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Novo velho formato: Angra reimagina clássicos no Rio com violões e orquestra

Mescla de nostalgia e inovação trouxe repertório menos óbvio, brasilidade aflorada e participações bem encaixadas ao palco do Qualistage

O Rio de Janeiro tem relação bem intrincada com a própria história do Angra. Foi aqui que o guitarrista Kiko Loureiro nasceu, apesar de ter crescido em São Paulo. Foi aqui, em 2011, no Rock in Rio, que o vocalista Edu Falaschi realizou seu derradeiro show com a banda, numa ocasião inesquecível não pelos seus predicados de qualidade, mas sim pelos diversos problemas, sejam técnicos ou de performance. Nesse mesmo festival, na edição de 2015, Loureiro fez sua despedida do grupo, a caminho do Megadeth, e apresentou Marcelo Barbosa como seu substituto.

Nove anos depois, um palco carioca foi responsável por promover o encontro de Kiko com Rafael Bittencourt, em junho, no festival Best of Bues and Rock. Inicialmente anunciado somente para o Rio, o reencontro de Loureiro com sua ex-banda também ocorreu em algumas outras capitais, agora numa participação especial na tour acústica, em promoção a um home video ainda a ser lançado.

- Advertisement -
Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Antes tarde do que nunca

Para quem está familiarizado com a carreira do Angra, surpreende que esse formato de releituras não tenha ocorrido de forma mais estruturada anteriormente. Não que a banda nunca tenha lançado mão de tal recurso; para quem já os acompanhava na década de 1990, o “Live Acoustic at FNAC” é bem conhecido. Trata-se de uma apresentação acústica, em formato pocket show, que era feita por diversas bandas na loja francesa para divulgar novos lançamentos. Algumas faixas saíram como bônus na edição nacional do EP “Freedom Call” (1996).

Neste material, já era possível conferir novas interpretações em formato mais intimista. Influências de música brasileira foram ainda mais acentuadas, sempre com bom gosto e riqueza musical, mas sem perder sua identidade. Agora, décadas depois, a empreitada se transformou no supracitado DVD com uma tour de divulgação.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Salvo melhor juízo, foi a estreia da banda no placo do Qualistage, o eterno “ex-Metropolitan”. O local se demonstrou apropriado para receber o quinteto, com toda a produção trazida, acompanhando também seção de cordas, percussão e piano. E uma numerosa plateia, ainda que longe da classificação “lotada”, compareceu apara apreciar essa nova velha faceta da banda paulista.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Equívoco? Só antes de começar

O início do espetáculo se deu de forma um pouco atrapalhada. Luzes se apagaram, uma introdução soou alto nas caixas de som, os músicos da orquestra se posicionaram e… eis que a música se interrompe e começa a passar nos telões do Qualistage o video de segurança da casa. Na sequência, Bruno Valverde (bateria), Felipe Andreoli (baixo), Marcelo Barbosa (violão) e Rafael Bittencourt (violão), acompanhados ainda de Guga Machado (percussão) e Davi Jardim (piano e teclado), tomaram seus lugares no palco. Não haveria espaço para mais nenhum equívoco naquela noite.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Importante notar como o repertório fugiu da obviedade dos hits e privilegiou músicas que casam melhor com o formato adotado. Não que eles tenham esquecido de suas composições mais emblemáticas, mas assistir ao resgate de algumas canções que andavam mais relegadas ao segundo plano foi pra lá de interessante.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Aplaudido, Fabio Lione (vocal) foi o último a adentrar o palco. A abertura se deu com “Nova Era”, um dos clássicos definitivos da era Falaschi. “Make Believe” soou muito bem na voz de Lione, que soube se impor ao não tentar emular Andre Matos. É importante destacar que o italiano, há mais de uma década na formação, sempre introduziu seu próprio estilo, com respeito ao passado ao mesmo tempo em que não finge ser outra pessoa. Isso faz muita diferença.

Fase mais criativa em evidência, mas não só

A sequência se deu com “Storm of Emotions” e “Gentle Change” — esta, figura mais recorrente nos minisets acústicos presentes nos shows regulares. “Silence and Distance” trouxe saudades dos primórdios da banda e de seu álbum mais emblemático (“Holy Land”, 1996). Dessa fase, ainda teríamos ao longo da noite a própria “Holy Land”, com um final que contou com uma jam expandida, deixando os músicos um pouco mais soltos e a orquestra observando.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Num set que percorreu quase toda a discografia, diz muito o fato de o álbum de 1996 ter sido o mais representado, com três faixas — foi quando o grupo experimentou seu grande ápice criativo e musical. Todavia, o Angra atual também estava presente. A representativa “Here in the Now” trouxe a primeira participação da noite: Vanessa Moreno. Além dessa, a simpática e talentosa vocalista também interpretou “Wuthering Heights”, cover de Kate Bush presente no debut da banda “Angels Cry” (1993), e “Tears of Blood”, juntamente de Lione.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Já na reta final, a brasilidade se fez mais presente, com Kiko Loureiro se juntando aos seus ex-companheiros para tocar quatro canções. “No Pain for the Dead” iniciou a série trazendo ainda Vanessa no palco. Vieram, em seguida, três composições altamente influenciadas pelos sons locais: a já mencionada “Holy Land”, “Late Redemption” e “Rebirth”. Uma trinca arrebatadora que valeu o show.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

“Bleeding Heart” fechou a parte regular do set com um arranjo não muito diferente do original, mas encorpado pelos recursos extras presentes. No bis, “Carry On”, executada na íntegra depois de alguns anos em formato parcial, encerrou o show num arranjo bem interessante que privilegiou sua melodia, mas com um pouco menos de velocidade. Justamente o grande primeiro sucesso da banda foi responsável por colocar um ponto final num sonho antigo do grupo: explorar mais o formato no qual, segundo os próprios membros fundadores, todas as músicas deles nascem.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

O show acústico no Qualistage foi uma experiência única, que destacou ainda mais a importância do Angra em nosso cenário musical. O repertório envolvente, a performance marcante e as participações especiais bem encaixadas fizeram o público sair mais do que satisfeito.

*Mais fotos ao fim da página.

Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos

Angra — ao vivo no Rio de Janeiro

  • Local: Qualistage
  • Data: 18 de agosto de 2024
  • Turnê: Unplugged
  • Produção: Top Link Music

Repertório:

  1. Nova Era
  2. Make Believe
  3. Storm of Emotions
  4. Gentle Change
  5. The Bottom of My Soul
  6. Silence and Distance
  7. Reaching Horizons
  8. Here in the Now (com Vanessa Moreno)
  9. Wuthering Heights (com Vanessa Moreno)
  10. Tears of Blood (com Vanessa Moreno)
  11. No Pain for the Dead (com Vanessa Moreno e Kiko Loureiro)
  12. Holy Land (com Kiko Loureiro)
  13. Late Redemption (com Kiko Loureiro)
  14. Rebirth (com Vanessa Moreno e Kiko Loureiro)
  15. Bleeding Heart

Bis:

  1. Carry On
Foto: Paty Sigiliano @paty_sigilianophotos
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Diego Garcia
Diego Garciahttps://igormiranda.com.br
Engenheiro, com mestrado em mobilidade urbana e especializações em finanças e design de serviços, equilibra seus afazeres profissionais com uma paixão profunda por rock, hard rock e heavy metal, em suas mais variadas vertentes. Começou a colecionar CDs, DVDs e Blurays aos 8 anos de idade e não parou mais, mesmo com a chegada do streaming. Não mede esforços para ir a shows e a festivais.

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O Rio de Janeiro tem relação bem intrincada com a própria história do Angra. Foi aqui que o guitarrista Kiko Loureiro nasceu, apesar de ter crescido em São Paulo. Foi aqui, em 2011, no Rock in Rio, que o vocalista Edu Falaschi realizou seu derradeiro show com a banda, numa ocasião inesquecível não pelos seus predicados de qualidade, mas sim pelos diversos problemas, sejam técnicos ou de performance. Nesse mesmo festival, na edição de 2015, Loureiro fez sua despedida do grupo, a caminho do Megadeth, e apresentou Marcelo Barbosa como seu substituto.

Nove anos depois, um palco carioca foi responsável por promover o encontro de Kiko com Rafael Bittencourt, em junho, no festival Best of Bues and Rock. Inicialmente anunciado somente para o Rio, o reencontro de Loureiro com sua ex-banda também ocorreu em algumas outras capitais, agora numa participação especial na tour acústica, em promoção a um home video ainda a ser lançado.

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Antes tarde do que nunca

Para quem está familiarizado com a carreira do Angra, surpreende que esse formato de releituras não tenha ocorrido de forma mais estruturada anteriormente. Não que a banda nunca tenha lançado mão de tal recurso; para quem já os acompanhava na década de 1990, o “Live Acoustic at FNAC” é bem conhecido. Trata-se de uma apresentação acústica, em formato pocket show, que era feita por diversas bandas na loja francesa para divulgar novos lançamentos. Algumas faixas saíram como bônus na edição nacional do EP “Freedom Call” (1996).

Neste material, já era possível conferir novas interpretações em formato mais intimista. Influências de música brasileira foram ainda mais acentuadas, sempre com bom gosto e riqueza musical, mas sem perder sua identidade. Agora, décadas depois, a empreitada se transformou no supracitado DVD com uma tour de divulgação.

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Salvo melhor juízo, foi a estreia da banda no placo do Qualistage, o eterno “ex-Metropolitan”. O local se demonstrou apropriado para receber o quinteto, com toda a produção trazida, acompanhando também seção de cordas, percussão e piano. E uma numerosa plateia, ainda que longe da classificação “lotada”, compareceu apara apreciar essa nova velha faceta da banda paulista.

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Equívoco? Só antes de começar

O início do espetáculo se deu de forma um pouco atrapalhada. Luzes se apagaram, uma introdução soou alto nas caixas de som, os músicos da orquestra se posicionaram e… eis que a música se interrompe e começa a passar nos telões do Qualistage o video de segurança da casa. Na sequência, Bruno Valverde (bateria), Felipe Andreoli (baixo), Marcelo Barbosa (violão) e Rafael Bittencourt (violão), acompanhados ainda de Guga Machado (percussão) e Davi Jardim (piano e teclado), tomaram seus lugares no palco. Não haveria espaço para mais nenhum equívoco naquela noite.

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Importante notar como o repertório fugiu da obviedade dos hits e privilegiou músicas que casam melhor com o formato adotado. Não que eles tenham esquecido de suas composições mais emblemáticas, mas assistir ao resgate de algumas canções que andavam mais relegadas ao segundo plano foi pra lá de interessante.

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Aplaudido, Fabio Lione (vocal) foi o último a adentrar o palco. A abertura se deu com “Nova Era”, um dos clássicos definitivos da era Falaschi. “Make Believe” soou muito bem na voz de Lione, que soube se impor ao não tentar emular Andre Matos. É importante destacar que o italiano, há mais de uma década na formação, sempre introduziu seu próprio estilo, com respeito ao passado ao mesmo tempo em que não finge ser outra pessoa. Isso faz muita diferença.

Fase mais criativa em evidência, mas não só

A sequência se deu com “Storm of Emotions” e “Gentle Change” — esta, figura mais recorrente nos minisets acústicos presentes nos shows regulares. “Silence and Distance” trouxe saudades dos primórdios da banda e de seu álbum mais emblemático (“Holy Land”, 1996). Dessa fase, ainda teríamos ao longo da noite a própria “Holy Land”, com um final que contou com uma jam expandida, deixando os músicos um pouco mais soltos e a orquestra observando.

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Num set que percorreu quase toda a discografia, diz muito o fato de o álbum de 1996 ter sido o mais representado, com três faixas — foi quando o grupo experimentou seu grande ápice criativo e musical. Todavia, o Angra atual também estava presente. A representativa “Here in the Now” trouxe a primeira participação da noite: Vanessa Moreno. Além dessa, a simpática e talentosa vocalista também interpretou “Wuthering Heights”, cover de Kate Bush presente no debut da banda “Angels Cry” (1993), e “Tears of Blood”, juntamente de Lione.

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Já na reta final, a brasilidade se fez mais presente, com Kiko Loureiro se juntando aos seus ex-companheiros para tocar quatro canções. “No Pain for the Dead” iniciou a série trazendo ainda Vanessa no palco. Vieram, em seguida, três composições altamente influenciadas pelos sons locais: a já mencionada “Holy Land”, “Late Redemption” e “Rebirth”. Uma trinca arrebatadora que valeu o show.

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“Bleeding Heart” fechou a parte regular do set com um arranjo não muito diferente do original, mas encorpado pelos recursos extras presentes. No bis, “Carry On”, executada na íntegra depois de alguns anos em formato parcial, encerrou o show num arranjo bem interessante que privilegiou sua melodia, mas com um pouco menos de velocidade. Justamente o grande primeiro sucesso da banda foi responsável por colocar um ponto final num sonho antigo do grupo: explorar mais o formato no qual, segundo os próprios membros fundadores, todas as músicas deles nascem.

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O show acústico no Qualistage foi uma experiência única, que destacou ainda mais a importância do Angra em nosso cenário musical. O repertório envolvente, a performance marcante e as participações especiais bem encaixadas fizeram o público sair mais do que satisfeito.

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Angra — ao vivo no Rio de Janeiro

  • Local: Qualistage
  • Data: 18 de agosto de 2024
  • Turnê: Unplugged
  • Produção: Top Link Music

Repertório:

  1. Nova Era
  2. Make Believe
  3. Storm of Emotions
  4. Gentle Change
  5. The Bottom of My Soul
  6. Silence and Distance
  7. Reaching Horizons
  8. Here in the Now (com Vanessa Moreno)
  9. Wuthering Heights (com Vanessa Moreno)
  10. Tears of Blood (com Vanessa Moreno)
  11. No Pain for the Dead (com Vanessa Moreno e Kiko Loureiro)
  12. Holy Land (com Kiko Loureiro)
  13. Late Redemption (com Kiko Loureiro)
  14. Rebirth (com Vanessa Moreno e Kiko Loureiro)
  15. Bleeding Heart

Bis:

  1. Carry On
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