Robertinho de Recife atuou como pioneiro na cena do metal brasileiro. Em 1984, o guitarrista lançou o projeto “Metal Mania”, que, segundo o próprio, era visionário para uma época em que o gosto predominante no país era pela discoteca.
Porém, o músico decidiu abandonar a música pesada. Não só porque não estava recebendo retorno financeiro, mas por causa do público consumidor e dos artistas. O assunto foi abordado durante entrevista para Mateus Starling.
No início dos anos 1980, o instrumentista tirava seu sustento fazendo músicas infantis. Até que um dia ouviu Van Halen e decidiu trilhar um novo caminho na carreira. Como a gravadora achava que metal não vendia, o guitarrista impôs como condição para gravar a música “É de Chocolate”, lançada pela dupla Patrícia & Luciano, ele poder gravar o “Metal Mania”.
Apesar de ter sido um “sucesso de público” e do álbum ter vendido mais de 30 mil cópias em suas palavras, Robertinho não tinha nenhum suporte da gravadora. Conforme transcrição do BeGeeker, ele relembrou:
“O álbum era indesejado pela gravadora, a RCA. E eles só deixaram eu gravar por causa de ‘É de chocolate’. Eles falaram: ‘você grava ‘É de Chocolate’ que eu deixo você fazer essa doidice aí, esse negócio de metal que a gente não acredita’. Eles não trabalharam nada.”
Com o tempo, o próprio também ficou decepcionado. Primeiro, porque queria que seu trabalho fosse popular nas rádios. Segundo, porque a comunidade do metal passou a seguir comportamentos “radicais” dos quais não concordava, como explicou:
“Foi aí que entrou o Yahoo (outra banda). Eu queria fazer uma coisa que fosse sucesso de rádio. E eu estava muito irritado porque o metal, assim como é hoje, virou uma religião. E eu detesto isso. Essa idolatria, aquela coisa de satanismo. Eu quero é me divertir, eu quero sexo, drogas e rock and roll, eu não tenho nada a ver com isso aí.”
Em seguida, o guitarrista pontuou que até mesmo a sonoridade no metal passou a incomodá-lo, tanto pelas guitarras descritas como “metralhadoras”, quanto pelos vocais guturais. Assim, concluiu que a música pesada é onde tem a maior concentração de “idiotas”, apesar das exceções:
“O metal é onde tem mais idiotas [na música]. Mas não são todos os metaleiros. Tem metaleiros maravilhosos, aqueles que não são radicais, que têm diversão. Não são pessoas com problemas mentais. E tem os dodóizinhos, os dodóizinhos existem, entendeu?”
Sobre o “Metal Mania”
Conversando com a revista Freak, Robertinho de Recife relembrou o início do Metal Mania e as dificuldades que enfrentou no período por falta de apoio. No bate-papo concedido em 2020, destacou:
“A gravadora não acreditava na minha música pesada, não achavam que vendia. Então a condição para eu gravar a música ‘Chocolate’ foi eles me gravarem o Metal Mania. Eu estava com dinheiro então eu comprei coisa boa, uns amplificadores bons, um ônibus de tour e fomos tocar, mas o gosto na época era tipo discoteca, ninguém estava pronto para ouvir aquilo. Ninguém contratava a gente, então íamos mais para o interior. Era uma batalha sem apoio da gravadora que me queria fazendo música infantil. A Metal Mania foi uma devastação na minha vida, até pobre fiquei, entrei no metal e me dei muito mal. Abrimos para Deep Purple, Quiet Riot, até nos EUA a gente tocou e todo mundo curtia, éramos pesados, a banda era boa, só músicos bons.”
Uma segunda encarnação do Metal Mania, sem nenhum dos outros integrantes originais, lançou o denominado “Back for More” em 2014. Passados seis anos, Robertinho confirmou, em primeira mão e com exclusividade a Igor Miranda, o fim da banda. “Tivemos o álbum ‘Back for More’, agora temos ‘No More’”, brincou.
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Robertinho do Recife merece todo o respeito enquanto músico, mas só ele acredita nesse papo de que um dia teve uma banda de metal e que foi pioneira do estilo aqui no Brasil.
Pessoas que viveram os anos 80 dentro dessa cena metal vão lembrar de entrevistas onde ele mencionava ter equipamento para tocar em estádio ou grandes ginásios e na hora do vamos ver, nada. No pouco que ele apareceu na mídia, sempre manteve uma pose de rockstar, com entrevistas onde demonstrava muita pose e zero conhecimento do estilo que dizia tocar. E aí foi ignorado pelo público metal da época, que já começava a se organizar como uma cena.
Lendo a matéria, ficou uma sensação de ressentimento da parte dele por nunca ter conseguido se firmar como músico no metal. E para finalizar, na mesma época já existia Vírus, Centúrias, Karisma, Korzus, Dorsal Atlântica, Vulcano, Sagrado Inferno, Abutre, só para citar alguns nomes de bandas formadas por jovens realmente envolvidos com o estilo. Na realidade o que aconteceu é que não havia espaço para ele e seu projeto de banda, entendida como oportunista e comercial.
No mais, o metal seguiu vivo, com diversos problemas (desnecessário mencionar quais), com muitas bandas brasileiras alçando voo internacional, shows acontecendo em uma quantidade absurda e o Robertinho acabou por se tornar um músico irrelevante dentro do atual cenário musical brasileiro e para conseguir alguma visibilidade, precisa reclamar de um estilo que não lembra ou não sabe que ele existe.