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A fase do Anthrax com mais investimento de gravadora, segundo Scott Ian

Banda lançou álbum com seu terceiro vocalista em 1993; apesar dos bons resultados, não foi o esperado por quem controlava o dinheiro

Em 1993, o Anthrax estreava John Bush como seu terceiro vocalista – considerando a fase como artistas de gravação. O álbum “Sound of White Noise” prosseguia com experiências feitas no anterior, “Persistence of Time” (1990), levando o grupo a influências distantes do thrash metal em sua forma mais tradicional e agregando referências alternativas.

O trabalho chegou ao 7º lugar da Billboard 200, melhor desempenho da banda até hoje na principal parada americana. Ganhou discos de ouro nos Estados Unidos e Canadá.

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Ainda assim, o efeito a longo prazo ficou longe do que a gravadora esperava. É o que aponta o guitarrista Scott Ian.

Em 2021, o líder do conjunto refletiu sobre a época em entrevista ao The NFR Podcast, transcrita pelo Ultimate Guitar. O assunto veio à tona quando o entrevistador lembrou a declaração de James Hetfield (Metallica) sobre o single “Only” ser “a música perfeita”.

“Ele disse isso para mim na escadaria do The Warfield, em San Francisco, durante um show daquela turnê. Na verdade, eu estava agressivamente positivo sobre o que estávamos fazendo. Ao mesmo tempo, estaria mentindo se não houvesse aquela dúvida: ‘outras bandas tentaram e falharam’, sabe?”

Como exemplo da percepção, Scott mencionou bandas que ama e se envolveram na mesma situação da troca do frontman. Ele disse:

“Sou um grande fã do Van Halen com David Lee Roth. Também adoro algumas coisas com Sammy Hagar, mas não era o que eu queria. Eu via o Black Sabbath como exemplo para o que buscávamos. Eles fizeram dois discos incríveis com Ronnie James Dio. Sabíamos ter um grande cantor e também onde queríamos chegar.”

Anthrax x Megadeth: o sucesso dos amigos

Mencionando os colegas de Big Four que alcançou sucesso maior, Ian estabeleceu um parâmetro ao qual o Anthrax não chegou.

“Sentia que tínhamos feito o disco certo. Tínhamos músicas como ‘Only’, ‘Room for One More’ e ‘Black Lodge’. Lembre-se, o Megadeth já tinha ‘Symphony of Destruction’ e um disco multiplatinado nesse ponto. O ‘Black Album’ é outro planeta, mas conosco, considerando Megadeth e Slayer, o Megadeth chegou a novos patamares. Nós e o Slayer oscilávamos entre ouro e platina.”

Para o guitarrista, Dave Mustaine e seus comparsas souberam “jogar o jogo” melhor àquela altura.

“O Megadeth foi ficando ainda mais comercial. De minha parte, sentia que estávamos no caminho certo, com as músicas certas. A Elektra [Records] investiu muito dinheiro nas rádios, nos vídeos, tínhamos uma máquina atrás de nós como nunca em nossas vidas. Achei que venderíamos 3 milhões de cópias. Talvez não virássemos o Metallica, pois era um sucesso de outro planeta, mas ao menos chegássemos no Megadeth.”

Scott Ian, guitarrista do Anthrax, durante show no Summer Breeze Brasil 2024
Scott Ian, guitarrista do Anthrax, durante show no Summer Breeze Brasil 2024 (foto: Gustavo Diakov / @xchicanox)

A turnê de “Sound of White Noise”

No fim das contas, não dá para dizer que “Sound of White Noise” foi um fracasso. Ainda assim, não vingou da forma esperada. Analisando a situação, Scott reflete:

“Ganhamos disco de ouro imediatamente. Começamos como atração principal naquela turnê, tocando em locais enormes. Na primeira parte, no verão de 1993, tivemos White Zombie e Quicksand abrindo. E nós literalmente assistimos o White Zombie nos ultrapassar, o que foi ótimo, eles eram amigos e foi demais, um sucesso merecido.”

A excursão levou a banda a lugares nunca antes visitados, incluindo a primeira passagem no Brasil. As apresentações aconteceram em São Paulo e Rio de Janeiro, em junho de 1993.

“Fizemos nossos primeiros shows na América do Sul, foi incrível. Para todos os efeitos, as coisas estavam ótimas. E então nós simplesmente estragamos tudo.”

De quem foi a culpa?

Ao final da explanação, o guitarrista também fez conta de deixar claro não sentir a necessidade de encontrar culpados. As coisas simplesmente não aconteceram.

“Nem todo disco será como ‘Among the Living’ (1987). Ainda acho que ‘Sound of White Noise’ é um dos melhores que já fizemos, mas não sou cego ou ignorante de achar que não perdemos metade do nosso público quando Joey (Belladonna, vocalista que estava fora à época) saiu.”

Pouco antes do rompimento com Belladonna, outra iniciativa do Anthrax deixou os fãs bem divididos: a parceria com o Public Enemy na música “Bring the Noise”, de 1991.

“Sei que muita gente odiou ‘Bring the Noise’. E a gente não só gravou e lançou, como também promovemos a música em turnê. Aposto que perdemos uma grande parte do nosso público na época, pois isso ‘não era metal’. Não sou cego.”

Mas o guitarrista deixou claro que o grupo tomou todas as decisões “de olhos abertos, sabendo dos riscos e disposto a tentar a sorte”. Ele disse:

“Era o que queríamos em termos criativos. Nunca pedirei desculpas por isso. Ao mesmo tempo, admito que, sim, ferramos com tudo. Cometemos erros, mas quando você está nessa, você precisa seguir seu coração.”

Recentemente, o Anthrax passou novamente pelo Brasil, se apresentando no Summer Breeze 2024. Uma resenha exclusiva do show pode ser conferida clicando aqui.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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