Por que o Black Sabbath está mais satânico em “Headless Cross”

Letras explicitamente sombrias chegaram a virar piada dentro da banda, especialmente com o baterista Cozy Powell

Lançado em 1989, Headless Cross (1989) trouxe um Black Sabbath que pareceu abraçar seu lado mais “satânico” — do qual, curiosamente, tentou se desvencilhar em outros momentos carreira. As letras do 14º álbum do grupo estão entre as mais sombrias de toda a discografia.

Isso se dá pela presença de um integrante que não fez sua estreia no disco, mas participou ativamente do processo de composição. Trata-se de Tony Martin.

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Quando o cantor chegou no Sabbath, coube a ele apenas regravar os vocais de Ray Gillen em “The Eternal Idol” (1987). Foi só a partir do trabalho seguinte que pôde assumir as letras que iria interpretar. A temática encontrada por ele tendia para o obscuro, ainda que com fortes influências literárias.

Em sua autobiografia “Iron Man: Minha Jornada Pelo Céu e Inferno com o Black Sabbath”, o guitarrista Tony Iommi cita esse motivo para a temática mais “dark” dos versos, que considera um pouco exageradas. Ele diz:

“Tony Martin tinha acabado de chegar na banda e ele presumiu ‘oh, Black Sabbath, é tudo sobre o Diabo’, então suas letras eram cheias de Diabo e Satã. Era muito na cara.”

Recentemente, os dois Tonys se reuniram para a divulgação do box set “Anno Mundi: 1989 – 1995”, que trará vários álbuns da “era Martin”. Na ocasião, Iommi revelou ter uma visão diferente. O guitarrista disse entender que o vocalista estava buscando sua identidade própria na história da banda e a conseguiu dessa forma.

Mais morte, por favor!

O próprio Tony Martin oferece sua visão em um vídeo promocional onde aparece ao lado de Iommi, no canal do líder do Black Sabbath no YouTube. Confirmando a questão da identidade, o vocalista disse que tentou trazer uma temática medieval para “Headless Cross”, que acabou tendo o sombrio como resultado.

“Eu peguei temas medievais e apliquei em melodias pesadas. Porque eu não podia fazer as coisas de Ronnie (James Dio, ex-vocalista). E as letras de Geezer (Butler, ex-baixista e letrista) para Ozzy (Osbourne, vocalista) são de uma era diferente. Então tive que achar outra coisa. O caminho que eu pensei em seguir foi esse medieval, peste negra (risos)… Talvez um pouco demais, mas era o único jeito que eu tinha de seguir, sabe? Foi um pouco estranho no começo, os caras ficavam ‘tem morte o suficiente nisso?’, mas sim, foi bom.”

A piada com o excesso de morte veio de um comentário do baterista Cozy Powell sobre “When Death Calls”, uma das faixas mais sombrias de “Headless Cross”. Tony Martin relembrou:

“Cozy estava lá, tocando sua bateria, e ele parou no meio. Ele disse: ‘como se chama essa música?’ Responderam: ‘When Death Calls’. E ele: ‘Eu estava pensando que ela precisa de mais morte!’ (risos). Então, ficou aquela coisa ‘já tem morte o suficiente nessa?’.”

Sobre “Headless Cross”

O 14º álbum do Black Sabbath é um ponto alto na discografia da banda. Apesar de ter sido o segundo com o vocalista Tony Martin, foi o primeiro no qual ele participou ativamente do processo criativo, escrevendo as letras. Foi também a estreia do veterano baterista Cozy Powell e o único com o baixista Laurence Cottle.

O disco foi bem recebido na Europa de modo geral, mas a divulgação fraca da gravadora I.R.S. nos Estados Unidos e Inglaterra impediu resultados melhores. A turnê ficou marcada por uma longa série de shows na Rússia, que estava em plena transição com o fim da União Soviética.

“Headless Cross”, assim como outros álbuns gravados com Tony Martin nos vocais, será relançado no box set “Anno Domini: 1989 – 1995”, que chega no dia 31 de maio.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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