O boicote sofrido pelo Def Leppard após fala racista em show

Vocalista Joe Elliott se referiu a habitantes de El Paso, Texas, Estados Unidos, como “mexicanos balofos”

Em 1983, o Def Leppard já era uma banda gigante nos Estados Unidos – maior até que na sua natal Inglaterra. Divulgando o álbum “Pyromania”, o grupo excursionava pelo país durante o mês de setembro. No dia 6, o quinteto passou por El Paso, Texas, local com grande presença da comunidade latina.

Na noite seguinte, foi a vez de Tucson, no Arizona. Foi quando o vocalista Joe Elliott cometeu um dos maiores erros da carreira. Ao tentar instigar a plateia a interagir, o cantor resolveu fazer uma comparação com o público para o qual havia se apresentado antes.

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Ele disse, conforme resgate do fansite Def Leppard UK:

“Ontem à noite tocamos em El Paso, aquele lugar com todos aqueles mexicanos balofos. E eles fizeram muito mais barulho do que isso.”

À biografia “Animal Instinct”, escrita por David Fricke, Rick Allen não escondeu o constrangimento. O baterista declarou:

“Tentei me esconder mais para baixo na minha bateria, olhando por cima e pensando: ‘Não, você não disse isso. Não poder ter dito’. Felizmente, ninguém na plateia pareceu notar.”

Para azar do frontman, havia um jornalista na multidão que contou o ocorrido aos jornalistas e DJs em El Paso. Como resultado, a Liga dos Cidadãos Latinos Unidos local promoveu um boicote ao Def Leppard, que foi apoiado pela KLAQ, principal estação de rádio roqueira local. A situação escalonou em outubro, quando o prefeito Jonathan Rogers também manifestou solidariedade.

Joe Elliott e as “desculpas a quem se sentiu ofendido”

Em 26 de setembro, já em turnê pelo Japão, Joe Elliott telefonou à KLAQ e tentou se explicar. Ele declarou:

“Eu não moro em El Paso, então eu não entendo realmente o que é e o que não é uma coisa boa ou ruim de se dizer. E, obviamente, naquela noite eu cometi um grande erro. Não foi intencional, e supostamente apenas, você sabe, um bate-papo brincalhão com o público. Era para ser só isso. E, se eu ofendi alguém, então eu sinto muito, muito mesmo.”

O vocalista só conseguiu piorar as coisas se valendo do pior recurso possível: se usar como exemplo de alguém que sofria supostas ofensas por ser branco.

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“Foi do mesmo jeito que somos chamados de saquinhos de chá Limey… Sendo inglês, eu realmente não entendi que isso era um insulto… Se ofendi alguém, então sinto muito.”

Tentando aliviar a barra, Elliott ainda ofereceu discos e camisetas para sortear ao público, além de uma promoção onde levaria dois ouvintes com tudo pago para um show da seguinte excursão europeia. Não colou.

Coletiva e contribuições à comunidade

Em meio ao giro pelo Velho Continente, Joe Elliott voltou aos Estados Unidos para uma coletiva de imprensa. Junto com o senador estadual da Califórnia, Joseph Montoya, se desculpou novamente. Também contribuiu com US$ 15 mil de seu próprio dinheiro para instituições de caridade locais e posou para fotos com representantes de grupos de jovens latinos. E disse:

“A última coisa que os mexicano-americanos precisam enquanto tentam se livrar do estereótipo é que eu ou qualquer outra pessoa faça tais coisas. Foi estúpido da minha parte fazer uma declaração tão falsa.”

A seguir, tentou realizar uma reflexão sobre o que aprendeu do país no período em que já havia passado por lá.

“Isso é muito mais difícil de fazer do que um show. Gostaria de me desculpar publicamente. A declaração foi totalmente não intencional e foi dita durante uma parte altamente emocional do show, quando estava tentando aumentar a participação do público. Era patentemente falsa. Minha única desculpa, embora eu seja inglês e tenha passado a maior parte dos últimos três anos neste país, é que a maior parte do que aprendi sobre os americanos foi por meio da mídia.”

Def Leppard e El Paso

Em fevereiro de 1988, o Def Leppard tentou voltar a El Paso. Porém, alguns moradores locais ainda estavam ressentidos e a apresentação foi desmarcada. Um retorno aconteceria apenas em 2000.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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