Wayne Kramer ensinou ao rock que o cotidiano podia ser transcendental

Política do MC5 era calcada no desejo de que todos pudessem aproveitar as coisas simples da vida, como amor, carros velozes e rock

O MC5 se consagrou como uma das bandas mais importantes da história do rock. Estabeleceu um paradigma musical copiado até hoje. No centro disso estava Wayne Kramer, guitarrista falecido nesta sexta-feira (2), aos 75 anos, devido a um câncer no pâncreas.

Junto com o amigo e também guitarrista Fred “Sonic” Smith, eles pegaram o R&B explosivo de James Brown, o surf rock dos Ventures e as explorações sonoras do jazz para criar algo transcendental, mas com os pés no chão e cheio de consciência política.

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Kramer formou com Smith o que viria a se chamar MC5 na cidade americana de Detroit, em 1963. Os dois tinham interesse em fazer música indicativa de seus interesses: no caso, mulheres, carros velozes e rock’n’roll.

A entrada do vocalista Rob Tyner no grupo introduziu mais elementos políticos de esquerda. Quando John Sinclair se tornou empresário deles, a banda adquiriu uma fama política radical.

Em meio a tudo isso, a sonoridade do MC5 (abreviação de Motor City 5, uma alusão às raízes deles) era ainda mais radical que sua política. Kramer e Smith começaram a se interessar por free jazz, especificamente John Coltrane e Ornette Coleman, assim como os poetas beat Allen Ginsberg e Ed Sanders. 

As performances ao vivo lhes deram notoriedade nacional. Isso significou um contrato com a Elektra Records e um convite para se apresentarem durante um protesto antiguerra durante a Convenção Nacional do Partido Democrata em 1968, na cidade de Chicago. Eles tocaram durante oito horas, até que a manifestação fosse encerrada à força pela polícia.

O primeiro álbum do MC5 pela Elektra, “Kick Out the Jams”, entrou para a história do rock devido ao fato de Rob Tyner abrir a faixa-título com o palavrão “motherf#ckers”. A banda se recusou a remover o termo chulo a pedido de uma loja de departamentos local na forma de um anúncio em jornal no qual mandavam os donos da loja para aquele lugar. O problema foi: usaram a logomarca da gravadora, que os largou por isso.

Após dois álbuns subsequentes pela Atlantic, o MC5 terminou em 1972. Planos de Kramer para um projeto seguinte foram interrompidos em 1975, após ele ter sido preso por tráfico de drogas. O guitarrista passou quatro anos na cadeia. Quando saiu, começou a trabalhar como carpinteiro em Nova York durante os anos 80.

Ele e os outros integrantes do MC5 se reuniram para um show beneficente em 1991, cujos fundos foram destinados à viúva de Rob Tyner, falecido naquele ano. Na década de 1990, Kramer deu início a uma carreira solo independente, primeiro na Epitaph Records e depois no selo próprio MuscleTone.

Após quase 40 anos de bebida e drogas, Kramer ficou sóbrio em 1998. Desde então, ele se esforçava para manter o legado do MC5 vivo. Levantou em 2022 a possibilidade de material novo ser lançado, após uma série de shows com uma formação especial. Com sua morte, Dennis Thompson agora é o único integrante do grupo ainda vivo.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

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