O álbum homônimo de estreia do The Doors contou com inúmeras influências. Lançado em janeiro de 1967, o disco incorporou elementos de gêneros como o jazz, blues e música clássica ao rock psicodélico. Uma das faixas até buscou inspiração na bossa nova, segundo John Desnmore.
O baterista afirmou que “Break On Through (To the Other Side)”, canção de abertura, tem referências ao estilo. Conversando com Gabriel Zorzetto para o Estadão, o músico disse que, à época, ficou encantado com a bossa nova e que, com certas adaptações, resolveu trazer o ritmo brasileiro para o trabalho.
Ele declarou:
“Quando o The Doors estavam ensaiando pela primeira vez, antes de conseguirmos um contrato com uma gravadora, a bossa nova estava em ascensão vindo do Brasil, e nós ficamos simplesmente impressionados com Gilberto Gil (apesar de proferir claramente o nome de Gil, John pode ter se equivocado na intenção de se referir a João Gilberto). E ‘Garota de Ipanema’ (composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) foi um grande sucesso aqui. Eu simplesmente não podia acreditar como o ritmo era tão relaxado, mas também profundo. Isso é papo de baterista, mas todos nós bateristas daqui aprendemos o ritmo da bossa nova. E então eu pensei: ‘Estou tocando rock and roll. Vou pegar esse ritmo e torná-lo mais rápido e rígido para se encaixar em ‘Break On Through’’. E foi o que eu fiz. Então, obrigado, Brasil!”
Aliás, ele não era o único amante da música nacional. Como mencionou em seguida, o tecladista Ray Manzarek também era um fã:
“As palavras do Jim (Morrison, vocalista) meio que me diziam como tocar bateria. No início, ele era muito tímido, mas Ray Manzarek, o tecladista, era muito mergulhado no jazz, como eu. Nós dois simplesmente amávamos bossa nova e Miles Davis.”
Sobre “Break On Through (To the Other Side)”
Faixa de abertura do álbum de estreia homônimo do The Doors, “Break on Through (To the Other Side)” foi a primeira música lançada para promover a carreira da banda. Apesar de ser vista como um dos maiores clássicos do grupo, a recepção inicial não foi encorajadora. O single chegou apenas ao 126º lugar na Billboard Hot 100, parada de compactos dos Estados Unidos.
O tempo tratou de fazer justiça a “Break on Through (To the Other Side)” e a deu nova vida ao ser escolhida para promover o filme que contava a história da banda, em 1991. Já no século atual, em 2012, a música rompeu barreiras interplanetárias ao ser tocada em Marte, durante uma missão exploradora da Nasa.
Anteriormente, John Densmore já havia declarado abertamente ter se inspirado na música brasileira para criar a levada em “Break on Through (To the Other Side)”. O músico, como seus colegas, era um apreciador da bossa nova e a abordagem latina que o movimento incorporou ao jazz.
Ray Manzarek também utilizou do estilo nacional para o teclado da canção. Segundo o tecladista em sua autobiografia (via Ultimate Classic Rock), o álbum “Getz/Gilberto” (1964), lançado como uma parceria do saxofonista Stan Getz com João Gilberto, atuou como uma das referências.
Além de “Break on Through (To the Other Side)”, outras faixas do mesmo disco parecem ter sido inspiradas pela música latina. “Twentieth Century Fox”, “Alabama Song” e “Light My Fire” são alguns exemplos.
“The Doors”, o álbum
Disponibilizado em 4 de janeiro de 1967, o trabalho homônimo do The Doors vendeu mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo. Emplacou os singles “Break On Through (To the Other Side)” e “Light My Fire”. A segunda se tornou uma das únicas do grupo a alcançar o topo nos Estados Unidos – a outra foi “Hello, I Love You”, de “Waiting for the Sun” (1968).
As sessões aconteceram em apenas seis dias do ano anterior ao lançamento no Sunset Sound Recorders, estúdio em Hollywood. Em 2015, o disco foi selecionado pela Livraria do Congresso Norte-Americano para inclusão nos registros nacionais, baseado em seu valor artístico, histórico e cultural.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.
João Golberto
E não Gilberto Gil
A entrevista diz Gilberto Gil mesmo, não João Gilberto. Mas incluímos uma observação. Obrigado pelo comentário.