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Steve Burton, o vocalista que quase entrou para o AC/DC em 1980

Teste foi bem aceito, apesar da recusa, e lhe rendeu um emprego ainda relacionado à banda dos irmãos Young, de alguma forma

O AC/DC deu sequência às suas atividades após a morte do vocalista Bon Scott, em fevereiro de 1980, de forma relativamente rápida. Eles trouxeram Brian Johnson e lançaram o álbum “Back in Black” em junho daquele ano — mas, curiosamente, chegaram a testar outro cantor que quase ficou com a vaga.

Uma edição de 2021 da revista britânica Rock Candy Magazine trouxe uma entrevista com esse vocalista. Trata-se de Steve Burton, que residia em Birmingham, na Inglaterra, e trabalhava anteriormente como roadie de várias bandas, como o Judas Priest.

- Advertisement -

Burton foi indicado para a vaga deixada por Scott através de outros dois roadies amigos: Terry Lee e Keith Evans, que trabalhavam para o AC/DC. O vocalista chegou a fazer uma audição, em Londres.

“Eu me dei bem com todos e achei que tinha me saído bem no teste, mas por alguma razão eu não consegui o trabalho, que ficou com Brian Johnson, claro.”

Apesar disso, Steve Burton acredita que seu desempenho no teste não deve ter sido ruim, pois ofereceram outro trabalho para ele.

“Eu devo ter causado uma boa impressão, pois logo depois, me ligaram perguntando se eu teria interesse em trabalhar com o sobrinho de Angus e Malcolm Young (guitarristas do AC/DC), Stevie. Ele estava formando uma banda nova e Malcolm me recomendou.”

Steve Burton, Stevie Young e Starfighters

“Burtie”, como o vocalista era apelidado, montou junto de Stevie Young a banda Starfighters, que logo teve a oportunidade de abrir shows para o AC/DC, na turnê de “Back in Black”. Os irmãos Young deram a maior força para o grupo – Malcolm chegou a trabalhar com eles em uma demo que rendeu um contrato com a gravadora Jive Records.

“Fizemos o último show da turnê no Victoria Apollo Theatre, em Londres. Assim que o AC/DC terminou, Malcolm saiu do palco, se enxugou, colocou uma jaqueta e veio conosco no miniônibus. Fomos até o Morgan Studios em Willesden. Das 23h até 9h da manhã do dia seguinte, gravamos com a ajuda de Malcolm.”

Sequência

O Starfighters chegou a lançar dois álbuns, o homônimo “Starfighters” (1981) e “In-Flight Movie” (1982). Infelizmente, o projeto não seguiu adiante.

“Desisti de tudo pela banda. Você sabe como é. Você está a caminho do estrelato, busca se estabelecer na América. Acabei trabalhando na lanchonete do meu amigo por dois anos fritando hambúrgueres.”

Apesar disso, o vocalista não guarda ressentimentos e não tem ciúmes do sucesso alheio — nem mesmo de Stevie Young, que, após décadas, passou a trabalhar com o AC/DC ocupando a vaga deixada por Malcolm Young, afastado em 2014 e falecido em 2017.

“Você precisa seguir em frente, seja tocando em uma banda ou recolhendo m*rda o dia todo.”

Como Brian Johnson entrou para o AC/DC

Brian Johnson foi o encarregado de substituir o falecido Bon Scott no AC/DC a partir de 1980. A história de sua entrada na banda envolve seu antecessor, além de uma inesperada crise de apendicite.

De forma bem improvável, Scott assistiu a uma apresentação do Geordie, banda onde Johnson cantava na década de 1970, e ficou bastante impressionado com a performance do vocalista – que estava, na verdade, doente. Foi por conta dessa performance que o AC/DC ficou sabendo do carismático cantor.

Em entrevista de 2011 ao New York Post, Brian disse que Bon era um grande fã de seu trabalho. Os dois chegaram a compartilhar palcos no início da década de 1970.

Um dia, o então vocalista do AC/DC foi a um show do Geordie e se surpreendeu com a performance de Brian, ainda que pelos motivos errados: uma crise de apendicite.

Na época, obviamente, Johnson não era cotado para se juntar ao grupo. Todavia, de forma inevitável, seu nome foi lembrado pelos músicos remanescentes do AC/DC após a morte de Scott.

De acordo com Brian:

“Eu tive um caso terrível de apendicite em um show e caí de lado, chutando e fazendo ‘ooh!’, mas continuei cantando. Aparentemente, ele falou aos caras quando entrou no AC/DC: ‘eu vi esse cara, Brian Johnson, cantando, e ele foi ótimo, ele estava no chão, chutando e gritando – que performance!’. Claro que não era uma performance, eu estava realmente doente.”

O guitarrista Angus Young, por sua vez, comentou:

“Lembro de Bon tocar Little Richard para mim e contar uma história de quando viu um show de Brian cantando (com o Geordie). Ele diz que aquele cara estava lá, gritando tudo o que seus pulmões conseguiam, e logo em seguida caiu no chão, rolando e gritando. No fim, como uma espécie de bis, a banda teve que arrancar o cara de lá.”

Em um vídeo publicado em seu canal no YouTube, Brian Johnson detalhou a história sobre como acabou indo parar no AC/DC após a morte de Bon Scott. Tudo começou com uma estranha ligação de uma mulher, com sotaque alemão, oferecendo a ele uma audição em Londres. Johnson relutou em aceitar, conforme o próprio se recorda:

“Eu disse: ‘eles são uma grande banda, mas eu tenho 32 anos e passei do meu prazo de validade, eles não vão ter interesse, será uma viagem perdida.”

Quando foi chamado para o AC/DC, Brian Johnson já tinha 32 anos e estava desiludido com o fracasso do Geordie. No fim da década de 1970, ele se mudou para a casa dos pais, em Gateshead, na Inglaterra, e abriu uma oficina de pequenos reparos em carros, sua outra paixão.

O cantor, claro, não estava 100% afastado da música. Ele havia montado uma espécie de Geordie 2, uma nova versão de sua banda, e tocava em bares locais. Nada com o glamour de outros tempos. A ocupação principal era a oficina, já que ele sustentava a esposa, Carol, e as duas filhas, Joanne e Kala.

Aproveitando um trabalho de gravação de um comercial de aspirador de pó que também ocorreria em Londres, Johnson acabou indo fazer o teste com a banda. Confira a propaganda, cujo jingle foi gravado no mesmo dia da audição com o AC/DC:

Malcolm Young, no livro “AC/DC: A Biografia”, relembrou o dia do teste:

“Estávamos esperando enquanto pensávamos: ‘Cadê esse tal de Brian? Ele deveria estar aqui há uma hora’. ‘Oh, ele? Ele está lá embaixo jogando sinuca com os roadies’. Pensamos: bem, pelo menos ele joga sinuca.”

A audição envolveu músicas como “Whole Lotta Rosie” e “Nutbush City Limits” (Ike and Tina Turner). Malcolm destacou:

“Ele cantou as músicas de forma incrível e colocou um pequeno sorriso em nossos rostos – pela primeira vez desde Bon. Então, começamos a trabalhar com ele.”

Brian, por sua vez, conta que a situação não foi tão simples assim. Eles fizeram audições em dois dias diferentes com ele – que, paralelamente a isso, tinha que continuar com seu negócio automotivo. Só que o “sim” acabou chegando.

À revista Classic Rock, ele comentou:

“Nunca vou esquecer do dia em que fui aceito. Era aniversário do meu pai e eu estava jogando sinuca em um pub. Voltei para casa e não tinha ninguém, meus pais tinham saído. Mal(colm) ligou e disse: ‘temos um álbum para fazer, vamos sair daqui algumas semanas, então, se você quiser…’ Eu falei: ‘o trabalho é meu?’. Ele disse que sim e eu falei que iria desligar, pedindo para que ele me ligasse em 10 minutos para eu ter certeza de que não era trote. Ele concordou, ligou de novo e perguntou se eu iria. Ele ainda não havia dito as palavras! Mal não era assim. Era: ‘você vem ou não?’. Eu comemorei tanto que comprei uma garrafa de uísque para meu pai, de aniversário, e tomei um baita copo. Estava tão empolgado, mas não tinha ninguém para contar a novidade.”

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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Steve Burton, o vocalista que quase entrou para o AC/DC em 1980

Teste foi bem aceito, apesar da recusa, e lhe rendeu um emprego ainda relacionado à banda dos irmãos Young, de alguma forma

O AC/DC deu sequência às suas atividades após a morte do vocalista Bon Scott, em fevereiro de 1980, de forma relativamente rápida. Eles trouxeram Brian Johnson e lançaram o álbum “Back in Black” em junho daquele ano — mas, curiosamente, chegaram a testar outro cantor que quase ficou com a vaga.

Uma edição de 2021 da revista britânica Rock Candy Magazine trouxe uma entrevista com esse vocalista. Trata-se de Steve Burton, que residia em Birmingham, na Inglaterra, e trabalhava anteriormente como roadie de várias bandas, como o Judas Priest.

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Burton foi indicado para a vaga deixada por Scott através de outros dois roadies amigos: Terry Lee e Keith Evans, que trabalhavam para o AC/DC. O vocalista chegou a fazer uma audição, em Londres.

“Eu me dei bem com todos e achei que tinha me saído bem no teste, mas por alguma razão eu não consegui o trabalho, que ficou com Brian Johnson, claro.”

Apesar disso, Steve Burton acredita que seu desempenho no teste não deve ter sido ruim, pois ofereceram outro trabalho para ele.

“Eu devo ter causado uma boa impressão, pois logo depois, me ligaram perguntando se eu teria interesse em trabalhar com o sobrinho de Angus e Malcolm Young (guitarristas do AC/DC), Stevie. Ele estava formando uma banda nova e Malcolm me recomendou.”

Steve Burton, Stevie Young e Starfighters

“Burtie”, como o vocalista era apelidado, montou junto de Stevie Young a banda Starfighters, que logo teve a oportunidade de abrir shows para o AC/DC, na turnê de “Back in Black”. Os irmãos Young deram a maior força para o grupo – Malcolm chegou a trabalhar com eles em uma demo que rendeu um contrato com a gravadora Jive Records.

“Fizemos o último show da turnê no Victoria Apollo Theatre, em Londres. Assim que o AC/DC terminou, Malcolm saiu do palco, se enxugou, colocou uma jaqueta e veio conosco no miniônibus. Fomos até o Morgan Studios em Willesden. Das 23h até 9h da manhã do dia seguinte, gravamos com a ajuda de Malcolm.”

Sequência

O Starfighters chegou a lançar dois álbuns, o homônimo “Starfighters” (1981) e “In-Flight Movie” (1982). Infelizmente, o projeto não seguiu adiante.

“Desisti de tudo pela banda. Você sabe como é. Você está a caminho do estrelato, busca se estabelecer na América. Acabei trabalhando na lanchonete do meu amigo por dois anos fritando hambúrgueres.”

Apesar disso, o vocalista não guarda ressentimentos e não tem ciúmes do sucesso alheio — nem mesmo de Stevie Young, que, após décadas, passou a trabalhar com o AC/DC ocupando a vaga deixada por Malcolm Young, afastado em 2014 e falecido em 2017.

“Você precisa seguir em frente, seja tocando em uma banda ou recolhendo m*rda o dia todo.”

Como Brian Johnson entrou para o AC/DC

Brian Johnson foi o encarregado de substituir o falecido Bon Scott no AC/DC a partir de 1980. A história de sua entrada na banda envolve seu antecessor, além de uma inesperada crise de apendicite.

De forma bem improvável, Scott assistiu a uma apresentação do Geordie, banda onde Johnson cantava na década de 1970, e ficou bastante impressionado com a performance do vocalista – que estava, na verdade, doente. Foi por conta dessa performance que o AC/DC ficou sabendo do carismático cantor.

Em entrevista de 2011 ao New York Post, Brian disse que Bon era um grande fã de seu trabalho. Os dois chegaram a compartilhar palcos no início da década de 1970.

Um dia, o então vocalista do AC/DC foi a um show do Geordie e se surpreendeu com a performance de Brian, ainda que pelos motivos errados: uma crise de apendicite.

Na época, obviamente, Johnson não era cotado para se juntar ao grupo. Todavia, de forma inevitável, seu nome foi lembrado pelos músicos remanescentes do AC/DC após a morte de Scott.

De acordo com Brian:

“Eu tive um caso terrível de apendicite em um show e caí de lado, chutando e fazendo ‘ooh!’, mas continuei cantando. Aparentemente, ele falou aos caras quando entrou no AC/DC: ‘eu vi esse cara, Brian Johnson, cantando, e ele foi ótimo, ele estava no chão, chutando e gritando – que performance!’. Claro que não era uma performance, eu estava realmente doente.”

O guitarrista Angus Young, por sua vez, comentou:

“Lembro de Bon tocar Little Richard para mim e contar uma história de quando viu um show de Brian cantando (com o Geordie). Ele diz que aquele cara estava lá, gritando tudo o que seus pulmões conseguiam, e logo em seguida caiu no chão, rolando e gritando. No fim, como uma espécie de bis, a banda teve que arrancar o cara de lá.”

Em um vídeo publicado em seu canal no YouTube, Brian Johnson detalhou a história sobre como acabou indo parar no AC/DC após a morte de Bon Scott. Tudo começou com uma estranha ligação de uma mulher, com sotaque alemão, oferecendo a ele uma audição em Londres. Johnson relutou em aceitar, conforme o próprio se recorda:

“Eu disse: ‘eles são uma grande banda, mas eu tenho 32 anos e passei do meu prazo de validade, eles não vão ter interesse, será uma viagem perdida.”

Quando foi chamado para o AC/DC, Brian Johnson já tinha 32 anos e estava desiludido com o fracasso do Geordie. No fim da década de 1970, ele se mudou para a casa dos pais, em Gateshead, na Inglaterra, e abriu uma oficina de pequenos reparos em carros, sua outra paixão.

O cantor, claro, não estava 100% afastado da música. Ele havia montado uma espécie de Geordie 2, uma nova versão de sua banda, e tocava em bares locais. Nada com o glamour de outros tempos. A ocupação principal era a oficina, já que ele sustentava a esposa, Carol, e as duas filhas, Joanne e Kala.

Aproveitando um trabalho de gravação de um comercial de aspirador de pó que também ocorreria em Londres, Johnson acabou indo fazer o teste com a banda. Confira a propaganda, cujo jingle foi gravado no mesmo dia da audição com o AC/DC:

Malcolm Young, no livro “AC/DC: A Biografia”, relembrou o dia do teste:

“Estávamos esperando enquanto pensávamos: ‘Cadê esse tal de Brian? Ele deveria estar aqui há uma hora’. ‘Oh, ele? Ele está lá embaixo jogando sinuca com os roadies’. Pensamos: bem, pelo menos ele joga sinuca.”

A audição envolveu músicas como “Whole Lotta Rosie” e “Nutbush City Limits” (Ike and Tina Turner). Malcolm destacou:

“Ele cantou as músicas de forma incrível e colocou um pequeno sorriso em nossos rostos – pela primeira vez desde Bon. Então, começamos a trabalhar com ele.”

Brian, por sua vez, conta que a situação não foi tão simples assim. Eles fizeram audições em dois dias diferentes com ele – que, paralelamente a isso, tinha que continuar com seu negócio automotivo. Só que o “sim” acabou chegando.

À revista Classic Rock, ele comentou:

“Nunca vou esquecer do dia em que fui aceito. Era aniversário do meu pai e eu estava jogando sinuca em um pub. Voltei para casa e não tinha ninguém, meus pais tinham saído. Mal(colm) ligou e disse: ‘temos um álbum para fazer, vamos sair daqui algumas semanas, então, se você quiser…’ Eu falei: ‘o trabalho é meu?’. Ele disse que sim e eu falei que iria desligar, pedindo para que ele me ligasse em 10 minutos para eu ter certeza de que não era trote. Ele concordou, ligou de novo e perguntou se eu iria. Ele ainda não havia dito as palavras! Mal não era assim. Era: ‘você vem ou não?’. Eu comemorei tanto que comprei uma garrafa de uísque para meu pai, de aniversário, e tomei um baita copo. Estava tão empolgado, mas não tinha ninguém para contar a novidade.”

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Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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