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Felipe Machado homenageia Pit Passarell: “você era o verdadeiro gênio”

Em texto, músico deu detalhes dos últimos dias do colega, após passar mal durante show do Viper

O guitarrista Felipe Machado publicou um texto em suas redes sociais e nas do Viper homenageando o colega de banda Pit Passarell, falecido no último dia 27 de setembro, aos 56 anos. A mensagem traz uma série de lembranças dos primórdios, além de compartilhar os últimos momentos junto ao músico, já no hospital.

O baixista e vocalista estava internado desde 31 de agosto, após ter passado mal durante show em São Paulo. O grupo confirmou, um dia antes da morte, que o artista havia sido diagnosticado com câncer no pâncreas.

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Escreveu o agora único membro fundador remanescente no grupo:

“Após dias de calor escaldante, São Paulo amanheceu chovendo. Alguém poderia escrever que o céu estava chorando pela partida de Pit Passarell.

Mas Pit Passarell nunca escreveria isso.

O céu, o mar, as estrelas, nada disso importava. Pit só escrevia sobre o que vinha de dentro, suas próprias emoções. Os grandes artistas são assim.

Não há egoísmo, pelo contrário: ao expor seus sentimentos, perdas e amores, medos e desejos, ele compartilhou conosco o mais importante que tinha a oferecer: sua própria vida.

E ela foi intensa e maravilhosa, Pit.

Não sei por que estou te chamando de Pit, nunca te chamei assim. Para mim você é o Pierre, apelidado ‘porque parecia um pintor francês’, nas palavras de algum vizinho.

A infância no Condomínio Monte Belo, há 46 anos, parece outra vida. Tudo passou tão rápido. Que pena.

Apesar de termos feito tantas músicas juntos, as melhores são mesmo aquelas que você compôs sozinho.

Porque você era o verdadeiro gênio. Não era eu, seu irmão ou o Andre. Era você. Não tem problema, nós sabíamos disso. A gente só não te falava.

Não deve ter sido fácil. Das tragédias às esperanças, das paixões às desilusões, tudo foi intenso demais para uma criança que cresceu nos palcos e nas ruas da cidade.

Nem todos suportariam viver dentro de uma poesia. Você não apenas suportou, como transformou sua vida em arte. O mundo agradece.

O documento diz que foi em 27 de setembro de 2024, mas para mim você morreu no palco, diante dos fãs que te amavam. Como sempre quis, aliás.

Outro Pit se levantou e terminou o show. ‘Todo mundo me interpreta mal, ninguém me entende’, você cantou em ‘Rebel Maniac’.

A última que você tocou, ‘HR (Heavy Rock)’, foi a primeira que escrevemos, dois violões, no meu quarto, ainda crianças.

‘Pessoas, venham ouvir o som, que juntos fazemos no underground’. Elas vieram, Pit. Elas te ouviram.

No hospital, ainda tocamos ‘The Spreading Soul’ pela última vez. E guardei as últimas palavras que você rabiscou:

‘As noites dos esquecidos e dos beijos mais ardentes
É assim o coração da cidade
As pessoas que nascem aqui não são feias ou bonitas, mas felizes’

Vai em paz, meu irmão querido.
Felipe Machado”

Sobre Pit Passarell

Pedro Sérgio Murad Passarell nasceu em 11 de abril de 1968, em Buenos Aires, capital da Argentina. Mudou-se para o Brasil na infância e já na adolescência fundou o Viper ao lado do irmão, o guitarrista Yves Passarell, e dos amigos Andre Matos (voz), Felipe Machado (guitarra) e Marcos Kleine (bateria).

A vaga de baterista passou por vários músicos, incluindo Cássio Audi e Sergio Facci, nos anos em que os demais gravaram seus dois primeiros álbuns: “Soldiers of Sunrise” (1987) e “Theatre of Fate” (1989). Hoje considerados clássicos do heavy metal brasileiro, os discos obtiveram boa repercussão especialmente no Japão.

No início dos anos 1990, Matos decidiu sair do Viper, formando o Angra na sequência. Pit assumiu os vocais nesta nova fase, que trouxe ainda Renato Graccia na bateria. O período gerou os discos “Evolution” (1992), “Coma Rage” (1994) e “Tem Pra Todo Mundo” (1996), este último com letras em português e inclinado ao pop rock.

O grupo entrou em hiato ainda em 1996 e retornou em 2005, com Pit Passarell de volta somente ao baixo e Ricardo Bocci nos vocais, além de Guilherme Martin e Val Santos, membros rapidamente nos anos 1980, retornando à bateria e guitarra, respectivamente. Um novo hiato se deu após o álbum “All My Life” (2007) até uma reunião com Andre Matos entre 2012 e 2013. A partir de 2017, Leandro Caçoilo assume os vocais, em uma formação que gravou o disco “Timeless” (2023).

Paralelamente, Pit desenvolveu uma carreira solo que rendeu os álbuns “Pit Passarell and The Lucratives” (2008) e “Praticamente Nada” (2020). Também compôs músicas para o Capital Inicial, grupo do qual seu irmão, Yves, se tornou guitarrista a partir de 2001. Contribuiu com as faixas “O Mundo”, “Seus Olhos”, “Depois da Meia-Noite”, “Algum Dia” e “Instinto Selvagem”.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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