto em Joshua Tree, agora somos pessoas que têm o privilégio de fazer isso sendo nosso emprego de fato. Levamos isso muito a sério. Não é algo casual. É como se fosse, tipo: ‘como poderia ser agora?’. Já que estamos vivendo nossos sonhos e podemos nos dedicar cada minuto de nossas vidas para criar música.”

Mulheres no front também do Grammy

Pela segunda vez, o Spiritbox foi indicado ao Grammy de Melhor Performance de Metal. Em 2024, a banda concorreu ao prêmio com a música “Jaded”, perdendo para “72 Seasons”, faixa-título do novo álbum do Metallica. No próximo ano, a disputa será com “Cellar Door”, contra “Mea Culpa (Ah! Ça Ira!)” (Gojira com Marina Viotti e Victor Le Manse), “Crown of Horns” (Judas Priest), “Screaming Suicide” (Metallica) e “Suffocate” (Knocked Loose com Poppy).

Há, claro, a emoção de estar simplesmente sendo indicada para um prêmio mainstream, mas Courtney LaPlante faz dois destaques complementares: além de ser raro ter mais de um artista jovem concorrendo, nenhuma mulher venceu o troféu de Melhor Performance de Metal desde a criação da categoria, com outro nome, em 1989 (com a premiação inaugural ocorrendo no ano seguinte). Desta vez, há três chances de alguém do sexo feminino obter o reconhecimento máximo, tendo em vista as participações da cantora de ópera Marina Viotti na gravação do Gojira para as Olimpíadas e de Poppy como artista convidada do Knocked Loose.

Sobre o primeiro ponto, ela destaca:

“Fiquei tão surpresa já no ano passado quando fomos indicados pela primeira vez. É uma grande honra. Mas o que torna diferente essa indicação para mim é que, historicamente, há todas essas bandas lendárias e talvez uma banda pequena. Desta vez, em vez de só nós como banda pequena, temos Knocked Loose com a Poppy: duas mais novas. E temos o Gojira, que teve a melhor performance de metal de todos os tempos nas Olimpíadas, o que é tão legal. Mas me inspira que nós e o Knocked Loose com a Poppy fomos indicados, nunca vi duas bandas mais novas conseguirem.”

A respeito da segunda constatação, ela arremata:

“Se nós não ganharmos, adoraria que eles ganhassem. Esse prêmio surgiu no ano em que eu nasci, 1989. Houve um ano em que Lzzy Hale e o Halestorm ganharam, mas naquele período em que se chamava Melhor Performance de Hard Rock/Metal (em 2013). Nenhuma mulher ganhou o Grammy de Melhor Performance de Metal desde que ele foi criado em 1989. Penso sobre isso todo ano. Estou com quase 36 anos e uma mulher nunca ganhou. Agora há mais chances do que nunca para uma mulher ganhar. Espero que a gente ganhe, espero que Knocked Loose e Poppy ganhem, ou, se o Gojira ganhar, tem uma mulher que é cantora de ópera. São três de cinco chances para quebrar essa barreira de vidro.”

*Bring Me the Horizon, Motionless in White, Spiritbox e The Plot in You se apresentam no Allianz Parque, em São Paulo, neste sábado (30). Mais informações em Eventim. “Tsunami Sea”, novo álbum do Spiritbox, será lançado no próximo dia 7 de março pela Rise / Pale Chord, com representação no Brasil pela BMG. Mais informações clicando aqui.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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