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Como Ice-T convenceu David Gilmour a gravar com o Body Count

Banda liderada pelo rapper disponibilizou nova versão do clássico "Comfortably Numb" com participação do guitarrista

Liderado pelo rapper Ice-T, o Body Count disponibilizou em setembro uma releitura de Comfortably Numb, clássico do Pink Floyd presente em “The Wall” (1979). David Gilmour, eterno guitarrista da banda, participou da nova versão. 

Inicialmente, os membros do grupo entraram em contato apenas para que ele autorizasse o uso da ideia. Porém, ao ficar impressionado pela roupagem utilizada, o próprio músico sugeriu que tocasse guitarra na canção.

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Em entrevista ao The Guardian, Ice-T revelou como tudo aconteceu. Segundo relato, as parcerias realizadas por ele e os colegas geralmente surgem por meio de amizades ou pessoas em comum – também foi o caso, por exemplo, de Amy Lee, vocalista do Evanescence, na faixa “When I’m Gone”. Mas, dessa vez, o processo não foi o mesmo.

Inicialmente, o cantor teve o ímpeto de reinventar “Comfortably Numb” por achar que a letra de 1979 ainda fazia sentido para a sociedade atual. Ao terminar a canção, contudo, o Body Count recebeu um balde de água fria em relação ao lançamento. Ele relembrou: 

“Tudo começou comigo querendo recriar ‘Comfortably Numb’, porque acredito que agora estamos todos confortavelmente entorpecidos. Alguém sendo incendiado aparece na televisão e então depois começa um jogo de futebol. Fizemos a nova versão da música e o editor do Pink Floyd simplesmente disse: ‘não, [vocês não vão lança-lá] de jeito nenhum’.”

Assim, sua equipe resolveu abordar diretamente Gilmour. Foi quando o veterano não só deu sua aprovação, mas também pediu para colaborar na música, conforme o rapper:

“Meu empresário entrou em contato com David Gilmour e logo depois recebemos uma ligação [dele] dizendo: ‘quero tocar na música’. Tenho certeza de que há puristas que podem odiar a música, mas f*da-se eles.”

Por mais que leve o nome da música e tenha certos trechos e melodia semelhantes, a versão do Body Count ganhou uma letra nova a respeito da sociedade atual. Há referências às recentes guerras, à apatia da população cercada por tecnologia e ao futuro da humanidade. Ouça abaixo:

David Gilmour e Body Count

Em comunicado, David Gilmour afirmou que o Body Count “tornou a música relevante novamente” e revelou o desejo de apresentar-se ao lado dos colegas quando estiverem em Londres, na Inglaterra. Diz a declaração (via Prog): 

“A versão de ‘Comfortably Numb’ do Body Count é bem radical, mas a letra realmente me impressionou. Fico surpreso que uma música que compus há quase 50 anos esteja de volta com uma ótima nova abordagem. Eles a tornaram relevante novamente. Ice-T inicialmente entrou em contato para pedir para usar a música, mas pensei em me oferecer para tocar nela também. Gostei da nova letra, eles estão falando sobre o mundo em que vivemos agora, o que é bem assustador. Ice-T e Body Count tocaram em Londres recentemente, infelizmente não pude ir, mas se surgisse outra oportunidade de tocar com eles, eu aproveitaria.”

Ice-T, por sua vez, explicou o significado da recém-lançada “Comfortably Numb”. O cantor, que já havia dado pistas a respeito do envolvimento de Gilmour em julho, pontuou em nota: 

“Para mim, ‘Comfortably Numb’ é uma música introspectiva. Sou eu reconhecendo que estou mais velho agora. Estou dizendo à geração mais jovem, ‘vocês têm duas escolhas: podem manter a chama acesa ou podem desistir’. Sou eu tentando dar sentido ao que está acontecendo, mas também apontando que estamos todos em um lugar onde não temos que encarar a realidade. Temos TVs e pipoca e podemos simplesmente sentar e assistir ao caos do mundo como se fosse um programa de TV. Não parece real até que esteja na sua frente. Estou um pouco paralisado também — todos nós estamos.”

“Comfortably Numb” vinha sendo executada ao vivo desde maio, conforme o Setlist.fm, e saiu como single do próximo álbum do Body Count, “Merciless”. O disco completo chega no dia 22 de novembro por meio da Century Media Records.

Pink Floyd e “Comfortably Numb”

A música “Comfortably Numb” não é apenas um dos maiores sucessos do Pink Floyd. O terceiro e último single de “The Wall” (1979) representa um momento interessante da “guerra” travada entre Roger Waters e David Gilmour. É o capítulo final de embates internos, já que o álbum seguinte, “The Final Cut” (1983), foi criado apenas por Waters — que saiu da banda pouco tempo depois.

Além dos quatro membros do Pink Floyd à época, “Comfortably Numb” contou com orquestrações de Michael Kamen e violão do guitarrista de jazz Lee Ritenour. Lançada como single, ganhou disco de platina no Reino Unido, tendo “Hey You” como lado B.

Foi a última colaboração da dupla Gilmour/Waters e também foi a última música tocada na derradeira apresentação oficial da banda, ocorrida durante o evento beneficente Live 8, realizado em 2 de junho de 2005. O quarteto se apresentou em Londres, no Hyde Park.

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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