...

Simple Plan e NX Zero em São Paulo: a ordem dos fatores alterou o produto

Em sideshow do I Wanna Be Tour, canadenses tentaram cativar, mas foram ofuscados pelos brasileiros em momento favorável

Show extra de headliner de festival, na mesma cidade, mas em lugar menor, parece estar virando uma tendência. Depois do The Killers se apresentar no Tokio Marine Hall dias antes de encerrar, no sábado, o Primavera Sound de 2023 (caberia ao The Cure encerrar o segundo e último dia), a nona vinda do Simple Plan ao Brasil apresentou contornos semelhantes.

A banda canadense é a atração principal do festival I Wanna Be Tour, calcado no cenário emo/pop punk dos anos 2000. Apesar de ocorrer em São Paulo, Curitiba, Olinda, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, apenas a capital paulista ganhou um sideshow. Talvez por ser a única cidade onde os ingressos esgotaram. Ou quase: mesmo após o anúncio de sold-out em outubro, o evento teve entradas à venda em diversos momentos, inclusive em uma promoção de Natal e na semana anterior ao início.

- Advertisement -
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Convidado de peso

Coube ao NX Zero abrir a noite, como convidados de gala. Avisados ou não pela situação envolvendo o You Me at Six, o Simple Plan já mencionou e agradeceu publicamente a banda paulista por acompanhá-los desde que o show foi anunciado.

Isso não impede o questionamento óbvio: como uma banda que, sozinha, encheu dois dias o mesmo Allianz Parque onde ocorrerá o festival em São Paulo — e teve público semelhante nas outras praças — topa ser banda de abertura de outro grupo que nunca chegou perto disso em lugar nenhum do mundo?

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Questionamentos à parte, o NX Zero subiu ao palco pouco depois das 20h15, horário oficialmente anunciado pela 30e. Aliás, horários representaram um problema: a produtora só divulgou a programação do sideshow na noite de quarta-feira (28), dois dias antes. No ingresso e na página de vendas na Eventim, estava escrito que os portões abririam às 17h, mas o novo planejamento indicava abertura às 19h. Como resultado, filas enormes se formavam desde às 16h.

Uma estrutura de palco semelhante — embora reduzida —, com telão de alta definição no fundo e plataformas que permitiam que os músicos transitassem por trás da bateria, poderia indicar que o show do NX seria o mesmo apresentado em dezembro de 2023. Hipótese descartada tão logo começam com “Além de Mim”, penúltima na apresentação anterior.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Spoiler: a histeria durante a breve introdução, entrada dos músicos e primeiros acordes não foi parelhada em nenhum momento do show do Simple Plan. Ainda que não se trate de competição, fica difícil não notar de que os canadenses foram headliners somente na banca de merchandising, em que dominaram o espaço com uma diversidade de produtos que tornaram quase invisíveis o copo e dois modelos de camiseta dos brasileiros.

É uma questão de fato. Contudo, é justo lembrar que o vocalista Di Ferrero, os guitarristas Gee Rocha e Filipe, o baixista Caco Grandino e o baterista Daniel Weksler serviram-se do  movimento, mais lucrativo do que renovador de carreiras, de encerrar as atividades para voltar anos depois – seis, no caso. O Simple Plan, por outro lado, vem de trajetória ininterrupta e disco recente de inéditas, “Harder Than It Looks”, lançado em 2022.

Falha técnica

Essa vantagem não impediu que uma falha significativa ocorresse durante “Onde Estiver”, terceira música do setlist do NX Zero.

O público acompanhou em peso a música desde o primeiro verso, mais alto do que a banda. Porém, Di Ferreiro parecia incomodado com algo, como se estivesse desconfortável em ter de tocar violão enquanto canta.

Na verdade, o microfone dele estava desligado ou funcionando de uma maneira que só ele pudesse ouvir. A confusão permaneceu porque ele insistia em fazer perguntas para o público que não tinha como entendê-lo.

Esclarecido o mistério, fizeram uma pausa, recomeçaram a música e nada da voz de Di sair nos falantes voltados para o público (o famoso P.A.). Os presentes cantaram ainda mais alto e dariam conta do recado, mas a banda optou por interromper a música novamente. Ocorreu a Di continuar tentando se comunicar com o público sabendo que o problema continuava e, ao Gee Rocha, que também faz os backing vocals, a ideia óbvia de testar o próprio microfone, que estava funcionando bem.

Começaram pela terceira vez “Onde Estiver”, com Gee assumindo o vocal, uma vez que o Di não saiu do lugar. Embora estivesse rolando com o povo cantando ainda mais alto, pararam de tocar novamente porque o microfone problemático continuou inativo e o vocalista não desistia de conversar com o público através de um aparelho que se recusava a funcionar. Após uma pausa, o problema foi resolvido e passaram para a próxima música, no caso, “Espero a Minha Vez”.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Felizmente, o imprevisto não interrompeu a dinâmica do show. A animação da banda e do povo permaneceu alta e, aos 45 do segundo tempo, após terminarem “Razões e Emoções”, Ferrero lembrou de mandar um “salve” para a banda vindoura pela primeira e única vez.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Simples e simpáticos

Às 21h50, começou a intro: o tema de Star Wars. Um a um, o vocalista Pierre Bouvier, os guitarristas Jeff Stinco e Sébastien Lefebvre e o baterista Chuck Comeau, subiram ao palco para abrir a apresentação com a sequência “I’d Do Anything” e o hit “Shut Up”. Em “Jump”, pedem para o público que pule e são atendidos por todo o lotado Vibra.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Todos esbanjaram muita simpatia. Pierre falou a todo momento expressões em português com muito pouco sotaque, tipo “te amo, Brasil” e pronunciando “êne xis zero” (não “én équis zir ou”, como seria de se esperar). Diz ainda que “SP” é de Simple Plan e de São Paulo. Enfim, o que não faltou foi esforço honesto de gratidão com o Brasil. Ele ainda lembrou que esse ano faz 20 anos da primeira visita da banda ao país — o que é quase correto, pois foi em 2005 que estrearam aqui.

Mas a apresentação não se centrou em lembranças de tempos especiais. Três músicas do disco mais recente foram tocadas: “Wake Me Up (When This Nightmare’s Over)”, “Million Pictures of You” e “Iconic”, esta estreando os efeitos de explosão de fumaça com papel picado, que seriam usados em muitos momentos durante a noite. Na última canção citada, também ficou evidente o uso de backing tracks no vocal, não só no baixo — pois tal qual The Doors, eles não têm baixista ao vivo, mas diferente da banda de Jim Morrison, usam um aparelho para substituí-lo.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Altos e baixos

Tanta interação exigia uma disposição por parte dos fãs que foi decrescendo ao longo da apresentação. A situação atingiu o auge no intervalo do bis, quando apenas uma pequena porcentagem do indecentemente cheio Vibra se importou em chamar a banda de volta.
O Simple Plan também não os ajuda. Antes do bis, três ocorrências intencionais do terrível medley, sendo um deles de cover cujo critério é difícil de entender: Smash Mouth, Avril Lavigne e The Killers. A trinca foi precedida por uma versão quase irreconhecível de “Vira-Vira”, do Mamonas Assassinas, cantada pelo público. Quando tocaram “What’s New Scooby-Doo?”, vários fãs subiram ao palco vestidos de cachorro e o povo reagiu bem, apesar dos pedidos de foto que pausaram a apresentação.

Porém, já no bis, tocaram uma versão estendida para além da conta de “I’m Just a Kid”. O momento teve direito a troca de instrumentos, com Pierre indo para bateria. Chuck, com uma camisa da seleção brasileira, virou uma espécie de mestre de cerimônias, pulando para o meio do público e chamando algumas pessoas para uma foto coletiva no palco. Di Ferrero surgiu para cantar a parte final da música. Ao final, as pessoas pediram fotos individuais com os integrantes, outra espera para que o show seguisse o rumo e retomasse o ritmo.

Aí vem uma sequência acústica em que Pierre fica sozinho para tocar “Gone Too Soon”, “Untitled” e “Perfect”. Na segunda metade desta última, a banda volta à cena para o final apoteótico — se é que isso seria possível.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Saldo final

Tanto NX Zero quanto Simple Plan são bandas artisticamente fáceis de criticar pela simplicidade geral e irrestrita de letra, ritmo, andamento, performance vocal e por aí vai. Porém, uma diferença existe e deve ter contribuído para a dinâmica decrescente da noite de sexta-feira (1º).

O NX se repete muito, mas quando o faz, lembra o próprio material. Já o Simple Plan carece de alguma característica que lhes seja particular além da simpatia.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

O resultado disso tudo faz com que a sensação tenha sido de que, após a verdadeira atração principal, uma banda divertida distraísse o público para que a saída fosse gradual e organizada. O que, infelizmente, fez falta, dada a lentidão na saída em função da lotação da casa.

A ver se, nas próximas cinco datas, já no contexto de festival, a dinâmica entre as bandas melhora.

*A turnê itinerante I Wanna Be Tour tem início neste sábado (2) em São Paulo e passará por mais quatro cidades nos próximos dias. Clique aqui para mais informações. Há mais fotos de ambas as bandas ao fim desta página.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Simple Plan e NX Zero — ao vivo em São Paulo

  • Local: Vibra
  • Data: 1º de março de 2024
  • Turnê: I Wanna Be Tour

Repertório — NX Zero:

  1. Além de Mim
  2. Bem ou Mal
  3. Inimigo Invisível
  4. Você Vai Lembrar de Mim
  5. Onde Estiver
  6. Espero a Minha Vez
  7. Cedo ou Tarde
  8. Cartas Pra Você
  9. Só Rezo
  10. Daqui Para Frente
  11. Hoje o Céu Abriu
  12. Ligação
  13. Razões e Emoções

Repertório — Simple Plan:

  1. I’d Do Anything
  2. Shut Up!
  3. Jump
  4. You Suck at Love
  5. Your Love Is a Lie
  6. Addicted
  7. Welcome to My Life
  8. Iconic
  9. Summer Paradise
  10. Take My Hand
  11. Astronaut
  12. Wake Me Up (When This Nightmare’s Over)
  13. Grow Up / Vacation
  14. Million Pictures of You
  15. Medley: Vira-Vira (Mamonas Assassinas) / All Star (Smash Mouth) / Sk8er Boi (Avril Lavigne) / Mr. Brightside (The Killers)
  16. What’s New Scooby Doo? (trilha de Scooby-Doo)
  17. Where I Belong

Bis:

  1. Jet Lag
  2. Medley: Crazy / Perfect World / Save You / This Song Saved My Life
  3. I’m Just a Kid
  4. Gone Too Soon (acústica)
  5. Untitled (acústica)
  6. Perfect

*Agradecimentos especiais a Fábio Lopes e Giullia Sampaio pelo apoio.

Mais fotos do NX Zero:

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Mais fotos do Simple Plan:

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Threads | Facebook | YouTube.

ESCOLHAS DO EDITOR
InícioResenhasResenhas de showsSimple Plan e NX Zero em São Paulo: a ordem dos fatores...
Rolf Amaro
Rolf Amarohttps://igormiranda.com.br
Nasceu em 83, é baixista do Mars Addict, formado em Ciências Sociais pela USP. Sempre anda com o Andreas no braço, um livro numa mão e a Ana na outra.

DEIXE UMA RESPOSTA (comentários ofensivos não serão aprovados)

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui


Últimas notícias

Curiosidades