Sharon Osbourne se manifestou após as duras críticas feitas por seu marido, Ozzy Osbourne, contra Kanye West. O rapper, hoje conhecido como Ye, usou sem autorização um trecho de uma gravação ao vivo de “Iron Man”, do Black Sabbath, durante a festa de lançamento de seu novo álbum, “Vultures”. Imagina-se que o trecho seja reproduzido também no disco, que ainda não foi lançado — mais especificamente na faixa “Carnival”.
Em entrevista ao TMZ, a empresária reforçou as falas do cantor, que acusou o rapper de “antissemitismo” em uma publicação nas redes. Sharon disse que “Kanye mexeu com a judia errada desta vez”, exaltando suas origens no judaísmo — esta era a religião de seu falecido pai, o também empresário Don Arden.
West, de acordo com Sharon, foi notificado extrajudicialmente pelo uso da gravação — o caso pode ser levado à Justiça se houver insistência. A manager contou que uma pessoa da equipe do rapper entrou em contato há três semanas pedindo permissão para usar um trecho de uma versão ao vivo de “Iron Man”, gravada durante show no US Festival de 1983. A solicitação foi negada. Mesmo assim, houve o uso.
Ainda segundo Sharon, é muito raro que Ozzy negue pedidos do tipo. O normal é que ele libere o uso. Porém, neste caso, os comentários controversos de West criaram uma “ocasião especial para dizer não”. Nas palavras da empresária, Ye atualmente “representa o ódio” e é um “antissemita desrespeitoso”, “perigoso” e um “porco filho da p*ta”. Por isso, não há desejo de ter qualquer associação a ele — mesmo que o uso da música seja de poucos segundos.
Sem desculpas
Em entrevista à Billboard, Sharon Osbourne ofereceu mais alguns detalhes sobre a situação. A empresária disse que Ozzy não quer “ser associado a alguém que propaga o ódio” e opinou que questões de saúde mental, como o boato de que Kanye West sofreria de transtorno bipolar, não servem de desculpa.
“Não deveria ser permitido espalhar o ódio do jeito que ele faz. Todas as desculpas de que ele seria bipolar ou algo assim não mudam isso. Nossa reação é, basicamente: vá se f#der.”
A manager destaca que não há apenas uma questão jurídica envolvida. Para ela, “também é uma questão de respeito por outro artista”.
Lançada pelo Black Sabbath no álbum “Paranoid” (1970), a música “Iron Man” credita os quatro integrantes originais da banda como autores: Ozzy, o guitarrista Tony Iommi, o baixista Geezer Butler e o baterista Bill Ward. De acordo com Sharon Osbourne, os quatro precisam concordar para que uma canção do Sabbath seja licenciada para qualquer finalidade. Há ainda um dilema adicional: Ozzy muito provavelmente é o detentor dos direitos da gravação do US Festival de 1983, desejada por West para o sample.
Por fim, Sharon comentou sobre a brincadeira no Halloween mais recente em que ela e Ozzy se fantasiaram de Kanye e sua esposa, Bianca Censori. A manager não se estendeu ao dizer que aquilo foi apenas “uma piada”.
O comentário de Ozzy Osbourne
Por meio de uma publicação no X/Twitter, o vocalista revelou que o rapper pediu autorização para usar um trecho da versão ao vivo de “Iron Man” tocada por Osbourne durante show no US Festival, em 1983. Mesmo com a negativa, o artista — descrito pelo veterano do heavy metal como “antissemita” — resolveu utilizá-la durante o evento.
A canção de West que traz o sample é “Carnival”, uma parceria com Playboy Carti. Um pedaço do riff de guitarra inicial de “Iron Man”, em tom ligeiramente mais agudo, é executado entre duas estrofes. Confira no vídeo abaixo, ou clicando aqui, a partir de 40min58seg.
Ozzy declarou:
“Kanye West pediu permissão para usar como sample um trecho da performance ao vivo de ‘Iron Man’ do US Festival, sem vocais. O pedido foi negado, pois ele é um antissemita e causou desgosto incalculável a várias pessoas. Mesmo assim, ele foi adiante e usou o sample na festa de lançamento de seu álbum na noite passada. Não quero nenhuma associação com este homem!”
Em mensagem anterior, o Madman disse que a canção era “War Pigs” — que não foi tocada por ele durante seu show no US Festival, em 29 de maio de 1983. Depois, ele se corrigiu e apontou que era “Iron Man”.
Kanye West e o antissemitismo
West gerou controvérsia nos últimos anos por posicionamentos considerados antissemitas. No fim de 2022, o rapper foi banido de redes sociais por acusar o colega de profissão Diddy de ser manipulado por judeus (após ser criticado por usar uma camiseta com os escritos “White Lives Matter”) e dizer que iria adotar “death con 3 em relação aos judeus”, uma referência ao termo Defcon (estado de alerta usado pelas Forças Armadas americanas). Também disse “amar” nazistas e Adolf Hitler em uma transmissão ao vivo no site InfoWars.com.
No fim de 2023, voltou a ganhar manchetes por fazer um discurso contra judeus. Além de se comparar a Hitler e a Jesus Cristo, ele disse:
“Eu ainda mantenho alguns judeus perto de mim. Como empresários? Não. Só deixo fazerem minhas joias. […] Eu estava lidando com um advogado de divórcio e expliquei para ele qual era o meu problema. E a resposta dele foi: ‘se você continuar com essa retórica antissemita, você não vai poder ver seus filhos’. Eu não poderia ter uma opinião, ou não poderia ver meus filhos. Vocês sabem com quem estão mexendo? Eu sou um intermediário de Deus.”
Na música “Vultures”, de ¥$ em parceria com Kanye e Bump J, o rapper canta em um trecho: “Como posso ser antissemita? Eu acabei de transar com uma p*ta judia”.
Referências a Varg Vikernes e Burzum
Além dos episódios relatados acima, Kanye West causou surpresa recentemente ao aparecer em uma foto com uma camiseta do Burzum, projeto black metal de Varg Vikernes, músico conhecido por ter assassinado o guitarrista Euronymous (Mayhem) e pelos posicionamentos preconceituosos. O rapper também fez referência à banda na capa de seu novo trabalho, “Vultures”, parceria com Ty Dolla $ign.
A imagem na capa de “Vultures” carrega ainda outra conexão com o nazismo. O registro faz parte de uma paisagem maior criada pelo artista plástico Caspar David Friedrich, um dos favoritos de Adolf Hitler, que chegou a usar suas obras como parte da propaganda nazista nos anos 1930 e 1940. Friedrich, no entanto, viveu entre os séculos 18 e 19.
Vikernes passou 16 anos preso por ter assassinado Euronymous e incendiado 3 igrejas na Noruega. Em anos recentes, ele seguiu se manifestando nas mídias, pregando guerras raciais e nacionalismo extremo, com posturas anti-imigração.
Em 2014, chegou a ser condenado a seis meses de liberdade condicional e pagamento de multa de 8 mil euros por incitar ódio racial contra judeus e muçulmanos em seu blog, Thulean Perspective. Cinco anos depois, teve o seu canal no YouTube removido, no mesmo período em que a plataforma anunciou que intensificaria a retirada de “vídeos que alegam que um grupo é superior para justificar discriminação, segregação ou exclusão”.
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