Baixista do Tesla não gostaria que filhos fossem músicos

Para Brian Wheat, as chances de se dar bem na indústria são cada vez menores, além de inviáveis financeiramente

Brian Wheat, baixista do Tesla, não vê a situação da indústria musical como viável atualmente. O músico entende que a situação é cada vez mais injusta para com os artistas, que não são devidamente pagos, além de explorados pelos mecanismos que comercializam o produto.

O instrumentista concedeu entrevista ao podcast “Words of Power With Joey DeMaio”, conduzido pelo baixista do Manowar. Na ocasião, falou sobre a importância de ser honesto com os aspirantes sobre as diversas facetas de onde estão se metendo.

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Conforme transcrição do Blabbermouth, ele explicou:

“Há muitos nesse meio que apenas alimentam esperanças em pessoas que não conhecem um monte de besteiras. Com as bandas que administro e as pessoas com quem trabalho fora do Tesla, encaro como um emprego. Não preciso pegar seu dinheiro. Não estou fazendo porque quero isso, apenas tenho paixão e gosto de vencer. Eu gosto de pegar algo de um nível inferior e trazê-lo para um nível superior, seja uma banda jovem ou o que quer que seja. Mas existe a realidade, isso é um negócio. Quero dizer, claro, quando todos nós começamos, todos queríamos ter garotas, drogas e tudo mais… Mas isso custa dinheiro. Alguém está pagando e é você, o artista. O último a receber e quem paga por isso.”

Sendo assim, quando alguém se aproxima em busca de uma chance, Brian escolhe não enrolar a pessoa.

“Se um artista de 50 anos entra em contato e diz: ‘Ei, eu quero gravar um disco.’ Respondo: ‘Ok, você sabe o que isso significa. Ninguém vai te dar 300 mil dólares para gravar um disco – nenhuma gravadora vai te dar isso aos 50 anos.’ Eles não dão mais nem para garotos de 20 anos em uma van. São eles que têm que fazer tudo sozinhos agora. Quando começamos era diferente. Fazíamos fitas demo. Hoje, se quiser assinar com uma grande gravadora, precisa ter uma dúzia de mercados onde já esteja tocando, além de vender mil ingressos por conta própria e presença nas redes sociais para que as rádios o toquem. Então, lhe darão centavos e você terá que fazer todo o trabalho.”

Novos e velhos modelos

Para o músico, a ideia de ter uma equipe trabalhando a seu favor simplesmente não existe mais. O próprio admite buscar outras alternativas com os colaboradores.

“Esse modelo está acabado e desgastado. É velho. Não funciona mais. Então, onde posso oferecer algo para algumas pessoas é, tipo, ‘Olha, eu conheço a velha escola, mas esta é a nova escola. Então, se você tem um orçamento e quer fazer isso e realmente quer tentar, eu vou montar uma equipe de rádio para você. Vou montar uma equipe de promoção para você. Isso, aquilo e aquilo outro. Pessoal da gravadora. Você quer fazer um disco? Você não precisa ter algum produtor a 4 mil dólares por dia. Pode ir a um lugar por 800 por dia e fazer o mesmo trabalho.’ Mas as pessoas pensam: ‘Bem, se você colocar essa pessoa com esse nome, posso simplesmente comprar isso.’

Mas o que as pessoas não percebem é o que fizemos na garagem ou quando começamos. Queríamos ser músicos. Aperfeiçoamos nosso ofício. Aprendemos a tocar nossos instrumentos. Aprendemos a escrever músicas. Aprendemos a fazer discos. Isso simplesmente não acontece mais. Você não pode simplesmente comprar isso. E agora com essa coisa de IA, tipo, vamos lá.”

Artistas violentados pelo streaming

Wheat continuou dizendo que se sente mal pelas pessoas que estão apenas começando no mundo da música.

“Se eu tivesse um filho, não gostaria que ele fosse músico. Quando eu comecei ou quando você começou, tínhamos uma pequena chance de darmos certo. Agora, isso é como – como você chama isso? Microscópico, minúsculo. É muito, muito difícil. As pessoas não estão mais comprando música. É só streaming. E esse formato nos violenta.”

Brian criticou o Spotify pelos pagamentos insignificantes que o serviço de streaming de música paga aos detentores dos direitos musicais.

“Se você tiver 500 milhões de streams, digamos que equivale a alguém ouvindo sua música. Quando estávamos no rádio, se tocássemos uma vez na estação, recebíamos 4 centavos. Hoje você ganha 200 milionésimos de centavo. Mas as pessoas ainda estão ouvindo. Então, estamos sendo gravemente agredidos e ninguém quer dizer nada sobre isso ou fazer nada a respeito. Simplesmente se aceita que esta é o novo modo de negócios. As gravadoras estão envolvidas e então você tem o Spotify. Os grandes artistas, tipo Led Zeppelin e Beatles, estão sendo pagos melhor do que você, eu ou o garoto que está começando.

Quando ‘Modern Day Cowboy’, do Tesla, foi lançada, tivemos todo esse airplay. Fomos tocados e houve um salário justo. Agora você não faz isso e as pessoas não estão comprando seu álbum. As vendas de vinil aumentaram? Sim, ótimo. Mas só se você for Taylor Swift, Miley Cyrus ou alguém assim. Hoje um disco de rock vender 150 mil cópias fisicamente é um milagre. Quero dizer, talvez haja uns três artistas que consigam fazer isso.”

Brian Wheat e Tesla

Fundado em 1981 na cidade californiana de Sacramento, o Tesla vendeu em torno de 15 milhões de cópias dos seus discos em todo o planeta. Após ter acabado em 1996, o grupo retomou atividades no ano 2000, permanecendo até hoje.

Além de Brian, dois outros membros da formação clássica seguem na banda: o vocalista Jeff Keith e o guitarrista Frank Hannon. O também guitarrista Dave Rude e o baterista Steve Brown completam o lineup atual.

O último álbum completo de inéditas foi “Shock” (2019). Desde então, o quinteto vem disponibilizando alguns singles de forma avulsa, prática que pretendem manter até segunda ordem.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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