A virada da década de 1970 para 1980 ficou marcada na história do Black Sabbath como seu primeiro período de instabilidade. Após enfrentar uma mudança de dinâmica com a chegada de Ronnie James Dio — que substituiu Ozzy Osbourne, demitido em 1979 —, o baterista Bill Ward decidiu deixar o grupo devido ao abuso de álcool e dificuldade de se adaptar à ausência do vocalista original.
Vinny Appice assumiu o posto de baterista, mas a mudança em meio à turnê do álbum “Heaven and Hell” preocupou um dos integrantes mais antigos. Em entrevista à Ultimate Classic Rock em 2021, Tony Iommi abordou as tensões por trás da chegada do novo membro.
O guitarrista admitiu ter estranhado a entrada de Appice simplesmente porque tocou com Ward praticamente a vida toda. Ele disse:
“Trazer Vinny foi outro choque completo para mim e eu estava absolutamente apavorado. Para ser honesto, eu não tinha tocado com outro baterista por muitos, muitos anos. Bill sabia tudo o que eu fazia e nós nos seguíamos minuciosamente, mas trazer alguém como Vinny, que era um baterista de estilo diferente, foi algo totalmente novo.”
Entre compromissos da banda, Appice teve poucos dias para se preparar para sua estreia, fator que aumentou ainda mais as preocupações de Iommi.
“Nós o testamos em Los Angeles, e dois ou três dias depois estávamos tocando em um festival no Havaí. Vinny estava confiante. Ele disse: ‘Eu vou me sair bem. Fiz anotações de todas as músicas, e onde faremos isso e aquilo’. Mas eu não estava confiante. No dia do show, lembro-me de estar andando de um lado para o outro e Ronnie dizendo: ‘Não se preocupe! Pare de se preocupar. Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo certo’, tentando me acalmar. [Risos.]”
A preocupaçao de Tony Iommi
Ao subir no palco e se deparar com o kit de bateria mais simples usado por Vinny Appice — contrastando com o palco praticável monumental de Bill Ward —, Tony Iommi acreditou que o novato não daria conta do recado. Felizmente, o músico conseguiu se sair bem, mesmo com o surgimento de um pequeno imprevisto.
“Subimos no palco e havia uma bateria minúscula no enorme riser de Bill, que parecia ridícula – parecia um kit de brinquedo – que era, claro, a de Vinny. E eu pensei: ‘Nunca vou conseguir ouvi-la!’ Justo, Vinny realmente deu conta do recado e fez um ótimo trabalho. A única coisa foi que começou a chover e Vinny tinha todas as suas anotações, que se borraram todas. Foi como: ‘Oh, não! O que vem a seguir, pelo amor de Deus!’ [Risos.] Mas conseguimos fazer o show e Vinny realmente fez um bom trabalho. A partir de então, ele pegou o jeito de como trabalhávamos.”
Inicialmente o sotaque britânico dos integrantes originais do Sabbath criou uma barreira de comunicação com o baterista americano. Porém, a situação foi contornada com a ajuda de Dio.
“No início, quando costumávamos conversar, todos acostumados aos mesmos sotaques, Vinny não conseguia entender o que estávamos dizendo. Ele costumava dizer a Ronnie: ‘O que eles disseram?’ [Risos.] E Ronnie explicava para ele. Foi um aprendizado para todos nós e, claro, quando saímos em turnê, Vinny estava tocando muito bem.”
A carreira de Vinny Appice
Com o fim da turnê e a volta de Bill Ward descartada, Vinny Appice permaneceu no posto de baterista do Black Sabbath e contribuiu com o álbum de inéditas “Mob Rules” (1981) e o ao vivo “Live Evil” (1982). Porém, em meio a bastidores tensos, deixou a banda em 1982 para integrar o projeto solo de Dio. Ambos retornaram no início da década de 1990 e no meio dos anos 2000, neste último caso usando a alcunha Heaven & Hell.
À Ultimate Guitar em 2020, Appice abordou a decisão de seguir o vocalista.
“Tive que fazer uma escolha, pois Tony também me queria no Black Sabbath. Eu pensei: Ronnie vivia, literalmente, a poucos quilômetros de distância da minha casa na Califórnia. Seria mais fácil de trabalhar junto. Tony e Geezer estavam na Inglaterra. E aquilo era empolgante para mim: montar uma banda com um dos maiores vocalistas. Decidi aceitar a oferta de Ronnie e, no início, éramos só nós dois, testando guitarristas.”
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